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Discursos-->Chegamos ou Ultrapassamos os Limites? -- 20/01/2002 - 22:25 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CHEGAMOS OU ULTRAPASSAMOS OS LIMITES?

O que ninguém disse, até agora, sobre as rebeliões ocorridas, nos últimos anos, em várias penitenciárias espalhadas por muitos municípios de São Paulo, e a rigor, pelo resto do país, somados à crescente onde de seqüestros e estupros, de toda ordem, com mortos e feridos, é que a ausência total do poder público, nos três níveis, federal, estaduais e municipais, tem sido a causa principal de todas as disfunções sociais que, infelizmente, graça neste país. Basta olhar para as prioridades deste governo que, sob as mais diferentes justificativas, anda de costas para a população, já no seu segundo mandato, realizando uma política macroeconômica que, em última análise, prioriza a subordinação da economia brasileira às empresas multinacionais e à subserviência ao capital especulativo, aumentando o endividamento externo e comprometendo a própria soberania nacional. Resultado disso tem sido o desmantelamento dos serviços públicos, cujos servidores amargam vários anos de indiferença e de redução de salários, o que reflete na qualidade de serviços essenciais como os de saúde, de educação e, principalmente, de segurança pública que, somados ao desemprego, a inflação, aos juros altos e a onda crescente de escândalos e de corrupção, transformaram os brasileiros numa espécie de estranhos em seus próprios ninhos, agora transformados em cárceres privados.

Enquanto isso, na Holanda, na semana passada, se não me falha a memória, aprovaram a eutanásia, fato que provocou sérias discussões, prós e contras, relacionada, em última análise, com a preocupação que havemos de ter em respeito a dignidade da pessoa humana. Em excelente artigo publicado no Jornal do Brasil, o teólogo e professor emérito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Leonardo Boff, parte do pressuposto de que a morte pertence à vida, e a vida pertence à eternidade, “que é a realização plena das virtualidades da vida”. Assim, do mesmo modo que somos responsáveis pela nossa vida, somos pela nossa morte. O direito a uma vida digna, portanto, guarda sintonia com o direito a uma morte digna. E esse direito, diz o professor, com muita propriedade, “muitas vezes nos é negado pelo fato de sermos obrigados a ficar atrelados a aparelhos e a medicamentos que nos prolongam a vida no sentido meramente vegetativo, (...) o que é insuficiente para a integralidade da vida minimamente humana”. E numa das conclusões, destaca: “Isso implica que o médico fará tudo para curar o paciente e proporcionar os remédios para aliviar-lhe a dor. Não significa que deva recorrer a tratamentos extraordinários para prolongar a vida ou postergar a morte, sobretudo em situações limite”.

E aqui, no Brasil, a eutanásia passa a ser uma questão quase que supérflua, diante da banalidade que se empresta à vida, pela absoluta falta de segurança a que todos somos submetidos. Nossa vida é tão desrespeitada que mata-se por um par de chinelos, por um relógio ou um tênis, ou por nada , só para ver o tombo, como dizem alguns marginais à frente das câmaras de televisão, numa ousadia que deixa dúvidas quanto ao grau de conivência de algumas autoridades.

Invertem-se posições, crenças e valores. Passa-se o tempo. E nada de concreto faz-se sentir ou surtir efeito. A pena de morte já foi decretada, do mesmo modo que o porte de arma foi liberado, e a própria justiça está sendo substituída pelos beneficiários deste “novo” ordenamento jurídico, os marginais, os ladrões, os assassinos, que ditam regras, inclusive dentro das penitenciárias, e sentenciam quem deve morrer e de que maneira.

O combate ao terrorismo, iniciado pelos Estados Unidos da América, parece brincadeira diante dos terrorismos que tomam conta do mundo, especialmente aqui no Brasil.. O tráfico de entorpecentes, de armas e de material bélico, os grupos organizados de criminosos, acobertados pela conivência de algumas “autoridades”, somados ao desumano e improdutivo sistema econômico-financeiro internacional, parecem que vieram para ficar. O assassinato de mais um prefeito, no dia de hoje, foi a gota de água que faltava para derramar do copo a indignação e o chamamento às responsabilidades de quem de direito. Presidente da República, Ministros, Deputados e Senadores, entre outros, é hora de dar um basta nesta INDIFERENÇA para com a nossa vida e a dos nossos semelhantes. Afinal de contas, onde pretendemos chegar com tanta omissão e descaso? Temos medo de que? Até quando iremos deixar nosso povo trabalhador na UTI do desengano, aguardando pela terapia dos marginais e esperando pela eutanásia dos assassinos? “Uma terapia só tem sentido quando se ordena à reabilitação e à restituição das funções essenciais e vitais e não simplesmente a garantir uma vida vegetativa. Importa deixar morrer, o que não é a mesma coisa que fazer morrer”. E nem isso aqui nós ainda temos, posto que ninguém se importa com os que nos fazem morrer, todos os dias, em algum lugar, chorando pela morte de um parente ou de um amigo, ou conhecido, ou deixando chorar alguém, quando nós é que morremos. A bem da verdade, o povo brasileiro, a cada dia que passa, de um certo modo, morre um pouco, antes do tempo.

Domingos Oliveira Medeiros


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