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Ensaios-->Freud x Nélson Rodrigues -- 26/04/2001 - 06:17 (Georgina Albuquerque) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

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Estréia de "Vestido de Noiva", ano de 1943. A direção foi entregue a Ziembinski. Nélson Rodrigues assistiu à peça de costas para o palco. Ao final do espetáculo, platéia impactada, alguém pôs-se a aplaudir e, paulatinamente, a tímida manifestação transformou-se em calorosa saraivada de palmas. Após a conclusão de uma obra, há sempre hesitação ou ansiedade quando de sua apresentação para a apreciação pública. Isso torna-se acentuado nas abordagens temáticas relacionadas à profundeza humana. O "Álbum de Família", outro forte "incômodo" rodrigueano, estreou três anos após, dessa vez desnudando o indivíduo meio ao seio familiar. Escrita em 1945, a peça mítica de Nélson Rodrigues foi censurada por vários anos, até a sua liberação por Raphael de Almeida Magalhães.

De acordo com a Psicanálise, a repressão dos anseios mais primitivos do homem decorre das regras do jogo social. Em "Totem e Tabu" (1912- 1913), Freud referiu-se justamente ao controle social dos impulsos, levando-nos à constatação de que o homem jamais internalizaria completamente a interdição. Surge daí a necessidade de o grupo social criar um sistema interno que garanta sua ordem, a despeito do conflito existente entre duas grandes forças: o desejo de violação das normas instituídas e o recalque das mesmas, provenientes das imposições sociais. O interesse de Freud pela Antropologia, assim como pela inter-relação civilização e repressão dos instintos, veio a representar um grande avanço na compreensão da natureza humana.
 

No "Álbum de Família", emergem os recônditos impulsos do sujeito, dentre eles, o incestuoso. Em seu roteiro, Nélson Rodrigues não abandona a abordagem moralizadora, ao contrário do que possa aparentar uma visão superficial equivocada. Prova disso é o drástico final que recai sobre os desejos descontrolados da família concebida pelo autor. Após matar o marido, a mãe vai ao encontro de seu filho Nonô, com quem havia se relacionado sexualmente no passado, passagem essa que o teria levado à locura.

Dentre os vários costumes primitivos descritos em "Totem e Tabu", extraímos aqui um deles. Diz Freud: "- A reserva entre o filho e a mãe aumenta à medida em que o filho cresce, muito maior da parte dela do que da dele. Se a mãe lhe traz comida, não a entrega diretamente, colocando-a no chão para que ele a apanhe". Deixando de lado as críticas dos antropólogos à referida obra de Freud, é fácil compreender a existência de um desejo e um contra-desejo simultâneos, funcionando em direções opostas.

Ainda na referida obra de Nélson, percebemos essa vivência conflituosa no personagem Guilherme, filho mais velho do casal Jonas e Senhorinha. Inicialmente, o rapaz desloca o desejo incestuoso que nutria pela mãe em direção à sua irmã Glória. Num segundo momento, ainda mais afligido, retira-se para o seminário. Não tendo, nem mesmo assim, apaziguado sua alma, mutila-se através de uma auto-castração. Persiste, no entanto, a fixação incestuosa e ele acaba por eliminar a irmã, optando em seguida pelo suicídio. Para o autor, a morte teria sido a única forma encontrada para obtenção de um contra-desejo eficaz.

Interessante observar que, em "Álbum de Família", a figura paterna associa-se a um incessante incômodo, configurando-se como o núcleo causador de todo o caos reinante naquela estrutura familiar. Surge daí um misto de sentimentos, tais como: incapacidade, opressão e revolta. Em dado momento, por exemplo, o filho Edmundo fala com Senhorinha: - "Seria tudo melhor se em cada família alguém matasse o pai!"

Voltando à teoria freudiana: "...a imagem que um filho faz do pai é habitualmente investida de poderes excessivos desta espécie e descobre-se que a desconfiança quanto à figura paterna está intimamente ligada à sua admiração por ele. Quando um paranóico transforma a figura de um de seus associados num perseguidor, o eleva à categoria de pai, colocando-o numa posição em que possa culpá-lo por todos os seus infortúnios".

 

No tocante à simbiose incestuosa entre Senhorinha e seu filho Nonô, verifica-se que esta foi a única sobrevivente. Entretanto, considerando-se a semelhança entre o caráter de ruptura interna, decorrente este da insanidade, e a morte, concluimos que, sem a efetivação do recalque, o indivíduo está fadado à desgraça. Dona Senhorinha também parece transpor os limites da sanidade mental quando, no final do texto, diz: "- Nonô me chama - vou para sempre."  E cai na loucura. Triste castigo!...

















 

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