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Artigos-->Memórias Reveladas: conheça o terrorismo no Brasil -- 25/04/2011 - 11:02 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



O Globo - 24/4/2011





Linha direta com o terror





Agenda do sargento que morreu no Riocentro revela, após 30 anos, rede de conspiradores do período





Chico Otavio e Alessandra Duarte





Deixar que a bomba explodisse em seu colo não foi o único erro do sargento Guilherme Pereira do Rosário na noite de 30 de abril de 1981, no Riocentro. O "agente Wagner" do Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI I), principal centro de tortura do regime militar no Rio, também levava no bolso uma pequena agenda telefônica, contendo nomes reais, e não codinomes, e respectivos telefones, de militares e civis envolvidos com tortura e espionagem. Quatro deles eram ligados ao "Grupo Secreto", organização paramilitar de direita que desencadeou uma série de atos terroristas na tentativa de deter a abertura política.





Havia ainda nomes-chave da polícia fluminense, como o chefe de gabinete do secretário de Segurança e o chefe da unidade de elite policial da época, o Grupo de Operações Especiais, mais tarde Departamento Geral de Investigações Especiais, setor especializado em explosivos que tinha a responsabilidade de investigar justamente atentados a bomba como os patrocinados pelos bolsões radicais alojados na caserna.





Trinta anos depois do atentado que vitimou o próprio autor e feriu gravemente o então capitão Wilson Machado, O GLOBO localizou a agenda e identificou metade dos 107 nomes e telefones anotados pelo sargento. De oficiais graduados a soldados, de delegados a detetives, Rosário tinha contatos em setores estratégicos, como o Estado-Maior da PM e a chefia de gabinete da Secretaria de Segurança, além de amigos ligados a setores operacionais, como fábrica de armamento e cadastros de trânsito.











Terror de direita usou paraquedistas


A rede formada por esses contatos mostra onde se apoiavam as ações dos insatisfeitos com a abertura. Na segunda metade dos anos 70, o governo Geisel determinou a desmobilização da máquina de torturar e matar nos porões do regime, que mudou de direção, indo da brutalidade para ações de inteligência, com a reestruturação dos DOIs. Descontentes com as mudanças, sargentos como Rosário, sobretudo os paraquedistas arregimentados anos antes pela repressão, transformaram-se em braços operacionais de grupos terroristas de extrema direita. Rosário e sua turma foram buscar na ação clandestina, fora da cadeia de comando, o poder gradativamente perdido.





Recolhida pelo então tenente Divany Carvalho Barros, o "doutor Áureo", também do DOI, pouco depois da explosão, a agenda de Rosário só seria submetida à perícia 19 anos depois, em abril de 2000, no segundo IPM sobre o atentado. Porém, desde que o caso foi arquivado, naquele mesmo ano, o caderninho marrom, do tamanho da palma da uma mão e que trazia em seu cabeçalho a prece "Confio em Deus com todas as forças e peço a Deus que ilumine o meu caminho e toda a minha vida", permanecia esquecido em um envelope, num dos anexos do volumoso processo sobre o caso, no Superior Tribunal Militar (STM).





Para montar a rede do sargento, foi preciso cruzar nomes e números da agenda com catálogos telefônicos da época, e com telefones e endereços atuais, bem como outras fontes de informação. Para entender a rede, a lista de contatos foi dividida em cinco segmentos: integrantes do Grupo Secreto, do qual Rosário era provavelmente ativo protagonista; a comunidade de informações (incluindo militares até hoje envolvidos com arapongagem); agentes da Secretaria estadual de Segurança (polícias Civil e Militar, como integrantes do serviço de inteligência e de grupos de peritos em explosivos); representantes da sociedade civil, como empresas de construção civil e de equipamentos elétricos; além de um sub-reitor da Uerj que consta como tendo auxiliado quadros da repressão; e até meios de comunicação, cujos telefones seriam usados pelos terroristas para a comunicação de atentados.











IPMs ignoraram nomes da agenda


O atentado do Riocentro foi alvo de dois inquéritos policial-militares do Exército. O primeiro, em 1981, foi considerado farsa ao concluir que o sargento e o capitão foram vítimas, e não autores da ação. Já o segundo IPM, provocado pela reabertura do caso em 1999, mudou a versão oficial, comprovando o envolvimento da dupla do DOI, além de um oficial (Freddie Perdigão) e um civil (Hilário Corrales), mas ninguém foi levado a julgamento: o STM entendeu que os autores estavam cobertos pela anistia.





A agenda, porém, nunca foi considerada como pista para o esclarecimento do atentado e da ação dos terroristas do período. Se os investigadores se detivessem nos nomes anotados, teriam descoberto, por exemplo, que o aviador Leuzinger Marques Lima (para Rosário, Léo Asa) , um dos nomes do Grupo Secreto, participara da Revolta de Aragarças, contra o governo JK, ainda nos anos 50. No episódio, Léo Asa envolveu-se no sequestro de um avião da Panair e planejou com outros revoltosos jogar bombas nos palácios das Laranjeiras e do Catete.





Outro do Grupo Secreto no caderno de Rosário era o general Camilo Borges de Castro, cujo telefone pessoal reforça a tese de que o terror agia fora da cadeia de comando, sem respeitar a hierarquia. Castro era amigo do marceneiro Hilário Corrales, civil que integrava o grupo e que teria montado a bomba que colocaria Rosário na História política do país. O irmão de Hilário, Gilberto Corrales, também teve o nome anotado na agenda.





O coronel do Exército Freddie Perdigão Pereira foi o quarto nome do Grupo Secreto encontrado no caderno de Rosário. Apontado pelo projeto Brasil Nunca Mais como notório torturador, era o "dr. Nagib" do DOI I e da "Casa da Morte", em Petrópolis. Na época do Riocentro, estava na Agência Rio do SNI. O general Newton Cruz, chefe da Agência Central do órgão, chegou a admitir que Perdigão lhe falou do atentado antes de ele ocorrer.





Da Secretaria de Segurança, havia integrantes das polícias Militar e Civil com algum tipo de relação com o atentado. Um dos PMs na agenda, o segundo-tenente José Armindo Nazário, trabalhava no Estado-Maior da PM - justamente a unidade que deu ordem para suspender o patrulhamento no Riocentro na noite do atentado. Nazário também era ligado à inteligência da PM, a P-2. Em 69, foi designado pelo general Emílio Médici, então chefe do SNI, para servir em Brasília; em 73, foi para a divisão de Segurança e Informações do Ministério da Justiça.





Outro nome do caderninho é o do coronel da PM Hamilton Dorta, ex-sargento do Exército e chefe da P-2 de vários batalhões da PM nos anos 1970. De 1978 a 1981, ele foi subdiretor de segurança externa da Secretaria de Justiça, cargo ligado ao Desipe, no qual cuidava da inteligência de movimentações de presos comuns e políticos, e também da segurança de presídios, para evitar, por exemplo, ações de resgate. O telefone associado a Dorta na agenda pertencia ao Departamento Penitenciário da época.





Da Polícia Civil, um dos nomes identificados é o do delegado Sérgio Farjalla. Ex-instrutor de tiro da Academia de Polícia, ele também foi ligado à Delegacia de Polícia Política e Social (DPPS), órgão que investigava atentados a bomba na época. Mais tarde, Farjalla se tornaria um dos primeiros especialistas em efeitos especiais do país e abriria uma empresa especializada.





A agenda registra ainda o telefone de "Solange Tavares - esposa dr. Ilo". A advogada Solange era mulher do delegado Ilo Salgado Bastos, chefe de gabinete do secretário de Segurança nos anos 80 - na época, o secretário era Olavo de Lima Rangel, ex-Dops. Nessa função, Ilo, ex-Dops, ex-DPPS e próximo de alguns dos "Doze Homens de Ouro" da polícia, coordenava todas as delegacias distritais do Rio. Na secretaria, era um dos poucos a ter uma espécie de "telefone vermelho", um aparelho sem discador, só para receber ligações diretas do secretário.





A maioria das pessoas que constavam da agenda e que foram contactadas pela reportagem disse não se lembrar do sargento, mas não soube explicar por que seu nome estava na agenda.


 





 





 



























De datilógrafo a um dos ‘principais agentes operativos do Grupo Secreto’






Sun, 24 Apr 2011 07:19:05 -0300










 





Sargento Guilherme do Rosário teria participado do atentado contra a OAB





Alessandra Duarte e Chico Otavio





 





A habilidade com a datilografia, aliada ao preparo físico, abriu as masmorras do regime ao sargento Guilherme Pereira do Rosário. Soldado lotado na burocracia da Companhia de Petrechos Pesados da Brigada Paraquedista, na primeira metade dos anos 1960, ele acumulou elogios e prestígio por ser “obrigado quase continuamente a trabalhar fora da hora do expediente e sem dias de descanso, com máquinas de escrever emprestadas”, como diz a sua folha de assentamentos, o histórico militar.





Cabelos castanhos médios e crespos, 1,78 metro, como o Exército o descreveu, Rosário serviu na Brigada de fevereiro de 1964 a outubro de 1972, sendo transferido para o Destacamento de Operações de Informações do 1º Exército (DOI I) na condição de sargento (onde ficaria até a sua morte, aos 35 anos, em 1981). Porém, antes mesmo da mudança de unidade, já atuava na repressão, como escrivão de inquéritos políticos (era considerado exímio datilógrafo) e integrante de equipes que “estouravam” aparelhos.





Em 1970, foi convidado para ser escrivão de um inquérito (IPM), como auxiliar da 2ª Seção (Informações) da Brigada. Boletim interno de setembro daquele ano registra que, recrutado para integrar a equipe que estouraria “um aparelho subversivo” no interior do estado, Rosário teria sofrido um acidente da carro no caminho. Um fusca do grupo se chocou com um caminhão na estrada, ferindo o motorista, sargento Albano Affonso Baptista, e Rosário. “Mesmo ensanguentado, Guilherme preocupou-se com o cumprimento da missão”, escreveria depois o chefe da missão.





Na época da transferência, Rosário era um destacado agente operativo das equipes de busca e apreensão, as EBAs, embriões dos DOIs. A confiança do regime no sargento era tanta que nem mesmo a condenação de Rosário a seis meses de cadeia, pela 19ª Vara Cível de capital, por uma dívida não paga, abortou a ascensão do militar nos porões do regime. Logo depois, em 1975, ganharia a Medalha do Pacificador, honraria concedida pelos generais a torturadores e outros agentes da repressão.





Rosário soube retribuir a confiança. Não se abateu nem mesmo quando, em 1971, perdeu a filha de um ano. Atuar em “prisões que poderiam necessitar do uso da força”, sua especialidade inicial, era pouco para ele. Como integrante da Seção de Operações Especiais, escolado no beabá da repressão, quis desenvolver excelência em outras áreas da guerra à subversão — no ano em que morreu, por exemplo, fazia curso de analista de informações na Escola Nacional de Informações (EsNI).





Sua maior aposta, contudo, foi adquirir expertise em explosivos. Em depoimento ao IPM do Riocentro, em 1999, o-sargento da PM Joaquim de Lima Barreto, ex-DOI, da primeira equipe a fazer perícia no Puma, revelou que Rosário possuía “conhecimentos profundos” sobre bombas.





Joaquim, que trabalhava no Serviços de Recursos Especiais do Departamento Geral de Investigações Especiais da Polícia Civil, recordou-se que Guilherme esteve lá por duas ocasiões, “e que nestas ocasiões (em fevereiro ou março de 1981) o assunto era bombas, granadas, dispositivos sofisticados que tivessem recolhidos pelo seu serviço, sempre com o intuito do sargento de aumentar o seu conhecimento”.





A essa altura, Rosário já figurava como um quadro de grupos terroristas cevados pelo regime. Em depoimento ao livro “A direita explosiva no Brasil”, Gilberto Corrales (nome da agenda do sargento e irmão do marceneiro Hilário Corrales, artesão das bombas do “Grupo Secreto”), declarou que, se havia dúvidas sobre a participação de Ronald Watters na morte de Lyda Monteiro, secretária da OAB, no atentado à entidade em 1980, ”não existiam dúvidas sobre a atuação do sargento. De acordo com o livro, “era um dos principais agentes operativos do Grupo Secreto”.





Naquele ano, Rosário se envolvera num acidente doméstico suspeito, quando um botijão de gás explodiu em sua própria cozinha, queimando-lhe o peito e o rosto. Ao que parece, Rosário foi se meter a “sapador”, expressão utilizada nos quartéis para os militares que entediam de explosivos. Mas, como conta o capitão da PM Lindomar Cardeal, que serviu com ele na Brigada Paraquedista, “no quartel a gente ouvia a seguinte frase: ‘o sapador só erra uma vez’”.







 





 





 



























Na agenda, os experts em explosivos da época






Sun, 24 Apr 2011 07:19:24 -0300










 








DGIE, frequentado pelo sargento Rosário, era justamente o órgão da polícia que investigava os atentados a bomba





Alessandra Duarte e Chico Otavio





 





Foi olhar nos jornais de 1981 a foto do sargento da PM Joaquim de Lima Barreto ao lado do Puma destroçado no Riocentro, e o coronel da PM Paulo César Amêndola reconheceu:





- Era o Barreto! Ele era do antigo Goesp. Aí eu soube que o nosso pessoal é que estava fazendo a perícia desse caso. O antigo Goesp, ou Grupo de Operações Especiais, na época já se chamava DGIE, ou Departamento Geral de Investigações Especiais, órgão da Secretaria estadual de Segurança que cuidava da perícia dos atentados a bomba tão comuns naquele início de abertura. E era o DGIE que o sargento Guilherme Pereira do Rosário tinha frequentado no início de 81, segundo depoimento dado pelo próprio Barreto num dos inquéritos do caso. O mesmo grupo que investigava atentados a bomba tinha ligações com quem participava deles.





Também eram do antigo Goesp dois nomes anotados por Guilherme do Rosário em sua agenda: José Paulo Boneschi e o próprio coronel Amêndola. Coronel da reser va, Amêndola diz não se lembrar de ter conhecido Rosário, ou o “agente Wagner”, codinome do sargento. Mas ele dá algumas pistas de como pode ter ocorrido a aproximação do sargento Rosário de pessoas do DGIE, ainda no início da formação do órgão:





- O Goesp foi formado nos anos 70 (pelo então secretário de Segurança, general Luís de França), para ser a elite da polícia. Ele teve só três turmas de formação, eu fui da segunda, em 70; a última foi em 72. Era uma unidade formada por PMs, policiais civis, bombeiros, corpo de salvamento. Pegaram gente que se destacava nesses grupos, e colocaram para treinar e fazer cursos na Brigada Paraquedista.





Era da Brigada Paraquedista que o sargento Rosário vinha. E ele já servia na brigada quando, nos anos 70, turmas de PMs da Secretaria de Segurança foram fazer treinamento com os paraquedistas, segundo lembra Lindomar Cardeal, então sargento paraquedista que servia com Rosário na época e era amigo dele. Cardeal, que chegou a participar como monitor de parte desse treinamento dos policiais, também está na agenda.





Após a formação das turmas, o Goesp começou a atuar sob a chefia do inspetor José Paulo Boneschi - outro anotado no caderninho de Rosário. Já falecido, Boneschi foi chefe de interrogadores no DOI-I e consta das listas de torturadores da repressão. No livro “Tirando o capuz”, Álvaro Caldas, torturado por ele, chega a descrever o inspetor como asséptico, sempre de roupa branca e limpa, e usando cabelo escovinha. Boneschi comandava “a entrada e a saída das equipes de busca, centralizando as informações que chegavam da tortura”, narra Caldas no livro.





 





Conhecimento também sobre bombas caseiras





Expertise obtida com empresas de construção e manuais da ALN





Nos anos 70, o Goesp foi gradativamente se tornando o grupo especialista em bombas da Secretaria de Segurança, a ponto de a unidade ter sido a precursora do atual Esquadrão Anti-Bombas. A expertise foi adquirida, por exemplo, com idas a empresas de construção civil e consultas a manuais de grupos ditos subversivos, como a ALN.





- Dentro do Goesp, éramos três a conhecer bem a área de explosivos: eu, Maulaz e Teobaldo - diz Amêndola, referindo-se a Carlos Alberto Maulaz, que mais tarde se tornaria um dos nomes de referência do Esquadrão Anti-Bombas, e Teobaldo Lisboa, ex-DOI, conhecido como um dos principais torturadores da repressão. - Li manuais do Exército, mas o Exército, na época, só conhecia explosivos militares mesmo, não os caseiros. Então, fomos conhecer os explosivos da indústria civil. O Teobaldo foi comigo em empresa de construção. E estudamos nos manuais da ALN, que havia no gabinete do secretário.





O Goesp, mais tarde Serviço de Recursos Especiais e em seguida DGIE, não era subordinado às Forças Armadas, diz Amêndola, mas apoiava suas missões. Uma delas foi a prisão de César Benjamin, na época um dos mais ativos integrantes do MR-8 de Carlos Lamarca:





- Fomos colocados num Hércules sem saber para onde estávamos indo. Envelope fechado na mão do piloto. Descemos na Bahia, e a missão era: capturar um rapaz que ia passar por uma praça de Salvador, que estava armado e levando dinheiro para o Lamarca. Era o César Benjamin.





Só na primeira metade dos anos 80, o DGIE foi responsável por investigar pelo menos 13 episódios de atentado a bomba. Em julho de 80, o órgão chegou a abrir uma sindicância para apurar apenas os atentados em bancas de jornal.





Em 27 de agosto daquele ano, quando uma carta-bomba explodiu na OAB e matou a secretária Lyda Monteiro, foi uma turma especializada do DGIE que chegou para inspecionar o local. Naquele mesmo dia, o órgão estava, ainda, na investigação das bombas que explodiram na Câmara de Vereadores e no jornal “Tribuna Operária”. O DGIE investigou, ainda, a desativação de uma bomba-relógio no escritório do advogado Sobral Pinto; a carta-bomba que quase explodiu na Sunab; e a bomba-relógio encontrada no Hotel Everest no dia em que lá estava hospedado Leonel Brizola.





Além do DGIE, a Delegacia de Polícia Política e Social (DPPS) - órgão ao qual estavam ligados outros nomes da agenda do sargento - também apurava os atentados a bomba da época, como, por exemplo, a explosão de uma bomba numa igreja em Nova Iguaçu em 1979, assumida pela Vanguarda de Caça aos Comunistas. Na época, a DPPS chegou a afirmar que “os atentados contra a OAB, a Câmara, a Sunab e as bancas de jornais estão sendo coordenados pela Vanguarda”.







 





 





 





 



























Grupo alemão planejou sequestrar brasileiros






Sun, 24 Apr 2011 07:19:46 -0300










 





Relatório da Aeronáutica, mantido em segredo por mais de três décadas, mostra que empresários estavam na mira





Jailton de Carvalho





 





BRASÍLIA. O Baader-Meinhof, o mais radical grupo da extrema esquerda alemã na década de 70, planejou sequestrar empresários no Brasil. A informação consta de um relatório confidencial produzido pelo serviço de inteligência da Aeronáutica durante a ditadura militar. O documento, mantido em segredo por mais de três décadas, faz parte de um acervo de 50 mil textos e fotos que o Arquivo Nacional, de Brasília, franqueou ao público semana passada.





Os papéis mostram que a ditadura brasileira estava preocupada não apenas com os inimigos internos. O governo dos generais estava de olho também em possíveis conexões da esquerda brasileira com guerrilheiros do exterior, entre eles o Baader.





Pelo relatório, o Baader-Meinhof planejou sequestrar dirigentes da Daimler-Benz, Volkswagen e Basf no Brasil e levá-los, depois, para a Argélia. A ideia era trocar os sequestrados por militantes do Baader que estavam presos na Alemanha. Os líderes do Baader acreditavam piamente que a operação poderia dar certo, nem que para isso tivessem que matar alguns dos sequestrados.





“Não se recuaria da liquidação parcial de reféns, como reforço da exigência de libertação dos elementos presos”, diz o relatório, elaborado pela Aeronáutica em 11 de junho de 74.





Segundo o documento, os sequestros contariam com a ajuda dos Tupamaros, o mais forte grupo de guerrilha urbana do Uruguai. Os Tupamaros estaria até “treinando” os militantes do Baader para as operações na América do Sul.





“Esses planos (de sequestros) deverão ter início após a abertura dos processos contra os membros (do Baader) detidos”, avisa informe intitulado “Quadrilha Baader-Meinhof — Atividades Terroristas” da Aeronáutica distribuído entre os órgãos de inteligência vinculados ao Serviço Nacional de Informações, o extinto SNI. O relatório tem como fonte “serviço de inteligência de país amigo”.





O Baader, chefiado por Andreas Baader e Ulrike Meinhof, foi um dos principais grupos da extrema esquerda europeia. Militantes do grupo estariam por trás de pelo menos 30 atentados ao longo dos anos 60 e 70. Numa das primeiras ações de impacto, o grupo ateou fogo numa loja de departamento em Frankfurt.





Numa das ações mais ousadas, em 1977, militantes do Baader e da Frente para Libertação da Palestina sequestraram um Boeing 737, da Lufthansa, com mais de 90 pessoas a bordo. O avião, que saiu de Palma de Maiorca com destino a Frankfurt, foi levado para Mogadíscio. Os sequestradores queriam como resgate a libertação dos líderes Andreas Baader e Ulrike, entre outros, que já estavam presos.





Mas, depois de quatro dias de negociações, os sequestradores foram assassinados. Os principais líderes do grupo morreram na prisão, logo depois do fracasso do sequestro. A polícia alemã diz que cometeram suicídio coletivo. Mas, para militantes de esquerda, eles teriam sido executados por vingança.







 








 



























Chefes do Baader tinham carisma de pop stars






Sun, 24 Apr 2011 07:20:23 -0300










 





Grupo conquistou adeptos entre jovens estudantes dos anos 70





 





BRASÍLIA. O Baader-Meinhof, batizado oficialmente de Fração do Exército Vermelho, foi tema do filme “O Grupo Baader”, que disputou o Oscar de melhor produção estrangeira, em 2009. Intelectuais de classe média, os chefes do Baader tinham carisma típico de líderes de bandas de rock. A diferença é que, em vez de guitarras, empunhavam armas. E os discursos virulentos contra o Estado não eram mera retórica. O grupo esteve várias vezes em frente de combate com as forças de segurança alemã.





O Baader conquistou adeptos sobretudo entre jovens estudantes ao longo dos anos 70 e 80. A banda brasileira Legião Urbana tem até uma música com o nome do grupo, Baader Meinhof Blues.





Entre os papéis secretos da Aeronáutica estão também relatórios sobre o Exército Vermelho Japonês, os Tupamaros e o guerrilheiro Ernesto Che Guevara, entre outros. Naquele período, influenciados por Guevara e pelo jornalista francês Regis Debray, explodiam movimentos guerrilheiros na América Latina, na Europa e até na Ásia.





Documentos foram entregues no ano passado





A Força Aérea Brasileira entregou os documentos ao Arquivo Nacional no ano passado a partir de uma ordem expedida pela presidente Dilma Rousseff, em 2006, quando ela ainda era a chefe da Casa Civil. A ordem foi transmitida a todas as estrutura do governo federal. Mas até o momento, ministérios e estatais que abrigaram núcleos de espionagem da ditadura ainda não atenderam as recomendações da presidente.





A supervisora do Arquivo Nacional em Brasília, Vivien Ishaq, cobra a entrega dos registros não só da Marinha e do Exército, mas também dos ministérios da Educação e de Minas e Energia, entre outros. Segundo ela, no Ministério da Educação poderiam ser encontrados relatos sobre a repressão a professores e estudantes. Nas universidades estavam boa parte dos focos de resistência a ditadura.





— Muita gente foi perseguida nas universidades. É importante reconstituir essa história — afirma Vivien.





No Ministério de Minas e Energia estariam registros sobre a atuação da ditadura contra os petroleiros. Os sindicatos dos petroleiros eram, naquele período, uma das organizações operárias mais fortes no choques com a repressão.





Segundo Vivien, ministérios e estatais dizem que não repassaram os documentos porque não acharam os papéis relacionados à ditadura.





A assessoria de imprensa do Ministério da Educação informou que, a partir desta segunda-feira, auxiliares do ministro Fernando Haddad farão buscas para tentar localizar os supostos registros da ditadura que estariam no arquivo central da instituição. A assessoria do Ministério de Minas e Energia não retornou as ligações do GLOBO.





 





 



























EUA queriam rever negócios com Brasil para ajudar a depor Jango






Sun, 24 Apr 2011 07:26:14 -0300










 





Três dias antes do golpe, Casa Branca pediu orientação sobre quais medidas deveria tomar





Governo questionava embaixador se deveria "segurar a aprovação" de empréstimos para enfraquecer presidente





FELIPE SELIGMAN





DE BRASÍLIA





ANDREA MURTA





DE WASHINGTON





 





Em apoio ao golpe de 1964, a Casa Branca estava decidida a rever as relações econômicas com o Brasil para enfraquecer o governo do presidente João Goulart.





A informação consta de documentos secretos liberados pelo governo norte-americano e obtidos pela Folha.





Os papéis relatam uma reunião na Casa Branca em 28 de março de 1964, três dias antes do golpe, com conselheiros diretos do presidente Lyndon Johnson e agentes de alto escalão da CIA.





Esse encontro ocorreu após o recebimento de mensagem do então embaixador dos EUA no Brasil, Lincoln Gordon, com detalhes e pedidos para possível participação norte-americana no golpe para derrubar Jango.





Essa participação ficou conhecida como "Operação Brother Sam": o governo dos EUA discutiu a possibilidade de enviar navios, combustíveis e armamentos para auxiliar os militares golpistas.





Novos documentos mostram que os planos dos EUA não tratavam só de apoio militar. Um dos textos, que resume a reunião do dia 28, diz que a Casa Branca deveria telegrafar a Gordon: "Queremos que o embaixador reveja nossas relações econômicas e financeiras com o Brasil e nos recomende quais ações devemos tomar".





No mesmo dia, esse telegrama é enviado ao Brasil e fala em medidas concretas, como abandonar ou modificar negociação sobre a dívida brasileira e repensar as taxas de importação de café.





A Casa Branca questiona se deveria "abandonar, reduzir ou modificar de alguma forma a estratégia de negociação da dívida para evitar fortalecer o prestígio de Goulart". E mais: "Devemos segurar a aprovação ou o anúncio de empréstimos assistenciais? Outras medidas não militares são desejáveis para polarizar mais a situação em detrimento de Goulart?"





Gordon pediu o envio de armas sem identificação serial ou fabricadas fora dos EUA. A Casa Branca, porém, viu dificuldades em fornecer armamento "que não fosse depois atribuído a uma operação secreta dos EUA".





Um dos memorandos do Estado-Maior americano, datado de 31 de março, detalha ordens de envio de força-tarefa naval para a região de Santos para "estabelecer presença dos EUA nesta área".





Também neste caso aparece a preocupação de não expor os EUA: "Não sabemos se podemos oferecer disfarce plausível para a força naval".





As medidas não chegaram a ser executadas, porque Jango não resistiu ao golpe.







 





 



























Governo buscou o apoio do "New York Times" ao golpe






Sun, 24 Apr 2011 07:26:31 -0300










 





DE WASHINGTON





DE BRASÍLIA





 





A Casa Branca tentou fazer com que os maiores jornais americanos publicassem textos críticos a João Goulart e favoráveis aos militares antes do golpe de 1964.





Memorando que resume reunião de integrantes do governo Lyndon Johnson em 28 de março de 1964 mostra intenção de pedir ao "New York Times" e ao "Washington Post" apoio à saída de Jango em "editoriais satisfatórios, chamando a atenção para a situação no Brasil".





Temia-se, porém, o risco de os jornais não seguirem a linha desejada: "Isso teria de ser gerenciado com cuidado, pois o editorial poderia facilmente sair insatisfatório".





A estratégia é comum nos EUA e foi usada pelo então presidente George W. Bush (2001-2009) para obter apoio à Guerra do Iraque. Boa parte dos jornais fez posteriormente mea-culpa por ter cedido à pressão da Casa Branca.





Em 1964, o plano só funcionou em parte. Instados ou não pelo governo americano, os jornais criticaram Jango. Em 3 de abril, o "New York Times" publicou editorial dizendo que "Goulart era um general sem regimento" e, no dia 7, que sua gestão era ruim de todos os pontos de vista.





O "Post" disse em 3 de abril que Jango era um oportunista errático "com poucos talentos". Mas eles também criticaram os golpistas.





"A impressão é que, para defender o país da subversão totalitária, os novos governantes estão usando métodos totalitários", escreveu o "Post". "A saída [de Jango], ainda que desejável, não precisa e não deve levar a uma ditadura", afirmou o "NYT".





Consultado sobre a pressão da Casa Branca em 1964, o "New York Times" disse não ter dados tão antigos, mas que seu "conselho editorial se reúne com integrantes de governos do mundo todo há mais de cem anos".





ANDREA MURTA e FELIPE SELIGMAN







 





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