Hoje é teu aniversário. Sem festa, sem presentes nem parabéns.
Ninguem se lembrou ... nenhum de teus filhos naturais, tampouco os milhares
de adotivos. É apenas mais uma data sem importância, como tantas outras.
Pensando bem, não há o que festejar. Passamos o dia de hoje, banhando nossos
corpos em belas praias totalmente poluídas ... por nós mesmos.
Caminhamos por tuas ruas, desviando o olhar de farrapos humanos, estendendo
as mãos em muda súplica ... e nada fazemos. Retiramos de tuas entranhas, por
nós violentada, o alimento que nos sustenta. De tuas matas que desvastamos, só
restam fotos de tua fauna. Saciamos nossa sede em tuas águas outrora puras ... que nós contaminamos. Respiramos teu ar infecto, pesado e denso de fumaça ... que nós produzimos.
Teus filhos te renegam, teus poetas versejam apenas a dor, teus menestréis
cantam somente mágoa e desilusão ... criadas por todos nós.
Um dia, já esquecido por todos, um homem que sequer era teu filho, ousou
descrever-te como uma dádiva divina, a terra prometida.
Desculpe-me, pátria ... desta vez, não fomos expulsos do Paraíso ... Nós o destruímos! ... E não nos resta nem mesmo a dignidade de assumir isto.
Carlili L. Vasconcelos
São Paulo, 22/4/2001
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