ENCONTRO COM UM VELHO SENHOR
( falácias do natal )
Encontro um Velho Senhor, desagendados
dia, hora, mês, sequer algum evento.;
mantém os olhos tristes, membros arqueados
sem me deixar escolha, algum alento.
Olho-o bem fundo, dentro d’alma
mas sem se impacientar, serenamente,
fita-me de alto a baixo, e aquela calma
invade-me soberana e imensamente.
Coube-nos conviver durante uma jornada
cheia de atropelos, sins e nãos,
de modo que na ausência de escada
prevalecessem apenas, corrimãos.
Apreendo um pouco mais suas mazelas
durante milhares de segundos percorridos
vitórias, algumas, sim, mas com seqüelas
marcas inexoráveis em seus sentidos.
Ah velho ano que te postas de joelhos,
perante tantas espirais de uma estada
feliz (ou infeliz?) quem te aceita conselhos
gratuitamente ofertados na enxurrada!
E será sempre assim: nasces, vives, feneces
feito as folhas no paço da existência,
em meio ao caos, à barbárie e interesses
desse mundo, ébrio mundo em decadência.
E te respeito a ti e a teus acólitos,
horas, dias e noites quente-frias,
ainda que desconheça tais propósitos
de me tolheres algumas alegrias.
Me despeço então da idiossincrasia,
desse noticiário incolor, maniqueísta
eu mesmo, sob mim e alguma tirania
donde extraí motivo mais simplista.
Está bem. Aceito teu louvor de morte
iminente tal como acontece amiúde,
e se repete e repete, fraco e forte,
sob um terrível som distante de alaúde.
E mais se me dissessem, descreria
que renasces de cinzas, Fênix outra vez
atravessando o corpo de algum dia
a te reter no estômago do mês.
Inclinar-me a cantar-te em fim de festa
é inútil, infantil, dói-me por isso,
sento-me à luz que passa sob a fresta
dessa última esperança em teu feitiço.
Dezembro é teu maior pesar e moribundo
não me engana teu canto gregoriano,
mantra singular, monótono, profundo
quando se enceta ao cair do pano.
Adeus. Fique contigo esse motivo brega,
inventado no marketing da hora
embalagem idiota, cuja entrega,
encontra-me quando já me fui embora.
Morre e renasce com e sem percalço,
ficarei por aqui enquanto agonizas,
a contemplar-te a dor no cadafalso,
se é mesmo disso que precisas.
WALTER DA SILVA
Aldeia Camaragibe Pernambuco
28 de dezembro de 2002.
Inserido em “OS RITOS DA AURORA” ®
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