Os psicoterapeutas têm se deparado em sua clínica com a crescente ansiedade de uma grande parte de seus pacientes relacionada aos padrões estéticos vigentes. A maioria feminina deu início a um constrangedor acanhamento perante o avançar paulatino dos homens numa esfera que antes lhes pertencia com relativa exclusividade. Como resultante, esse compartilhar redobrou a sua preocupação com o modelo de beleza atual a ser perseguido, devido ao temor de que o homem cobiçado a rejeite em nome da ausência de desejo libidinoso.
Há casos, entretanto, em que o quadro clínico extrapola as variantes sócio-culturais e a ausência de embasamento ético da mídia apenas contribui (embora com peso esmagador) para o sofrimento psíquico que se instala.
Os psicólogos, temos constatado inúmeros e persistentes casos de Transtorno Dismórfico Corporal e sabemos que, na maioria das vezes, é imprescindível a parceria com o médico psiquiatra, no intuito de resolver o problema, ou, no mínimo, para abreviar o tempo a ser empregado no tratamento do indivíduo. Como neste transtorno ocorre uma preocupação excessiva com algum defeito estético imaginário ou a leitura exagerada de alguma pequena anomalia física, é comum o sujeito querer se enclausurar em casa, sofrendo com isso
prejuízos nas ordens afetiva, social, acadêmica ou profissional.O preconceito popular com relação à clínica médica psiquiátrica constitui um obstáculo para o psicólogo na tarefa de congruência da família en torno do trabalho a ser realizado. É importante que ocorra a exaltação da política multi-disciplinar,ou seja,da união dos saberes técnicos e vivenciais dos profissionais envolvidos,aceleradores do bem-estar físico e emocional.
A bulimia e a anorexia, associadas que são ao T. Dismórfico Corporal levam o indivíduo a carências nutricionais algumas vezes fatais. Na bulimia, a compulsão alimentar se alterna com estados de abstinência, utilizando-se de métodos inadequados para não engordar, como vômitos provocados e laxantes. Nos quadros de anorexia, ocorre a recusa em se alimentar, decorrente da obsessão pela magreza e o pavor da obesidade. Os quadros persistem, com a ausência de uma percepção real das condições corpóreas, ou seja, o sujeito nunca se vê magro o suficiente para abandonar suas práticas usuais.
Enquanto os transtornos já mencionados abarcam em sua maioria as mulheres adolescentes e do início da fase adulta, um outro distúrbio vem acometendo com frequência o sexo masculino. Trata-se da Vigorexia, atualmente denominada extra-oficialmente como Transtorno Dismórfico Muscular. A busca da estética perfeita, constituída por um corpo hipertrofiado e atlético, muitas vezes tem se tornado patológica. O indivíduo desvincula-se de suas atividades ocupacionais e afetivas, desperdiçando a maior parte de seu tempo no levantar de pesos em academias de ginástica, consumindo vitaminas, hormônios e anabolizantes.
Após essa leitura, torna-se de extrema importância destacar a importância dos familiares no processo terapêutico. O momento é propício à reorganização da família no que
toca às suas crenças e sistema político interno. Um empenho sincero e reavaliatório deve ser perseguido, aliado à tentativa de abandono dos estados de acomodação afetiva.
É importante, principalmente para os pais, a tomada de novos papéis na dinâmica conjuntural. Alguns transtornos alimentares, como se sabe, estão muitas vezes ligados à imposição de um intenso padrão de exigência e perfeição. O quadro de bulimia, alternando fases glutônicas e de abstinência, muito provavelmente estão ligados à repressão do prazer por parte das figuras parentais. O prazer vem sempre ligado à culpa e o sujeito tenta, através de vômitos e laxantes, livrar-se do objeto que desejou.
Dada a complexidade do tema, o que importa é o esforço a ser feito pelas várias vertentes, além das áreas de saúde e farmacologia, para o repensar dos valores sociais com base em processos de transformação mais autênticos e sadios.
