O homem é o único ser que reflete e portanto adiciona juízos de valor aos seus atos e aos atos de seus semelhantes. Diante deste paradigma, questiono: por que o homem, mesmo sendo capaz de refletir sobre seus atos e os atos de seus semelhantes, propõe algumas vezes tirar o mérito de seu próximo, mesmo quando este merece méritos devido a uma ação virtuosa?
Para melhor explicar o acima exposto, citarei um exemplo. Muitas vezes ao verem alguma figura do cenário político praticando alguma espécie de trabalho social que traz grandes benefícios a certa comunidade, a conduta de algumas pessoas é profanar termos não condizentes com a situação. Não caberia a estes alguns reconhecer os méritos deste político? Reconhecer o mérito e a virtude alheia, mesmo quando a ideologia do outro não seja cabível à nossa reflexão, parece-me mais sensato, até porque censurar a virtude alheia nada mais é que uma atitude moralmente censurável. Não estamos cair aqui em generalismos hobesianos de que o homem é puramente perverso e só pensa em si próprio. Mas, obviamente, há também o outro lado, o ato alheio que é indiscutivelmente condenável e totalmente isento de méritos, como os atos que atentam ao funcionamento de um sistema geral da comunidade, como um desvio de dinheiro público, por exemplo.
Certamente há diante de nós seres virtuosos, que não colocam-se diante de uma conduta ortodoxa e sabem, através da humildade - que o diga a conduta de Mahatma Gandhi - , distinguir de maneira sensata os atos benéficos e maléficos sem atacar a vontade comum. O reconhecimento da virtude e do mérito do próximo torna-se óbvia se a virtude abrange, através de um ato benéfico, uma maioria, tornando a crítica insignificante e um ato de má-fé, voltada unicamente para a 'promoção intelectual' do indivíduo que promoveu a crítica. O que explano aqui é que o ato de profanar críticas sem motivo claro a um ato benéfico para uma maioria é uma atitude descabida. Em que auxilia uma crítica a algo que é benéfico para muitos, como uma crítica a um trabalho social que funciona, por exemplo?
Em suma, concluímos ao analisar o não reconhecimento da virtude e do mérito do próximo, que o crítico desta situação procura simplesmente auto promover-se, resultando numa 'violência do egoísmo' , e consequentemente numa falta de respeito ao próximo com uma conduta autoritária, comprovando-se assim que o crítico acaba sendo infeliz e pervertido, frustrando-se diante da vontade e do bem comum.
Bibliografia:
SHAFTESBURY, Lorde. Uma investigação acerca da virtude e do mérito. In: Filosofia Moral Britânica - Textos do Século XVIII (Vol.1) -Trad. Álvaro Cabral. Campinas: Ed. Unicamp : 1996
HOBBES, Thomas. Leviatã. In: Os Pensadores(Thomas Hobbes). São Paulo :
Abril : 1996