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Ensaios-->MERCADO DE TRABALHO PARA DIPLOMADOS NA ÁREA DE LETRAS -- 10/10/2000 - 14:59 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
MERCADO DE TRABALHO PARA OS DIPLOMADOS EM LETRAS


Prof. João Ferreira
Universidade Católica de Brasília



As Faculdades de Filosofia, Ciências e Letras, públicas e privadas, e os Institutos de Letras das Universidades Federais, das Universidades Privadas e dos Centros universitários de ensino, públicos e privados, lançam, anualmente, no mercado de trabalho, alguns milhares de diplomados em Letras. Esses diplomados se distribuem pelas áreas de língua portuguesa, de línguas estrangeiras, de línguas e literaturas clássicas, de literaturas vernáculas e estrangeiras, de teoria da literatura, de literatura comparada, de tradução, de interpretação de línguas estrangeiras, de secretariado executivo, de história literária, de linguística, de filologia, de lexicologia, de português para estrangeiros, e ainda pelas áreas de teoria da linguagem, de semiologia, hermenêutica, metodologia e técnicas de pesquisa em Literatura, de teoria e prática do texto e por outras áreas pertencentes ao quadro de Letras. Trata-se de um número vultoso, importante e não podemos assistir indiferentes a esse fenômeno anualmente repetido, desde há muitos anos, no mercado brasileiro de trabalho.
Não sabemos ainda muito bem como é tratada essa mão de obra, mas acreditamos que grande parte dela é absorvida a nível de subemprego sem que os pares disso tomem conhecimento ou saibam exatamente sobre a realidade profunda que esses dados demonstram.


ALGUMAS REFLEXÕES PRELIMINARES E A NECESSIDADE DE FUNDAÇÃO DE UMA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE DIPLOMADOS EM LETRAS

A primeira reflexão importante que este fenômeno nos oferece é certamente a necessidade de aprofundar a natureza dos cursos de Letras no país e quais as habilitações e o leque de ofertas de trabalho que potencialmente oferecem.
A segunda reflexão que importa desenvolver é verificar em que estágio de conhecimento nos encontramos e como podemos evoluir em direção a uma defesa dos próprios direitos.
A terceira diz respeito a uma restauração da dignidade profissional e do orgulho da classe, levando esta a uma conscientização crítica para lutar, a nível individual e associativo, político e sindical, para colocar a área no centro de atenções em relação ao mercado, como acontece com as demais áreas de trabalho.
Em setembro de 1977 apresentamos num seminário organizado pela Câmara dos Deputados os primeiros pontos de vista sobre o mercado de trabalho dos diplomados em Letras. Em 30 anos de vida candanga, verificamos, nos vários locais de trabalho que conhecemos, que a maioria dos diplomados saídos da Universidade de Brasília, do CEUB e da Universidade Católica de Brasília foram absorvidos pelas instituições de ensino da capital e das cidades satélites para exercerem o magistério. Em virtude disso, o magistério tornou-se o emprego mais estável e mais acessível para aqueles que têm preparo no curso que lhes deu o diploma. Observamos, entretanto, que o magistério não é uma opção exclusiva.
Há diplomados absorvidos como tradutores em órgãos públicos, em embaixadas e empresas. Outros, organizam sua própria empresa de consultoria de língua portuguesa; outros, ainda, criam micro-empresas para treinamento de língua portuguesa, de redacção, línguas estrangeiras destinadas à preparação de candidatos para concursos públicos do Congresso, dos tribunais, dos bancos estatais, e também para auditores da Receita federal, do Tribunal de Contas da União e do Distrito Federal, assim como para candidatos ao magistério na Fundação Educacional. Por fim, outros, ainda, dedicam-se a preparar grupos que desejam aprimorar-se em redacção, em língua portuguesa ou literatura na época dos vestibulares.
O mercado é amplo e, por isso mesmo, é necessário estar atento seja às necessidades sociais da demanda, seja à carência dos órgãos públicos. A capacidade de desempenho dos candidatos pode ser oferecida ao mercado, sempre que não houver manifestação direta por parte do empresariado. Letras não pode esquecer que tanto a rádio e a televisão, como a produção de teatro e de cinema, as assessorias do Congresso e da Câmara Legislativa, as assessorias de empresas públicas e privadas, e também a movimentada produção editorial e gráfica de Brasília, as variadas empresas de consultoria, as empresas que promovem traduções, as empresas de turismo, e outras, têm um rico leque de oferta de trabalho.
A evidência básica que devemos reter em nossa mente é a de que o campo de trabalho dos diplomados em Letras, seja em nível de bacharelado e licenciatura, seja em nível de Mestrado ou Doutorado, está aberto e, por conseguinte, o candidato não tem senão que estar preparado para responder aos desafios do mercado.
Vamos supor, dentro da atual conjuntura do Mercosul - onde as fronteiras econômicas do Brasil e de seus parceiros do Sul, se tornam fronteiras comuns - que alguém se propõe fazer uma pesquisa de emprego na área de Letras voltada para os mercados dessa região econômica. A pesquisa não deixaria de revelar que os diplomados dos Estados do Sul (Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo), pela proximidade do acontecimento em si, têm enormes chances de obter boas ofertas por parte de várias empresas, com níveis salariais compensadores, seja para ensinar a língua portuguesa, seja para mostrar a arte da boa expressão, tanto a empresários, quanto a executivos de segundo e terceiro escalões, ou a grupos comprometidos com a dinâmica do mercado em todos os níveis.
A pesquisa mostrará também a parcela do mercado interessada em traduções de espanhol para português e vice-versa, em atividades de redação, de revisão de originais, assim como em assessorias de língua portuguesa, em consultorias tanto de língua pátria quanto de língua estrangeira, em elaboração de súmulas e de resumos de livros e de artigos, em levantamento de dados de informação oferecidos pela imprensa, etc. Essa ação poderia estender-se à criação de revistas de serviço necessário às áreas de mercado, à colaboração em periódicos, a assessorias de formação e atuação de grupos de teatro popular, a cursos amplos de português e de espanhol, a assessorias alfandegárias, etc.
O que desejamos revelar é que, no meio de tudo, há uma linha visível no horizonte. Mas, para encontrá-la, cada profissional necessitará de uma orientação básica. Essa orientação consistirá na argúcia de cada um em descobrir que sua pesquisa deverá ser dirigida, antes de mais nada, para a evidência do mercado, o qual dita as leis de oferta e procura. É por isso que é importante orientar, desde já, os alunos da área, enquanto força potencial do mercado, a ficarem atentos à preparação geral e específica da área em que desejam atuar: linguística, literatura, tradução ou outras. Na prática, todos os problemas do mercado de suas áreas, reais e virtuais, são importantes.

Por isso mesmo, é possível dizer que aqueles que se formam em Língua Portuguesa, Literatura Brasileira e Língua Inglesa só terão desemprego se o quiserem: o mercado é pródigo de oferta embora exija qualidade. Há em todo o país numerosos postos de trabalho na área, com faixas salariais melhores em alguns Estados. A garantia de emprego ficará certamente ligada ao curso e à qualidade com que o candidato se apresenta para exercer essas funções específicas, seja no magistério, seja na tradução, na assessoria ou na consultoria. Face a esta evidência, importa que, desde agora, o estudante de Letras tome seu curso a sério, profissionalmente, como se já estivesse assinando contrato de garantia de emprego.
Como informação para uma reflexão mais profunda sobre o tema que nos ocupa, achamos da maior importância traçar um quadro de conjunto das opções modernas que são próprias da área de Letras e que se coadunam com o horizonte do leque dos vários diplomas.

I. ATUAÇÃO NA ÁREA DE MAGISTÉRIO.

Os profissionais preparados na área de Língua e Literaturas de língua portuguesa, Linguística, História da literatura, Redação, Produção de textos, Ensino de línguas estrangeiras e Tradução, têm seu mercado de trabalho imediato nos Institutos e Departamentos de Letras e Linguísticas das Universidades, nos Departamentos de Línguas Estrangeiras e de Tradução das Universidades oficiais e particulares, nas Faculdades de Filosofia Ciências e Letras das cidades interioranas, nas próprias Faculdades de Educação, nos centros de treinamento de pessoal administrativo, nos centros e estabelecimentos pré-universitários e de vestibulares, nas escolas oficiais e colégios particulares de primeiro e segundo graus, nos colégios militares, nas escolas de formação agrícola, escolas industriais e comerciais, escolas normais, centros de educação em cujo currículo estejam assinaladas essas áreas de ensino.

II. ASSESSOR DE LÍNGUA PORTUGUESA

As grandes empresas modernas têm uma assessoria para cuidar da comunicação social, da publicação de uma revista ou de um boletim, assim como de cursos de treinamento de funcionários e da redacção correta dos documentos da instituição. Ao lado dessa preocupação, existe a orientação e a vontade tácita de preservar, junto ao público externo, a figura de seus executivos, com destaque para o Presidente e figuras mais representativas. É claro que interessa ao presidente e a todo o executivo de uma empresa aparecer publicamente com um discurso bem elaborado que possa ser notado ou elogiado por seus pares. Ao mesmo tempo, é de extrema utilidade haver um profissional especializado com quem os executivos possam tirar dúvidas de português, sem passarem pela vergonha de serem autores de erros crassos de ortografia ou de construções sintáticas e concordâncias incorretas notadas pelo público.
Esta situação desenha e projeta tecnicamente a figura do assistente ou do assessor de língua portuguesa. Hoje, as grandes e médias empresas, querem conhecer o uso correto da língua portuguesa e fazem questão de o exigir nos documentos oficiais , nos relatórios, na correspondência e nas atas da empresa,etc. Urge, por isso mesmo, uma atenção especial por parte dos diplomados em Letras, e também uma certa ousadia e agressividade em elaborar propostas de trabalho nas empresas com determinadas características e com dinheiro, havendo necessidade, para isso, de se usar a criatividade e o convencimento, pertencendo ao jovem diplomado, saber descobrir os vários aspectos da aplicação de conhecimentos em sua área.

III. ASSISTENTE DE DIRETOR DE PRODUÇÃO

Um campo pouco explorado até hoje e timidamente considerado como campo possível de atuação para diplomados em Letras, é o de assistente de produção nos programas de rádio, de televisão , de cinema, de vídeos e de cd-rons.
Esta assistência pode concentrar-se no acompanhamento, assessoramento, informação e ajuda técnica em vários campos: no estabelecimento da roteirização de textos literários de literatura brasileira ou de textos literários traduzidos de outras línguas, selecionados para montagem de novelas ou de espetáculos de teatro, para produção de clips, de filmes, de vídeos e slides com texto. O conhecimento deve ser valorizado em todos os campos. Ora, se a sociedade tecnicizada busca os melhores especialistas, é bom habituar os mentores desta mesma sociedade, a reservar os lugares certos para as várias especialidades oferecidas pelas escolas e pelas universidades, incluindo Letras. De igual modo, esta assistência e assessoria pode ter seu campo estendido também à integração de um técnico de Letras numa equipe de redação de uma revista da empresa, normalmente conduzida por jornalista profissional, a fim de caminharmos para o cientificamente justo que é abrir as portas de certas áreas da comunicação para a colaboração dos diplomado em língua portuguesa.

IV. REDATOR E REVISOR

Sabemos que a vida cultural de um país não se passa apenas na produção de programas de televisão, teatro, cinema e folclore.
Verificamos que a comunicação também se faz através da escrita. Toda a empresa almeja ter sua revista, seu jornal ou seu boletim. Por vezes dispõe de orçamento para fazer suas publicações, seus relatórios, seus livros e cadernos, regidos pelas exigências sociais e departamentais da documentação e divulgação. Para cobrir esta necessidade empresarial e estatal, há sempre espaço para novos redatores e revisores. Há pessoas que embora tenham estudado língua portuguesa, não ganharam ainda o hábito de escreverem corretamente e de fazerem uma revisão rigorosa do texto, segundo os padrões exigidos pelo ofício. Também é verdade que este ofício, a nível de serviço público, foi abocanhado pelo jornalismo, e os profissionais que o executam chamam-se técnicos de comunicação social.
Trata-se, evidentemente, de uma fatia ampla, que ultrapassa a necessidade das redações dos jornais. A realidade da informação e da comunicação levou-a aos gabinetes dos ministérios e das grandes empresas assim como às redações das revistas e às salas das editoras e das gráficas.
Os diplomados em Letras têm hoje, pela frente, um enorme desafio. Trata-se do desafio de tomarem consciência de que a Comunicação está sozinha com o bolo oficial da Redação e da Revisão e que é preciso estudar uma forma diplomática de dividir esse bolo em dois, cabendo parte à Comunicação e parte aos diplomados em Letras.
O direito de dividir esse bolo assenta em várias várias razões: a primeira é de que, em termos de conhecimentos, o aluno de Letras-Português tem uma formação formal e própria, em princípios teóricos de redação e prática de produção de textos. A segunda, porque a comunicação nasce da expressão e o Curso de Português das Universidades percorre um longo caminho para dotar o aluno de uma adequada maneira de produzir formas de expressão oral e escrita. A terceira, porque tradicionalmente, a redação e revisão, sempre foram ofício de letrados, e só modernamente a redação e revisão passou a ser privativa dos profissionais em comunicação, apenas por dispositivo de lei, e não necessariamente por exclusividade de competência. Entendemos, por este motivo, que há uma necessidade urgente de se fundar uma Associação de diplomados em Letras no Distrito Federal e, a partir da vida associativa, abrir uma negociação com a Associação e Sindicato de Jornalistas a fim de que paulatinamente os diplomados em Letras participem do bolo da redação e revisão. É inevitável, para sucesso da causa,o estabelecimento paralelo de uma luta sindical, por um lado, e, por outro, um trabalho bem dirigido e diplomático, junto a deputados e senadores para que, após os devidos reajustes da lei, de técnico em comunicação social, seja admitido e equiparado, na prática, o trabalho das duas categorias de profissionais nos campos da redacção e da revisão

V. CENSOR FEDERAL

A censura federal é uma área pouco conhecida e de pouca demanda por parte dos diplomados em Letras. Mas foi até agora, curiosamente, uma área de grande consumo social e do maior interesse. Oriunda dos tempos dos governos militares, a tarefa do censor federal,passou a ser controlada pela Polícia Federal. A instituição abre, de tempos a tempos, para provisão de vagas, concursos públicos para exercício da profissão, a qual consiste essencialmente em avaliar textos artísticos destinados a espetáculos públicos, letras de música popular, fitas de cinema,etc, tudo avaliado do ponto de vista da moral social brasileira. - É um dos cargos acessíveis a pessoas bem preparadas e tem bons salários. Estaria em fase de extinção.

VI. EDITORAÇÃO

Dirigir um programa editorial, a nível oficial, é também um privilégio dos profissionais formados em Comunicação social. Mas deve-se lembrar que existem outros profissionais necessários ao trabalho a ser desenvolvido na preparação dos textos para publicação, na pesquisa textual para preparação da edicão, no trabalho lexicográfico e linguístico, no aparato técnico das obras literárias, na ecdótica ena condução de toda a instrumentação técnica necessária para levar o texto ao prelo. Fica evidente que é também um interessante campo para pessoas interessadas da área de Letras. Neste tipo de trabalho, serão selecionados naturalmente aquele que tiverem maior vocação para a crítica textual e para a preparação de edições de textos literários nacionais e estrangeiros, havendo ainda um grande campo para a editoração de traduções originadas em textos de literatura estrangeira.

VII. PESQUISA LITERÁRIA

Normalmente nota-se pouca disposição das pessoas em ousarem programas novos. Entretanto são estes que proporcionam obras interessantes e garantem o ganha-pão de muitos. A verdade é que dispomos de ricas fontes nacionais de literatura, seja a nível nacional, seja a nível regional. Pertence à pesquisa literária, fazer levantamentos de bibliografia especializada de literatura, de crítica literária, de linguística, de língua portuguesa, etc. É trabalho promissor que exige muita organização, competência e persistência. Através destes profissionais podem ser ousados o lançamento de enciclopédias, de coletâneas de textos, de séries críticas em literatura, de textos de cordel, dicionários sobre escritores, dicionários de literatura brasileira, de literatura estrangeira, de linguística, de termos literários, de redação, histórias da literatura, biografias literárias, dicionários de língua portuguesa e de línguas estrangeiras. Este é um espaço amplo e a aberto para se trabalhar em equipe sob o comando de um coordenador e se bem repararmos, são hoje os eruditos de outras áreas que os vão realizando,como Aurélio Buarque de Holanda, Afrânio Coutinho, António Houaiss, pessoas muito competentes, embora de outras áreas.

VIII. EDIÇÃO DE VÍDEOS E CD-RONS LITERÁRIOS, HISTÓRICO-LITERÁRIOS E LINGUÏSTICOS

Entremos agora em outro campo interessante.
Para quem deseja ser moderno e vanguardista, não pode esquecer a realidade tecnológica atual e sua aplicação a nossa área. Na era da informatização e do cinema, o vídeo é um espaço imenso que não devemos cessar de explorar. Seria imprescindível um planejamento e de uma programação em grupo, feita por pessoas da área de Letras, competentes,e audazes, sem intuitos de picaretagem, fazendo-se assessorar, desta vez, em co-equipe, por profissionais da comunicação. Uma série de autores brasileiros que possam interessar a população acadêmica das escolas superiores de ensino, as escolas de segundo grau, videos infantis ou cd-rons sobre escritores brasileiros, voltadas para a literatura infantil, para as lendas e mitos brasileiros, para as grandes figuras folclóricas e tradições, heróis, artistas, líderes. Dependendo da qualidade do planejamento e da capacidade de execução, verbas federais, estaduais, bancárias, municipais e empresariais, podem abrir uma frente interessante que mobiliza pessoas adestradas e preparadas, para apresentar, com nível cultural, pedagógico e didático a história literária e o ensino da língua materna ou língua estrangeira. O vídeo é uma forma alternativa e agradável de difundir a cultura e os letrólogos deverão se adaptar aos novos tempos, associando a palavra à imagem, e explorar o sistema.

IX. REDAÇÃO PARLAMENTAR.

Estamos em Brasília, capital política, de grande expressão cultural e não devemos perder de vista a presença do Congresso Nacional em nossa cidade. De vez em quando, o Congresso, seja através do Senado, seja através da Câmara dos Deputados, realiza seus concursos para selecionar candidatos às várias áreas de atuação do Parlamento. Entre essas áreas, está a redação parlamentar, aberta àqueles que têm maior domínio da expressão, da língua portuguesa e da escrita vernácula. O redator parlamentar é encarregado de elaborar discursos parlamentares, relatórios ligados à atividade legislativa. minutas de indicações, de requerimentos e de pareceres, de pronunciamentos parlamentares ou legislativos em especial. Além do Congresso Nacional, as assembleias legislativas dos Estados e a Câmara dos Vereadores dos municípios oferecem este tipo de concurso e de emprego.

X.PLANEJADORES,COORDENADORES,
ORGANIZADORES DE CURSOS E CONGRESSOS,
AUTORES E DIRETORES EDITORIAIS

A transmissão dos conhecimentos obtidos através da pesquisa é uma das alternativas ao alcance dos especialistas em Letras. Esse trabalho porém, pode ser compensado e ampliado, quando os profissionais dos vários compartimentos da área se lançam no planejamento agressivo de obras de grande alcance acadêmico, didático, cultural e social e conseguem, nessa linha organizar planos de obras colaboradas por especialistas, como manuais escolares, em toda a abrangência temática, dicionários de língua portuguesa, dicionários ou publicações em fascículos ou em volumes de literatura brasileira, dicionários de linguística, dicionários de etimologia, dicionários históricos de língua portuguesa, dicionários de termos literários, dicionários de latim, dicionários de grego, dicionários de inglês, de alemão, de francês e de outras línguas estrangeiras modernas publicações monotemáticas de crítica literária, de hermenêutica, antologias de textos, ciclos de conferências, organização de congressos, de seminários e de semanas de Letras. É este um campo muito fértil e requer boa preparação técnica, capacidade de organização, talento, visão e pesquisa. É, certamente, um rendoso mercado de trabalho.

XI. TRADUTOR E INTÉRPRTE

Quando frequentamos uma boa livraria internacional ou nacional, entendemos razoavelmente o que significa o volume de traduções que surgem no mercado editorial, no Brasil e no exterior. Esse volume advém sobretudo a partir do inglês, do francês, do alemão, do espanhol e do italiano. Por outro lado, quando frequentamos congressos, simpósios, encontros, semanas, datas comemorativas e conferências percebemos também a importância da interpretação e o campo de trabalho que tem o intérprete de línguas estrangeiras no mundo industrializado.
O mundo da tradução e da interpretação representa hoje uma área superiormente especializada. Esse detalhe indica-nos que uma e outra devem ser tratadas com muito carinho e que o trabalho a ser exercido na área só pode ser feito com profissionalismo. Editoras e empresas nem sempre têm o cuidado de buscar os melhores profissionais. Algumas delas dão guarida a pessoas que não demonstram cuidado profissional em traduzir bem, sem atraiçoar o texto. O resultado disso são os serviços de má qualidade. Tradução e interpretação representam, efetivamente, um trabalho ao mesmo tempo criativo e prático, ou seja, um trabalho de competência e de viabilidade prática.
Há mercado para a tradução. Inicialmente, para entrada no mercado, torna-se necessária uma pesquisa cuidadosa junto aos dadores de trabalho. Em Brasília, existem boas oportunidades. Algumas instituições estatais estão dotadas de tradutores próprios, como o Senado, a Câmara, a Secretaria de Assuntos Estratégicos, a Presidência da República, o Itamaraty. Apesar disso, há sempre novos espaços nas embaixadas estrangeiras de Brasília, na Presidência e Vice-Presidência da República, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, Justiça Federal, Junta Comercial, Companhias aéreas internacionais, multinacionais, Polícia Federal, editora da Universidade de Brasília, principais empresas de importadores e exportadores, empresas de representação internacional. Além disso, existe ainda a classe dos tradutores juramentados, promovidos por concurso pela Junta Comercial de Brasília.
Sente-se a necessidade da atuação de uma Associação de tradutores em Brasília para defesa dos interesses profissionais do tradutor; indispensável seria também estabelecer em Brasília uma filial atuante da ABRATES, (Associação Brasileira de Tradutores), a fim de que o tradutor possa ter a ajuda trabalhista necessária.
O ofício da tradução deve ser profissional e mentalizado, a ponto de todos os profissionais se convencerem de que traduzir bem pressupõe uma habilidade treinada nos segredos da língua de partida e um conhecimento prático e treinamento na elaboração da boa linguagem vernácula, na língua de chegada. O mesmo devemos dizer do intérprete. Para ele atuar com sucesso, pressupõe-se um trabalho montado no conhecimento de duas ou mais línguas, uma segurança de conhecimentos, praticidade para aliar conhecimentos, relações humanas e público, e uma habilidade técnica especial. Diríamos que o mercado potencial é amplo e que merece ser pesquisado com cuidado na cidade de Brasília. Para além das instituições acima citadas e de campo especializado para tradutores juramentados, centrado na Junta Comercial, existe um mercado submerso, possível, entre profissionais liberais, universidades, escritórios de advocacia, organizadores de eventos internacionais, empresas,etc.

XIII. BELETRISMO

Durante muito tempo, o homem erudito, das sociedades clássicas e modernas, cultivava a figura do 'letrado', do poliglota, do humanista versado nas Belas-Letras, do professor culto que tinha orgulho em sua preparação docente, em sua suficiência linguística, conhecimento de línguas clássicas e línguas estrangeiras, capaz de traduzir, saber, pesquisar e ter conhecimentos gerais sobre várias áreas afins, etc. Uma figura dessas é rara hoje.
A verdade é que os campos de conhecimento se extremaram. A tendência predominante do mercado é ter um especialista, alguém versado num ramo: professor numa área de conhecimento, tradutor, intérprete, linguísta, teórico da literatura, historiador literário, semioticista, etc.
Os jovens de hoje dirigem suas aspirações para um campo prático demandando um diploma que lhe dê entrada bem remunerada no mercado de trabalho. No caminho da vida, estes jovens nem sempre têm orientação ou preparação adequada para escolherem, desde cedo, a profissão mais condizente com suas qualidades.
Para um jovem estudante de Letras, porém, há sempre um eixo possível, que importa descobrir enquanto o curso é feito. Pensando bem, a garantia de emprego vai-se desenhando na medida em que o estudante se prepara em suas matérias curriculares: ou seja, em língua portuguesa, em literatura brasileira e línguas estrangeiras, obedecendo a uma escala de mercado. Em qualquer escolha, uma rigorosa vigilância se impõe sobre o preparo técnico para o exercício da profissão. Possuir as habilidades práticas para colocar os conhecimentos ao alcance da clientela e das empresas que os demandam - eis a fórmula de chegada para o sucesso e a sobrevivência profissional. Com esta fórmula se constrói um bom currículo que vai render dividendos a curto e médio prazo.

XIV - CURSOS DE TREINAMENTO PROFISSIONAL

Uma das características da sociedade atual é o consumo, que se desdobra num amplo mapa de demandas. Na área cultural e docente, o diplomado em Letras terá de ficar atento para perceber como se movimenta a sociedade em Brasília e aquilo que toca seu emergente campo de trabalho. Hoje, na capital Federal, o volume de concursos e de eventos nacionais e internacionais é tão intenso, que surgiram várias microempresas com a intenção explícita de oferecer cursos de treinamento para funcionalismo público, Congresso, Bancos, tribunais, Polícia federal, Fundação educacional, vestibulares, etc. Esse volume de eventos e concursos coloca na praça muitas possibilidades de emprego, especialmente para o pessoal da área de português e de literatura brasileira (gramática, redacção, interpretação de texto e análise de obras literárias), de inglês ou de francês.
Em virtude dessa oferta, os próprios diplomados em Letras poderão se organizar em novas microempresas que explorem esse campo de trabalho ou então virarem trabalhadores dos planos de trabalho já existentes. Num plano econômico onde a margem de emprego está aumentando, é necessário buscar as oportunidades múltiplas que se abrem em leque, com chances para muitos. Para tudo, o essencial, no momento, é mostrar uma boa preparação técnica que possibilite assumir tarefas e um decoro profissional que garanta a tranquilidade e o respeito no mercado em que o candidato atua.
Além da atuação em fundação de micro-empresas e no magistério em grupos de preparação para concursos e treinamento, existe paralelamente, outro setor. É aquele que redige, seleciona e prepara os originais das apostilas necessárias ao curso. Isso pode representar uma boa entrada financeira para os que as elaboram.
O diplomado em Letras não pode simplesmente ficar assistindo a este movimento na cidade ou no país. Tem que organizar-se em Associação e logo a seguir cuidar do específico mercado de trabalho, em conjunto com os colegas da área, estabelecendo-o, defendendo-o, participando, na certeza de que muita mão de obra é atualmente explorada por pessoas que não são do setor, como médicos, pediatras, cientistas, biólogos e engenheiros ensinando ou traduzindo inglês, isto é, usando uma experiência linguística que adquiriram quando estiveram no exterior fazendo estágios ou graus de mestrado, de doutorado ou especialização

XV. SECRETARIADO EXECUTIVO

A empresa moderna caracteriza-se em seus quadros pela figura da secretária-executiva, que muitas vezes se transforma em chefe de gabinete do diretor ou do Presidente da empresa. Essa figura pode ser uma secretária com prática em redação oficial, com experiência em redação e experiência administrativa, e sobretudo secretária bilíngue, trilíngue e até em multinacionais mais sofisticadas uma secretária com conhecimentos em 4 línguas. Esta constatação mostra o quadro dinâmico da sociedade comercial e industrial, o mundo do 'bussiness'. A secretária-executiva é o motor e o traço de união entre a empresa e a clientela da empresa.
De olho nesta realidade, muitas Faculdades no país criaram seus cursos de graduação em secretariado executivo dentro do próprio curso de Letras. É portanto um mercado que interessa também e enormemente, sobretudo nas cidades maiores como S.Paulo, Rio, Porto Alegre, Brasília, Salvador, Recife, Fortaleza, Curitiba, Belém, Manaus e outras, para os diplomados em Letras. O mercado está nas empresas e é necessário buscar uma informação precisa para delinear o mapa do emprego. Em Brasília, de um modo especial, as embaixadas, os ministérios, os órgãos públicos mais importantes e os grandes bancos absorvem uma mão-de-obra qualificada. As jovens formadas em inglês, em português e em tradução devem aperfeiçoar, desde a Faculdade, sua aptidão para este tipo de trabalho, normalmente, promessa de bons salários. Tudo depende, evidentemente, da empresa, da preparação técnica, da adaptação pessoal e da complexidade do emprego.

XVI. CONTADORES DE HSITÓRIAS E DE OUTRAS ATIVIDADES ARTÍSTICAS

Além das atividades naturalmente decorrentes do perfil profissiográfico do diplomado em Letras, restaria ainda apelar para outros projetos criativos próprios de quem não se satisfaz com a cara formal do mercado. É justo pensar que na variedade pessoal e psicológica dos diplomados há sempre alguém que vê mais longe e capta idéias que ultrapassam o cardápio comum da formação profissional, idéias capazes de triunfar entre a população. Por isso mesmo, o letrólogo não pode deixar de criar novas idéias de mercado e de tentar novas atividades que ocupem espaços culturais desejados e aplaudidos pela sociedade.
Neste sentido, seria muito natural para pessoas formadas em Letras, criar, por exemplo, um grupo voltado para a leitura de textos dramatizados para crianças, adultos e idosos, tipo grupo de contadores de histórias, conectado com outras atividades artísticas. Esse grupo poderia ser também companhia de teatro infantil, ou uma equipe apta a compor textos de teatro infantil, e a criar um elenco teatral para apresentações cênicas de textos e a desenvolver uma atividade na faixa do variado mundo das crianças.
Se a alternativa fosse a criação de um grupo profissional de contadores de histórias, a novidade poderia estar em estender essa atividade para além do público infantil. O contador de histórias, bem treinado, poderá atingir todas as faixas de público, desde que saiba selecionar um bom elenco e organizar uma programação em teatros e salas que despertem o interesse entre as várias camadas sociais. Neste caso, é fundamental que o grupo tenha uma programação profissional: em primeiro lugar é necessário estudar a técnica da dramatização para apresentação da história; em seguida, deve cuidar da atualização e renovação, buscando novas histórias para enriquecer o elenco, introduzindo-as na programação; em terceiro lugar ter uma noção correta da programação, dos locais agradáveis de exibição, dos preços e da duração do espectáculo. - Este mercado existe organizado no Rio de Janeiro desde 1989 pelo Grupo Manifesto, formado por quatro professoras e um músico, grupo que trabalha com um repertório de mais de 50 histórias. Numa entrevista publicado pelo jornal “O Globo” em 8/11/98 observava-se: - “Esse é um mercado que está crescendo muito e há grandes oportunidades para quem realmente gosta de trabalhar a apalvra e passar a emoção por meio de histórias. É o tipo de atividade na qual se pode conciliar, sem qualquer conflito, emoção e meio de ganhar a vida”.
Outra alternativa ainda é a formação de grupos destinados à organização de shows poético-musicais. Não se trata de shows musicais, uma vez que esse mercado já está ocupado e é específico de cantores e músicos profissionais. Trata-se sim, da veiculação da poesia, da declamação, de espetáculos para divulgação de mensagens humans e de poetas significativos que calem fundo na alma popular : Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes, Fernando Pessoa, Sá-Carneiro, Cecília Meireles, José Régio, Castro Alves.

CONCLUSÃO

Os dados e o raciocínio que acabamos de desenvolver visam tão somente produzir uma informação básica e criar uma atitude de espirito voltada para a realidade do mercado do trabalho em Letras. De tudo o que se disse, uma coisa parece evidente: a de que, além do mercado tradicional do magistério, sempre interessante e acessível, outros caminhos se abrem para os recém-formados. Esses caminhos porém, pressupõem uma fecunda imaginação, que provoque “visão”, “intuição”', e leve a bolar 'novas formas de trabalho latentes no mercado, como criação de microempresas para treinamento e oferta de cursos, incluindo as tradicionais 'explicações” ou aulas particulares em português, língua estrangeira e redação'. O uso da imaginação certamente que pode produzir e encontrar novas formas de aplicação de conhecimentos numa sociedade consumista que nos traz variedade de formas de vida e complexos desafios, até profissionais.
Se é verdade que há uma legião infinita de diplomados em Letras, também é verdade que parte dessa legião pode ser direcionada para um mercado informal que se abre e se anuncia ou, dentro do mercado formal, criar opções próprias. Se há fornadas contínuas saídas das universidades e demais instituições superiores de ensino em Brasília, o número pode significar disponibilidade de mão-de-obra para muitas coisas que podem ser feitas na esfera de uma boa intuição, de conhecimentos adquiridos e na linha de demandas concretas da sociedade.
A pesquisa diz-nos que muitos companheiros de formação estão, em Brasília, subaproveitados, trabalhando como digitadores em ministérios, bancos, embaixadas e empresas, como secretários em repartições, como assistentes em micro-empresas comerciais, como empregados de balcão em livrarias, como ajudantes de creche, como cabeleireiros, como modelos, como gerentes de bar e até de minimercados. Os diplomas conquistados com sacrifício têm por vezes estes destinos pouco divulgados pela mídia, nada tendo a ver com a formação específica do universitário que frequentou os bancos da Academia em nível superior.


João Ferreira
10 de outubro de 2000
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