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Artigos-->Quem Tem Medo do Lobo Mau ? -- 12/02/2002 - 18:16 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Às vezes somos surpreendidos com lembranças de fatos ocorridos durante a nossa infância. E a surpresa maior é quando verificamos que aqueles fatos, de certa maneira, guardam correlação com acontecimentos recentes.



Um dia destes lembrei-me do tempo em que morava em Parada de Lucas, um bairro pobre do subúrbio carioca, localizado na Zona da Leopoldina, no Rio de Janeiro, entre os bairros de Braz de Pina e Vigário Geral. Vigário geral, para quem não conhece, é aquele bairro onde ocorreu o célebre e trágico acontecimento envolvendo ação da Polícia Militar, que resultou na célebre “Chacina de Vigário Geral, onde centenas de moradores da favela do bairro foram covardemente assassinados.



Digo isso, apenas, para identificar o ambiente de violência e pobreza em que se vivia nos bairros pobres do Rio de Janeiro. Muito embora, é bom que se diga, naquela época a violência era um pouco menor. Mas já dava mostras do que poderia vir a ser no futuro.



Em Parada de Lucas não era diferente. A população era composta, em sua maioria, por gente muito pobre. Moradores de favelas, que viviam no chamado morro do Capela, onde funcionava a Escola de Samba Unidos da Capela, que depois acabou fundindo-se com outra, também do bairro, a Aprendizes de Lucas, e que hoje, passados tantos anos, não sei se ainda existem.



No bairro também existia gente de outras classes sociais. Gente de classe média baixa, de classe média alta e até gente muito rica. Moravam em ruas asfaltadas, em casas ou apartamentos, compartilhando vizinhança, pequenos comerciantes, funcionários públicos e trabalhadores diversos, além de comerciantes bem sucedidos, como era o caso do Sr. Manuel, dono da rede de padarias que abrangia os três bairros citados.



Seu Manuel, além de ser o mais bem sucedido comerciante, ou por causa disso, exercia influência na política local. Contribuía com as campanhas eleitorais dos vereadores (naquela época, a Cidade do Rio de Janeiro, capital do Brasil, era governada por um prefeito) elegendo a maioria deles. Também costumava emprestar dinheiro aos comerciantes locais. Desse modo, sua influência no bairro era grande. E seu controle sobre quase tudo era incontestável. E assim, no meio de tanta miséria, acontecia o paradoxo do enriquecimento do Sr. Manuel.



Minha família poderia ser considerada como de classe média Papai exercia a profissão liberal de alfaiate, em sua própria loja, e a mãe era funcionária pública federal. Naquela época, aliás, quem tivesse um emprego no serviço público, além de “ganhar bem”, para os padrões da época, possuía alto conceito no comércio local.



Seu Manuel era casado com dona Tina. Tinham um único filho, o Sérgio. Serginho, como era conhecido, era um menino bem branquinho, de cabelo louro e olhos azuis, características herdadas dos pais, que eram portugueses.



Era nesse ambiente que a meninada brincava, sem se dar conta das diferenças sociais a que se viam obrigados a conviver. As brincadeiras da molecada aconteciam na rua principal do bairro. E delas todos participavam: meninos pobres vindos dos morros próximos do bairro, como o Morro do Capela, crianças de situação mais ou menos estável e gente rica, como o Serginho, considerado o mais rico de todos.



As brincadeiras da época, quase todas, exigiam grande esforço físico. Não haviam brinquedos, digamos assim, elaborados. Assim é que as brincadeiras giravam em torno de campeonatos ou disputas envolvendo pipas, pião, bola de gude, futebol de campo, corrida, lutas de Box, capoeira e assim por diante. E, de tempos em tempos, caçávamos passarinhos e rãs para nosso próprio consumo.



Estas brincadeiras, levadas a efeito na rua e sob o sol forte, acabavam por deixar todos os meninos mortos de sede e de fome. E o Serginho, que a mãe obrigava a recolher-se mais cedo, provavelmente por questões de segurança, resolveu um certo dia convidar todos os colegas para que fossem até sua casa, a fim de lá continuar a brincadeira e participar, junto com ele, de um lanche.



E assim a coisa pegou. Sempre tinha o lanche, que a turma não dispensava. Até porque, era de se supor que o Sr. Manuel, na condição de proprietário das melhores padarias, não iria deixar faltar nada em sua casa. E assim esse lanche ficou famoso. Tinha de tudo. Pão francês, pão doce, bolo, café com leite, regado a manteiga, queijo ou presunto. Muitos desses alimentos a maioria da meninada nem conhecia; ou se conheciam, alguns nunca tinham provado.



Mas essa “mordomia” tinha um preço. Serginho, antes do lanche, impunha certas condições. Nestas brincadeiras, diferentemente daquelas da rua, quem dava as ordens era ele. E ele era quem determinava quem iria fazer o papel de polícia, de bandido, quem iria ficar preso, quem iria ficar amarrado, quem iria apanhar, e assim por diante. E todos, claro, por causa do lanche, se sujeitavam ao comando do Serginho.



Serginho passava a ser o poderoso chefão. Mas tão logo acabava a brincadeira e o lanche, todos os meninos iam correndo para suas casas. Voltavam para suas realidades. Alguns deles ainda levavam uns trocados e algumas peças de roupas usadas que a mãe do Serginho se encarregava de providenciar.



Mas os anos se passaram, crescemos, e cada qual seguiu o seu destino. Hoje eu me lembrei destes fatos e, não sei porque, resolvi compara-los com o que acontece com os Estados Unidos e o resto do mundo. E achei a situação, realmente, muito parecida com aquela vivenciada pelo Brasil e os EUA.



Os Estados Unidos, tal qual os pais do Serginho, têm interesses muito diversificados. E têm bastante poder. Mas o interesse maior, todos sabemos, é de cunho econômico. E para isso, fazem de tudo. Pretendem convencer o resto do mundo que agem movidos pelo bem comum. E praticar o bem comum, para eles, todo sabemos: é dar esmolas, emprestar dinheiro, oferecer ajuda e criar necessidades. Assim mantêm todo mundo sob sua dependência e controle.





Em excelente artigo, publicado no Correio Braziliense, de 28 de janeiro de 2002, o Professor Juan José Verdesio, da Universidade de Brasília, nos dá uma pista acerca desses questionamentos. Por que tanta dificuldade em encontrar a paz no Médio Oriente? Por que tanto empenho da Rússia em arrasar com a Chechênia? Será que os conflitos ocorridos na ex-Iugoslávia, com tanto derramamento de sangue, se deu por causa de questões de ordem étnicas e sociais mal resolvidas? Por que os EUA invadiram o Afeganistão sem consultar a ONU?



A resposta, segundo o professor, estaria na luta que vem sendo desenvolvida pelos países interessados no controle das últimas e maiores reservas de petróleo e gás natural do mundo, situadas no Mar Cáspio.



O Presidente Bush, como é sabido, é um Texano, legítimo representante das oligarquias que controlam grande parte da exploração e comércio de petróleo e do gás natural. De outra parte, o Médio Oriente possui a maior reserva mundial de gás e petróleo. As grandes reservas de petróleo do mundo já foram localizadas. O único lugar pouco conhecido é a Antártida, inacessível por causa de sua grossa camada de gelo.



A abertura comercial decorrente da extinção da URSS disponibilizou para o comércio internacional as enormes reservas de petróleo que estão localizadas no Mar Cáspio. E muitas companhias do mundo inteiro estão interessadas em pegar uma fatia desse bolo. Mas a dificuldade reside em encontrar acesso para se chegar ao ma, sem intervir nos países localizados ao seu redor. Segundo o prof. Juan há três rotas possíveis. A Rússia tem interesse pela rota que passa pela Chechênia, coma qual empreendeu forte luta,que arrasou com aquele país.



A segunda rota seria o caminho que vai para o Norte e Noroeste, passando pela Croácia. Esta rota seria de interesse da União Européia e mais doze países do Cáucaso, que já firmaram entendimento a respeito. A Croácia, todos sabem, foi objeto de conflitos, que resultaram na deposição do ex-presidente Slobodan Milosevic que, aliás, a partir de hoje, enfrenta julgamento em Corte Internacional, onde ele é acusado de genocídio e poderá, segundo a imprensa britânica, ser condenado à prisão perpétua.



A terceira rota, de interesse dos EUA, passando pelo Afeganistão ou pelo Irã e Iraque,e vai diretamente ao mar aberto, sem passar pelo Golfo Pérsico. Coincidentemente, são esses o s próximos países ameaçados de invasão pelos EUA.



Agora as coisas ficam um pouco mais claras. Quando somos crianças, não percebemos os fatos sob determinados ângulos. As crianças até acham graça das histórias como as de Chapeuzinho Vermelho, que apesar de correr perigo de vida, consegue ser atraída e enganada pelo lobo. Mas quando crescemos, começamos a prestar mais atenção às histórias quer nos contam, e verificamos que muitas delas poderiam ter outro final, bem mais feliz, se determinadas autoridades de muitas nações não tivessem tanto medo do lobo mau.

Domingos Oliveira Medeiros em 12 de fevereiro de 2002





















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