Naturalmente
Lílian Maial
Vejo-me híbrida de tantos elementos,
que me confundo em matéria-etérea.
Sou como o rio, correndo,
levando tristezas, lavando, erosiva,
os sedimentos.
Ou como o mar, inconstante e violento,
calmaria e profundezas.
Também sou sol, claro, quente e vital:
faço florescer e me faço deserto.
Melhor dizer-me chuva,
respingos de saudade,
convite ao aconchego,
colada à pele,
escorrendo chances.
Na verdade, eu sou bem terra:
sustento minhas raízes,
fincada, nutro e cavo
minhas próprias fendas.
Talvez seja como as matas:
densas, de um frescor fechado,
escamoteando curas e feridas.
Quem sabe a noite,
disfarçando ausências,
focalizando luas,
amanhecendo estrelas.
Sou mesmo como as 4 estações:
primavero em teus braços,
veraneio em teus lábios,
outono em teus olhos,
inverno aos teus pés
e naturalmente...
... passo. |