O ESTILO LITERÁRIO
João Ferreira
18 de outubro de 2000
Para os leitores e escritores que frequentam esta Usina de Letras, vou compor uma breve reflexão sobre o estilo literário.
Em primeiro lugar diremos que todo o escritor, grande ou pequeno, se manifesta por sua linguagem ou seja, por seu estilo. Todo o texto é revelado nos meandros do estilo. Necessariamente, ele ou está bem escrito, ou sofrivelmente escrito ou mal escrito. O texto será o que for o estilo que lhe impôs seu criador. E a seu tempo manifestará todas as características genéticas ou o DNA que o liga ao genitor.
É famosa a frase de Buffon que diz que o “estilo é o homem”. Podemos complementar dizendo com verdade, também, que 'o estilo é o escritor', ou seja, é todo o rosto e toda a frontaria do escritor.
Nas reflexões que fazemos sobre a escrita, nos encontramos sempre com o estilo. Partindo do fenômeno literário, nos enfrentamos com a problemática da genética do texto, com a inventividade e a estrutura do texto, com a técnica da elaboração, e, por fim, com o próprio texto acabado que é entregue ao público.
A pragmática da recepção sempre terá a ver com a forma como o autor ou escritor encaram a linguagem e a codificação que resolveram oferecer ao leitor., A aceitação e a rejeição de um livro passa também pela forma da apresentação da comunicação ou pelo nível da linguagem literária que apresenta. Na verdade, tudo é estilo. Na escrita, tudo são formas de o autor se fazer entender, ou de se fazer respeitar esteticamente. Tudo são formas de habilidade ou inabilidade artística de saber ou não saber manejar e combinar a palavra, tentando atingir melhores formas de expressão ou ficando aquém das belas formas de expressão literária.
Sabemos que para ajudar nesta tarefa da recepção, existem os métodos críticos que proporcionam o acesso mais fácil ao texto, assim como existem os protocolos de leitura, que ajudam na busca de informações, de saberes e de formas de conhecimento. Este é o caminho que nos oferece o texto escrito de autor
No coração do texto, encontraremos idéias, pensamentos, emoções e sentimentos expressos através da palavra. O estilo será esta forma característica de cada escritor ou poeta se expressar. Estilo é a forma peculiar de manifestação pela palavra. Assim como socialmente há um estilo de roupa para vestir, há também um estilo na forma de apresentar pensamentos ou sentimentos através da palavra. Lord Chesterfield definiu-o como se fosse o “traje do pensamento”. O pensamento sutil, fino e espiritual é apresentado visivelmente pela palavra. O Cardeal Newman dizia que o estilo é “o pensamento posto em linguagem”.
De nossa parte, diremos que a arte de agrupar as palavras com beleza, sintaxe e ordem é estilo. Ou, se quisermos: o estilo literário é a forma artística de saber combinar pelo ritmo, pela sintaxe e pela escolha estética da expressão. A maneira de assumir um estilo é a maneira de caracterizar um escritor. Um processo de individualização. Diríamos então que cada escritor se distingue estilisticamente pela sua singularização. E embora haja também estilos de época, como o estilo clássico, barroco, romântico, realista, parnasiano, simbolista, modernista ou surrealista, a verdade é que a época tem um peso apenas relativo. Ela estabelece alguns parâmetros estéticos. Mas é o escritor singular que obedece ou rompe com os padrões da época. O estilo singularizado de Machado de Assis, de Eça de Queirós, de Guimarães Rosa ou de Saramago, de Fernando Pessoa ou de Carlos Drumond de Andrade é que dá o rosto específico da obra destes escritores e poetas. O estilo de Guimarães Rosa em Grande Sertão: Veredas, em A terceira margem do rio, ou em Sagarana , dá-nos um escritor irrepetível e portanto inconfundível.
E assim, o estilo nada mais é do que o rosto, ou a cara do escritor. Para que este tenha um rosto agradável, comunicativo e respeitável, deverá cultivar com esmero e arte seu próprio estilo.
O estilo é o escritor, dizíamos...
Com mais priopriedade ainda, estilo, falando bem à brasileira, é o jeitinho que o escritor tem de ser, de andar e de vestir-se com as palavras sob a arcada dos pensamentos, dos sentimentos e das emoções!
Brasília, 18 de outubro de 2000
João Ferreira
João Ferreira
18 de outubro de 2000 |
