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Ensaios-->MODERNISMO E SENSACIONISMO NA POESIA DE ALBERTO CAEIRO -- 11/10/2000 - 00:06 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MODERNISMO E SENSACIONISMO NA POESIA DE ALBERTO CAEIRO


João Ferreira
10 de outubro de 2000


Uma parte da revolução estético-literária do modernismo português, representada pela geração de Orpheu, onde sobressaem Mário de Sá-Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa, é representada pela poesia de alguns dos heterônimos de Pessoa. Estudaremos hoje a poesia do Mestre Alberto Caeiro.

1. O que representa Alberto Caeiro na poesia de Fernando Pessoa

Pessoa ortônimo faz o destaque de que a poesia de Caeiro é, em resumo, a utilização da sensibilidade sobre a inteligência Há uma nota crítica que acompanha os poemas de Caeiro assinada por Álvaro de Campos. A nota diz que Alberto Caeiro representa o espírito do paganismo. Textualmente: “o meu Mestre Caeiro não era um pagão: era o paganismo”. Isso significa que Caeiro está consubstancialmente ligado ao paganismo. Embora seja um poeta a quem não cabem rótulos, por não ser um poeta definível, piode dizer-se que Alberto Caeiro é um pagão, um naturalista, um sensacionista, sem nenhuma vocação para a metafísica, em sentido direto, pelo menos.
Seria objetivo chamar-lhe sensacionista. É um título que lhe cabe como modernista e futurista. Primeiro pelo força e pela primariedade que a sensação tem em sua expressão filosófica. Segundo pelo destaque que dá ao sentido do “ver”, uma tendência poética quase obsessão mas que nos transmite a sublimidade de tão grande poeta. Entre o materialismo e a visão e descoberta da matéria e da consistência material das coisas, Caeiro caminha pela poesia cono forma de identificação das coisas expostas aos olhos dos homens... O infinito, as coisas indefinidas, o horizonte sem fim não cabe na poesia de Caeiro. A filosofia poética dele é condensada dentro dos limites das coisas. Álvaro de Campos vê em Caeiro não um simples poeta, um homem, mas um universo. A cabeça de Caeiro funciona poeticamente como se fosse dono de um universo. A novidade é tanta, na verdade, que o estudo de Caeiro é o estudo de um universo de uma filosofia e de uma poética de um universo. Caeiro é como ”a voz da terra, que é tudo e ninguém”...

2. Algumas idéias que refletem o mundo poético de Alberto Caeiro

“Minha alma é como um pastor/Conhece o vento e o sol/E anda pela mão das estações/ a seguir e a olhar”(I)[...] “Pensar incomoda como andar à chuva/Quando o vento cresce e parece que chove mais”(I)[...] “Não tenho ambições nem desejos/Ser poeta não é uma ambição minha/É a minha maneira de estar sozinho”(I)[...] “Saúdo todos os que me lerem/titando-lhes o chapéu largo[...] Saúdo-os e desejo-lhes sol/ E chuva, quando a chuva é precisa/E que as suas casas tenham/ao pé duma janela aberta/Uma cadeira predilecta/onde se sentem, lendo os meus versos. E ao lerem os meus versos pensem/que sou qualquer cousa natural/Por exemplo a árvore antiga/à sombra da qual quando crianças se sentavam com um baque, cansados de brincar/ E limpavam o suor da testa quente/Com a manga do bibe riscado”(I).

3- O espelho do segundo poema do Guardador de Rebanhos
É no segundo poema de “Guardador de rebanhos” que encontramos a essência da filosofia poética de Alberto Caeiro. Ensaiemos a leitura de um texto essencial

“O meu olhar é nítido como um girassol/Tenho o costume de andar pelas estradas/Olhando para a direita e para a esquerda/E de vez em quando olhando para trás/E o que vejo a cada momento/ É aquilo que antes eu nunca tinha visto/E eu sei dar por isto muito bem...Sei ter o pasmo essencial/Que tem uma criança/Se, ao nascer/Reparasse que nascera deveras...Sinto-me nascido a cada momento/ Para a eterna novidade do mundo/Creio no mundo como num malmequer/Porque o vejo. Mas não pens nele/Porque pensar é não compreender.../ O mundo não se fez para pensarmos nele/(Pensar é estar doente dos olhos) Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo.../Eu não tenho filosofia: tenho sentidos.../Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,/Mas porque a amo e amo-a por isso/ Porque quem ama nunca sabe o que ama/ Nem sabe por que ama nemo que é amar.../Amar é a eterna inocência/E a única inocência não pensasr” (O Guardador de Rebanhos, II).

3. Uma filosofia poética da natureza inocente

Não há dúvida que este segundo poema do “Guardador de rebanhos”, datado de 8 de março de 1914, encerra a principal mensagem da poesia de Caeiro, ou seja, a essência da filosofia poética que é centrada numa natureza inocente. Aplicando a sua leitura toda a metodologia de análise hermenêuntica, deuzimos do texto algumas teses essenciais que acompanhão o leitor para revelar-lhe os vários sentido do livro poético. Enetnderemos proque Caieror diz que seu “olhar é nítido como um girassol”. Há u princ´pio clarop que se deduz quando Caeiro diz “que epensa r é estar doente dos olhos”. Nesta proposição está uma +pressuposição necessária que é a primazia dos sentidos sobnre o pensamentro ou seja sobre o ato inteltiovo. Entre medievais que já diziam que nada chega ao intelecto sem que antes tenha passado pelos sentidos(nihil est in intellectu quin pius non fuerit in sensu), Alberto Caeiro oferece todas as condições de opção pelo sensacionismo que vai caracterizar os principais poetas do mdernismo português, onde a base é a sensação. No centro desta prioridade dos sentidos, ocupa lugar cimeiro o olhar, janela das imagens que serão a base do ver, ato já perceptivo e inteletivo. Nesta escala do ver, notamos os seguintes passos. 1. A prioridade de olhar e ver o mundo, antes de o pensar: 2.Olhar o mundo, clamando pela necessidade de o homem sentir o êxtase e a contemplação da beleza mundanal; 3. Olhar em sentido contemplativo, chegar ao “pasmo essencial” da origem, expressão usada por Caeiro e que chega a aproximar-se do “thaumázein” (=surpreender-se, maravilhar-se, admirar-se) de Aristóteles e do “Erstaunen” dos alemães; o descobrir pelo olhar e pelo ver a novidade do mundo transformando o conhecimento em nascimento ou re-nascimento. 4. Concluir que não é preciso ter filosofia mas um adequado uso dos sentidos: 5. Tomar como modelo o olhar da criança, pesquisadora natural, na observação fenomênica do mundo 6. Ao dizer que “pensar é estar doente dos olhos”, Caeiro dá o recado de que pensar seria reduzir a originalidade do olhar ao óbvio rotineiro onde as coisas são registradas como aparições intelectuais...Pensar não deve ser uma operação de pura desconstrução, de eliminação das novidades do mundo e sim, um avanço em relação à consciência crítica da existência. Porque “o mundo não se fez para pensarmos nele (pensar é estar doente dos olhos) mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...”(Poema II do “O Guardador de Rebanhos”...)
Olharmos para o mundo e estarmos de acordo com ele, é entrarmos na contemplação, ou seja, no êxtase da criação e percebermos originariamente a dinâmica do que acontece e se renova em vida, diariamente.
Pelo que se acaba de expor, consideramos o poema II do Guardador de Rebanhos como um espelho para leitura, análise e interpretação. Por ele podemos conhecer a raiz e a natureza da concepção poética de Caeiro. São nítidas e claras no poema as seguintes posições: 1. A prioridade do olhar sobre o pensar. 2. A novidade do ver. 3. O pasmo essencial como chave do o olhar e do ver. 4. Conhecer é nascer ou renascer. 5. Nascer a cada momento, é uma meta da visão poética de Caeiro; 6. A eterna novidade do mundo. 7. O contraste entre o ver e o pensar. 8. Pensar é estar doente dos olhos; 9. A grande base de caracterização da visão poética de Caeiro é o axioma: não tenho filosofia, tenho sentidos. 10. Amor à Natureza. 11. Amar é a eterna inocência; 12. A única inocência é sentir.

Esta pequena nota leva ao leitor de poesia o convite formal de que visite Caeiro para conhcer uma das mais originais contribuições escritas sobre a expressão do mundo.

João Ferreira
Ano 2000
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