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Artigos-->1922: O Ano que Não Terminou -- 13/02/2002 - 18:59 (Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
1922: O Ano Que Não Terminou



Oitenta Anos de uma Semana que Começou em 1917



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Há exatos oitenta anos (17-02-1922) encerravam-se as apresentações da Semana de Arte Moderna no Teatro Municipal de São Paulo. A data que comemoramos em geral é essa, mas podemos dizer que a Semana teve antecedentes muito importantes. Começou bem antes, de certa forma.



A primeira exposição modernista foi realizada por Anita Malfatti, artista recém-chegada de estudos na Europa. Anita resolveu expor seus quadros em São Paulo, e dentre esses quadros estavam A Mulher de Cabelos Verdes e O Homem Amarelo. Nessas obras figurativas existiu um princípio de ruptura com o realismo. Tal ousadia levou o escritor e também pintor – só que realista – Monteiro Lobato a escrever nos jornais um ferino artigo contra a exposição chamado Paranóia ou Mistificação?. Neste artigo, Lobato, que era amigo de Anita, dizia que ela estava sendo ridicularizada pelas costas na sociedade paulistana, e que as obras eram feias, rompendo com as formas clássicas, inspirando a dúvida do título, aplicável ao estado de espírito da pintora. As pinturas constituiriam, ainda, uma mera cópia de modismos europeus . Tal petardo fez com que muitos devolvessem quadros já comprados e deixou a pintora muito sentida.



No entanto, o artigo repercutiu na cidade e trouxe para a exposição os jovens escritores Mário e Oswald de Andrade, que até então não conheciam Anita. Consta que Mário de Andrade chegou numa tarde chuvosa, e ao ver o quadro O Homem Amarelo teve um acesso de riso. Anita Malfatti foi tomar satisfações com o rapaz. Ele apenas se calou e dias depois procurou novamente Anita, trazendo um Soneto ao Homem Amarelo. O que é curioso, pois dá medida da cautela de Mário, que ainda não escrevia em versos livres. O artigo de Monteiro Lobato, então bem sucedido escritor e dono de uma editora, fez com que um grupo de artistas se reunisse para defender a Arte Moderna. Mário de Andrade explicou que Anita pintava uma mulher e sentia nela o verde das esperanças perdidas, daí os cabelos verdes. E o mesmo com o Homem Amarelo: a pintora desejava expressar sentimentos e uma visão interior de mundo enquanto artista, daí imaginar tais formas e cores anticonvencionais. O grupo reunido em torno de Anita passou a conquistar mais e mais adeptos, como por exemplo: Menotti del Picchia e Plínio Salgado, então colunistas do mais importante jornal da época, o Correio Paulistano; Villa-Lobos, brilhante compositor erudito, e até mesmo Graça Aranha, membro da Academia Brasileira de Letras, sendo esta última um verdadeiro bunker passadista. Entre 1917 e 1924, os modernistas venceram praticamente todos os embates com os passadistas, passando depois a conflitar entre si.



Vale a pena notar que, decorridos alguns anos, Monteiro Lobato pareceu ter voltado atrás em sua fúria antimoderna, e sua editora publicou Oswald de Andrade e Brecheret, sendo este último um artista plástico identificado às vanguardas. A grande vítima de Lobato foi Anita Malfatti. Abalada pelo ataque do amigo Lobato, Anita voltou para a Europa e passou a fazer pinturas convencionais. Ao retornar e encontrar a editora de Lobato envolvida com o modernismo, mostrou-se muito chateada e confusa. Nunca perdoou Lobato pelo episódio, mas nunca mais obteve o destaque daquela primeira exposição. Esse episódio é apenas um dos muitos que ficaram pouco conhecidos em meio àquela renovação das artes brasileiras, um momento que, de tão rico e pleno de polêmicas, podemos dizer que até hoje não se esgotou.

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Lúcio Emílio do Espírito Santo Júnior



Mestre em Estudos Literários e professor da UNIPAC em Bom Despacho-MG





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