Usina de Letras
Usina de Letras
297 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62169 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50575)

Humor (20028)

Infantil (5423)

Infanto Juvenil (4755)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6182)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->O MITO DO LOBISOMEM -- 26/10/2000 - 10:50 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



O MITO DO LOBISOMEM COMO FORMA DE LITERATURA FANTÁSTICA EM 'FOGO MORTO' DE JOSÉ LINS DO REGO


João Ferreira
26 de outubro de 2000



1. Origem e natureza do mito

A presença do mito do lobisomem no romance de 'Fogo Morto' (1945) de José Lins do Rego encaixa-se na narrativa do fantástico e prende-se ao mundo da literatura oral brasileira. Pesquisado em sua origem, sabemos que esse mito, que toca as raias do fantástico, é um mito muito antigo, de raízes proximamente européias. E chegou ao Brasil através da literatura oral portuguesa, em tempos coloniais. Vamos lembrar alguns dados históricos.

1.1. A tradição do mito do lobisomem em Portugal.

Segundo uma citação de Oliveira Martins(Oliveira Martins, Sistema dos Mitos Religiosos, 4ª ed., Lisboa 1922, pp. 294-295), transcrita por Luís da Câmara Cascudo, o mito do lobisomem é um mito em que “o animismo, simples nas aparições dos fantasmas, se combina com a zoologia religiosa, para dar de si uma enfermidade real, correspondente à doença dos visionários do medo, combinando-se também como alma-penada, com a idéia do pecado e da penitência. O lobisomem, vervolfe, loup-garou, voukodlak, dos alemães, dos franceses e eslavos, mito geral dos povos indo-europeus, é aquele que por um fado se transforma de noite em lobo, jumento, bode ou cabrito montês[...] Os traços com que a imaginação do nosso povo retratou o lobisomem são duplos, porque também essa criatura infeliz, conforme o nome mostra, é dual. Como homem, é extremamente pálido, magro, macilento, de orelhas compridas e nariz levantado. A sua sorte é um fado, talvez a remissão de um pecado; mas esta aadição vê-se quanto é estranha ao mito na sua pouca generalização. Por via de regra, o fdo é moral - é uma sorte apenas. Nasce-se lobisomem: em alguns lugares são os filhos do incesto, mas em gral, a predestinação não vem senão de um caso fortuito e ligar-se com o número que a astrologia acádica ou caldaica tornou fatídico - o número 7. O lobisomem é o filho que nasceu deopois de uma série de sete filhas. Aos treze anos, numa terça ou quinta-feira, sai de noite e topando com um lugar onde jumento se espojou, começa o fado. Daí por diante todasd as terças feiras e sex5as-feiras, da meia noite às duas horas, o lobisomem tem de fazer a sua corrida, visitando sete adros(cemitérios) de igreja, sete vilas acasteladas, sete partidas do mundo, sete outeiros, sete encruzilhadas, até regressar ao mesmo espojadouro onde readquire a forma humana. Sai também ao escurecer, atravessando na carreira, as aldeias onde os lavradores recolhidos n~]ao adormeceram ainda. Apaga todas as luzes, passa como uma flecha, e as matilhas dos cães ladrando perseguem-no até longe das casas. Diga-se três vezes “Ave Maria” que ele dará um grande estoiro, rebentando e sumindo-se[...] Quem ferir o lobisomem quebra-lhe o fado: mas que se não suje no sangue, de outro modo herdará a triste sorte.”

1.2. A tradição do mito do lobisomem no Brasil

“No Brasil - diz Câmara Cascudo- o lobisomem só desencanta ferido. Não teme as orações. Corre na noite de quinta para sexta, como o loup-garou medieval tinha o destino de correr la galipote. Desapareceu a punição moral. Trata-se de doença, hipoemia, falta de sangue, anemia. O lobisomem ataca animais novos e crianças para beber o sangue, sugando pela carótida. É como se vê, o último degrau para a dissolução de um mito outrora de punição divina, exclusivamente de efeito religioso. Ainda ouvi dizer que o lobisomem devia correr, como no velho Portugal, sete montes, sete pontes, sete fontes.” (CASCUDO, Luís da Câmara. Literatura oral no Brasil. 2ª edição. Rio de Janeiro: José Olympio, 1978, p.184).

1.3. O mito do lobisomem em “Fogo morto” de José Lins do Rego

' Na análise do mito do lobisomem ocorrente em Fogo morto' devemos adotar uma metodologia que nos dê claramente três coisas distintas: a genética do mito na imaginação popular, a elaboração mítica e fantástica pela imaginação popular e finalmente o discurso mítico tornado arte literária no texto de Lins do Rego.

1.3.1. A genética do mito.

O destaque dado pelo narrador ao a)“amarelão”(29) de Mestre José Amaro“, aos “olhos amarelos”(32, 53, 78), b) ao rosto inchado, c)ao fato de Mestre José passear de noite pela beira do rio e d) ao sangue, deixado na grama por Manuel de Úrsula, junto a sua casa, de um preá morto na caça.
Com estes dados, a “língua do povo”(55) e a imaginação popular vão construindo o mito. “A barba grande, os cabelos enormes cobrindo-lhe as orelhas, davam às feições deformadas do mestre um aspecto de bicho, de monstro. Ele não sabia de nada”(88). “De vez enquando encontro ele aqui pela beira do rio, todo esquisito.”(33). “É que está correndo que anda solto um lobisomem. Muita gente já viu o bicho. Viram o senhor nestes trajes e correram com um medo danado. Mulher é bicho mofino mesmo.”(51)

1.3.2. A elaboração do mito pela imaginação popular.

Recebidos os primeiros elementos ou índices, físicos, morais ou referenciais do disse-que disse, a imaginação popular encarrega-se de construir o mito, passa aconstituí-lo, a narrá-lo e a divulgá-lo, dando-lhe, agora uma forma narrativa, sempre imprecisa, longínqua, coletiva “Dizem”, “estão dizendo que”, “diziam que”, “corria por toda a parte que”, etc.

1.3.3. A Construção do discurso mítico sobre o lobisomem e a dinâmica da visualização popular em torno da figuração imaginária da entidade fantástica

Há todo um clima imaginário e um discurso fantástico que progressivamente se vai construindo no romance. A figura do lobisomem tem um começo natural e é aos poucos construída pelo imaginário popular “Vinha já escurecendo e um cachorro latia com desespero lá para as bandas do rio. Depois escutou-se um tiro seco, no silêncio”(21). “O mestre Amaro andou um pouco para a beira da estrada. As tanajuras voavam rasteiras, em bando e caíam no chão sem froça para se levantar”(22)[...] “Entrava um vento bom danoite para a casa do seleiro. Cheiravam as flores do bogari, cheiravam as cajazeiras, o jasmim-do-céu se abria para a lua que botava a cabeça defora. - É lua cheia hoje?- É[...] Um cachorro começava a latir, latia com desadoro e por fim lançava uivos de uma dor profunda. -Aquilo é para a lua. - É para a lua. Está sofrendo muito .
Uma nuvem cobriu o céu e tudo ficou escuro. De repente o mundo se clareou outra vez em luz branca[...]. “O mestre fechou a janela.- Está entrando muito mosquito. Vou andar um pouco. - Toma cuidado com o sereno, Zeca. O seleiro estava possuído de paz, de terna tristeza; ia ver a lua por cima das cajazeiras, banhando de leite as várzeas do coronel Lula de Holanda. Foi andando de estrada fora, queria estar só, viver só, sentir tudo só. A noite convidava-o para andar. Era o que nunca fazia[...] Na lagoa, a saparia enchia o mundo de um gemer sem fim. E os vaga-lumes rastejavam no chão com medo da lua. Tudo era tão bonito, tão diferente da sua casa. Quis andar para mais longe[...] Ganhou pelo atalho que ia para o rio. E deparou com a negra Margarida que ia pescar.”(23)[...] Cheirava toda a terra. Era cheiro de flores abertas, era cheiro de fruta madura. O mestre Amaro foi voltando para casa como se tivesse descoberto um mundo novo. Quando chegou, a mulher já estava com medo:- Que foste fazer a estas horas, Zeca? Só quem está aluado!. Calou-se, fechou a porta da casa e foi para a rede com o coração de outro homem. Não dormiu. Ouviu tudo o que vinha lá de fora. Ouviu o ressonar da filha. O que é que havia com ela?(24)[...] NO outro dia corria por toda a parte que o mestre José Amaro estava virando lobisomem. Fora encontrado pelo mato, na espreita da hora do diabo; tinham visto sangue na porta dele.”(24).
Foi através do compadre capitão Vitorino que José Amaro fica a saber que o povo o vê como lobisomem(99). Havia muito tempo já que o disse-que-disse popular tinha começado. Primeiro com o pintor Laurentino, depois com o negro Floripes, negra Margarida, negra Mariana e chegara aos ouvidos de Dona Lucinda que contara para sua irmã Mariquinha: “Lucinda estava na beira da estrada, ali, no lado da aroeira grande quando o mestre José Amaro vinha vindo da banda do Santa Fé. “Lucinda disse que quando viu aquele homem de andar de cão, sentiu um não sei quê nela”(32). As imãs de Lucinda contaram a história para D. Adriana e, já na estrada, D. Adriana encontra a negra Margarida, das pescarias que lhe disse: “A senhora já sabe, sinhá Adriana? Pois não é que o mestre José Amaro deu para correr de noite? De vez em quando encontro ele aqui pela beira do rio, todo esquisito. Não sei não, mas tem coisa dentro dele”(32-33). E uma negra da cozinha do Santo Fé dizia: -“Comadre Adriana, o povo está falando muito do mestre José Amaro[...] Estão dizendo que ele está virando lobisomem[...] Estão dizendo, comadre, que aquele amarelão dele é que faz o mestre correr de noite como bicho danado”(29). A verdade é que à medida que o povo tecia seu discurso mítico, José Amaro se transformava. Era uma pessoa sensível: “Não podia ver sangue de bicho”(22).
Zeca passava agora por uma fase de sofrimento, de solidão. Sofria com o problema da filha. Voltando para casa, quando o pessoal estava reunido entoando o “canto de morte” sobre o cadáver de D. Lucinda, ao botar a cabeça fora da janela, um grito estourou como uma bomba - É ele, o lobisomem. Correu gente. Mulheres gritaram. [...]50. “O homem que acomodara as mulheres veio falar com o mestre.- Estão com medo do senhor.- De mim?. - É verdade. Este povo é besta mesmo. E já de fora, o homem falou mais: -É que está correndo que anda solto um lobisomem. Muita gente já viu o bicho. Viram o senhor nestes trajes e correram com um medo danado. Mulher é bicho mofino mesmo”(51)”.[...] “De longe da casa, voltou outra vez a ouvir o canto triste. E sem poder explicar, começou o mestre a pensar no lobisomem. Apalpou o rosto, olhou para as unhas. O que tinha ele para fazer medo às mulheres?”(51). [...] Não pôde dormir. Tudo ouvia, tudo sentia como uma agonia de morte. Porque aquelas mulheres correram dele. De fato chegara à janela de repente, de surpresa, e elas tomaram susto.”(51)[...] Não era ele sozinho que imaginava na vida. A mulher também estaria àquela hora pensando na doença da filha. A lua entrava-lhe pelas telhas-vãs, enchia o chão de manchas brancas que se moviam. As mulheres correram dele”(51). Todo o mistério que o abafava se sumira com a voz da mulher[...] Tudo daria para poder se ver livre de sua casa[...] Ele não queria ouvir a voz de ninguém. Queria ser só neste mundo que não lhe dava alegria[...] Aqueles diabos tinham corrido com medo dele. Por que tinham medo dele? A sua mulher teria medo dele também? Estaria assim tão monstruoso que espantasse o povo? Acendeu a luz do candeeiro e foi procurar um espelho que tinha na mala. Olhou-se bem. Viu os seus olhos inchados, de pálpebras como de peixe, a barba grande.[...] Apagou a luz e mergulhou num pavor que nunca tivera. Estaria, de fato, em ponto, de atemorizar o povo? Não era possível. Ele, o mestre José Amaro, homem de sua casa, de respeito, com fama na boca da canalha.[...] Havia dentro dele uma noite soturna. Os porcos fossavam no chiqueiro e o bode batia as patas no chão”[...] 52. A cara de mestre José era “mais triste, mais amarelos os seues olhos, mais inchadas as pernas” 53[...] Devia ser mal do coração. Assim morrera seu pai, de barriga grande, sem ar, com o corpo que parecia uma saca de lã”53.

A fama de lobisomem aprofunda a construir e a firmar o discurso mítico que atribui a José Amaro a personificação do lobisomem em Várzea do Paraíba.
Agora era Dona Sinhá que estava batendo roupa no rio com outras mulheres e ouviu a narração de uma moça nova sobre o lobisomem seu marido : “- Lá em cima chegou a notícia de que está aparecendo lobisomem por aqui[...] E estão dizendo que é um tal de mestre José Amaro que deu para virar bicho[...] Lá em cima chegou a notícia e até dizem também que este homem tem uma filha que ele faz coisa com ela.”53. Dona Sinhá ficou passada com a narração e falou para a moça que era mentira, mas o negro Passarinho sabia “que o povo falava do seleiro. Por toda a parte corria aquela história de lobisomem, aquela fama de andar ele correndo de noite para beber o sangue de gente. Passarinho não tinha cabeça para medir as coisas. Ele via o mestre com aquela cara aborrecida e tinha medo. Sim, medo de chegar-se para perto. Dona Sinhá conversava com a filha em voz baixa. Ouvira também falarem mal da moça da casa. A língua do povo não tinha tamanho.”(55).
Os ditos populares, as narrações variadas, a cara do marido iam impressionando Dona Sinhá. Também ela parecia que ia aderindo ao discurso mítico do povo, se apavorando, tendo medo e acreditando: “A velha sinhá chegou ao quarto para ver o marido. Dormia de boca aberta, com os olhos semicerrados. Foi procurar um lençol para cobri-lo. A filha Marta, naquele dia, voltava a ficar outra vez com a agonia desesperada. E ali, em frente do marido, que ela temia como a um duro senhor, sentiu-se mais forte, mais dona de sua vida. Zeca abriu os olhos, olhou para ela como se quisesse esmagá-la, com uma raiva de demônio. Deu um grito e correu para a cozinha. Vira na cara do marido a cara do diabo.”(75).
O discurso vai-se construindo pouco a pouco, com novas narrativas.
Desta vez é a negra Margarida que fala para D. Adriana: “Dona Adriana, a senhora não acredita porque não quer. Encontraram deitado no chão com a boca cheia de terra.- Nada, Margarida, tudo é invenção do povo. - Invenção, dona Adriana? Eu que mais duma vez tenho visto o homem solto por aí afora, sem destino. Fazendo o quê? Só queria que a senhora me dissesse o que quer o mestre José Amaro lá para as bandas do rio vagando como alma penada.”(75)- “Margarida, o meu compadre é homem de muito capricho, de muito gênio. O que ele faz qualquer um faria. Trabalha o dia inteiro e quando é de noite vai dar uma caminhada para espichar as pernas.”75,


Tudo é invenção do povo, dizia Adriana(76). Quando Margarida foi embora “a velha Adriana quis fugir daquela idéia de seu compadre transformado em bicho danado e não pôde”(76)[...] Era em seu compadre que pensava. Viu-se na situação da comadre Sinhá e teve pena dela. Quando o povo pegava um cristão para uma coisa desta, não largava mais. Pobre do seu compadre que não teria mais descanso!, Seria toda a vida, até a morte, o lobisomem, o temor de todo o mundo, o monstro que saía de noite para desgraçar os viventes. Nunca que lhe passasse pela cabeça semelhante coisa. Era mulher sem educação, sem sabedoria dos livros, mas sabia que tudo aquilo era tolice, medo besta do povo.”76. De seu Lucindo para sinhá Adriana: “Coitado do mestre José Amaro. O povo fala dele, conta o diabo.”76[...] o povo quando malda, tem coisa 77 [...] Mas como lhe dizia, sinhá Adriana, o mestre José Amaro está fazendo medo ao povo. A negra Margarida tem visto ele solto, pela noite, desarvorado como um demente. O que é que quer um homem assim nas caladas da noite? Para falar a verdade, eu digo à senhora, não acredito nesta história de lobisomem [...] Para lhe falar com toda a franqueza, não tenho o que dizer dele, não. É homem de sua casa, de seu ofício, da sua família. O diabo é aquele falar[...]77. - “O meu compadre só faz falar. É o que lhe digo. O povo tem medo dele sem razão”, diz sinhá Adriana 77. Sinhá para Adriana: “Avalie que ele deu agora para sair de noite como um maluco. Com esta friagem da tarde e transanteontem me chegou o senhor Lucindo com a notícia da morte do Zeca. Estava morto numa touceira de cabreira na beira do rio. Encontreio o homem quase que defunto. E o povão quem acudiu! E o falaço do povo. Eu sei que stão falando de Zeca como lobisomem. É uma desgraça. Estão falando da menina também.”79)[...] Estou com medo dele[...] Tenho uma coisa que me diz que Zeca não é como os outros homens[...] - Comadre, isto é nervoso, é cisma [diz Adriana] -“Zeca deu para sair de noite e quando ele volta, só queria que a senhora visse como entra. Vem como se tivesse um ente dentro dele. Vira na rede, fala só, dá grito no sono. Ele não era assim, comadre. E no outro dia é um gritar de doido. Grita com a filha, descompõe-me. É outra criatura.”(80).- -Isto é cisma da comadre (80).-“Era bom que fosse. Quando ele botou aqueles olhos para mim, saí correndo, correndo como se tivesse visto um demônio. Felizmente que Marta não viu nada.”80.
Dona Sinhá vai ouvindo a voz dom povo e vai acreditando. Manuel da Úrsula fala que o negro Floripes lhe disse que o coronel Lula vai pedir sua casa; - [...] Ele também anda falando do mestre, botando para cima dele este negócio de lobisomem. - Aí a velha Sinhá mostrou a cara de mágoa que não podia esconder”(83).
Mestre Zé cada vez mais doente: “Era a doença que o consumia[...] Na parede a sua sombra era como de um monstro, as pernas enormes, tremendo com a oscilação da lamparina, com as pernas pesadas” 85. Sua filha endoideceu(86). Zeca bateu com a sola na filha.[...]Zeca de pé tinha os olhos arregalados fixos num ponto só. A luz da candeia bulia com o vento[...] O marido agora andava para o seu lado, vinha para a porta da cozinha com a soila da mão. Era um bicho, era o diabo que marchava para cima dela. E outra vez sinhá correu para o quintal[...]. Teve vergonha de seu medo e entrou em casa que era sua[...] Zeca chamou-a
Tinha medo. - O que é que tu queres. Então a Sinhá viu o que nunca vira em sua vida: Zeca num pranto de menino apanhado. O soluço rouco do marido era um partir de coração[...] -Sinhá, ela está doida (87)
“A barba grande, os cabelos enormes cobrindo-lhe as orelhas davam às feições deformadas do mestre, um aspecto de bicho, de monstro” 88. Quando estava com Alipio: “Um grito de Marta estrondou. Ficaram calados. Alípio tinha a cabeça curvada e a cara do mestre era sinistra, cara de monstro. Só os cabelos brancos, cobrindo os olhos, pareciam de gente”90.
Saíra para ir ao Santa Fé falar com o coronel. Na curva da estrada apareceram uns meninos que gritavam: - é ele. E todos correram para cima do barranco(99). Foi quando se lembrou da conversa do compadre. Lobisomem. Estremeceu com o pensamento. Era como se lhe gritassem ao ouvido “Assassino” Lobisomem. Estavam com medo dele”99[...]Todos agora o tomariam como um bicho, inventariam histórias com o seu nome.[...] O seleiro apalpou o rosto intumescido, sentiu nas mãos grossas a carne inchada do rosto. Olhou as mãos, as unhas sujas. Que diabo andava por dentro dele para provocar pavor, encher o povo de medo? Ligou o ataque daquela noite às invenções. Tudo fora safadeza do Laurentino.99;
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 73Exibido 3327 vezesFale com o autor