Usina de Letras
Usina de Letras
166 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62270 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10450)

Cronicas (22539)

Discursos (3239)

Ensaios - (10381)

Erótico (13573)

Frases (50661)

Humor (20039)

Infantil (5450)

Infanto Juvenil (4778)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140816)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6204)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->A carpintaria literária de Alaor Barbosa -- 22/03/2000 - 15:23 (Ronaldo Cagiano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A carpintaria literária de Alaor Barbosa

Ronaldo Cagiano

Autor goiano radicado em Brasília, dono de uma vitalidade intelectual e criativa, Alaor Barbosa merece, como poucos, um lugar de destaque na bibliografia nacional. Sua obra não deve nada às melhores do gênero, mas por culpa e obra de uma perversa lógica editorial (que visa o lucro, em detrimento da solidificação de obras de relevo), ainda não caiu nas graças da mídia, que prefere a subliteratura e o lixo literário estrangeiro em lugar dos bons escritores nacionais.
Com uma respeitada e rica bibliografia, seus romances e contos guardam uma íntima ligação com sua região e seu povo, presentes em alto estilo em sua obra. Com rara habilidade, vai buscar nos rincões de seu Goiás bandeirante a dimensão humana e telúrica que há nas coisas simples. Ao transplantar essas histórias tão comuns, trabalha plasticamente a realidade e, como um carpinteiro cioso de seu estilo, seu senso de elaboração é esmerado, na construção de tipos, na conformação literária e poética das situações corriqueiras da vida interiorana, que merecem dele um tratamento cuidadoso, artístico. E na voz de figuras tão peculiares, como Bertolino d Abadia, cujas memórias enfeixam um denso volume, depois de longo tempo anotadas por um detido interlocutor, o advogado Rafael Santoro Noronha, este universo vai tomando espaço imagético e sensorial, com uma projeção estética muito especial. As anotações das 'Memórias do nego-dado Bertolino d Abadia' foram coligidas num relato sincero e pungente. Alaor Barbosa, com fluência, estilo e fôlego, harmonizando forma e conteúdo, ficcionou numa obra densa e tecnicamente bem trabalhada, as lembranças e memórias do personagem central, Bertolino d Abadia, cuja vida multifária e cheia de perdas e desilusões espalham-se nessas memórias sentimentais. Como sugere o autor, este riquíssimo mosaico foi-lhe passado por outra pessoa e, durante muitos anos, Alaor fez anotações e intervenções, até enfeixar a narrativa na estrutura adequada. Com isso, o texto guarda uma unidade temática, não se perde em vacilos estilísticos, o que só pôde ser alcançado através da pena desse experiente escritor. Com segurança narrativa, sem nenhum rebuscamento ou rebaixamento da linguagem, o autor vai dando voz e vez às histórias e gente simples de Imbaúbas e elas projetam suas ressonâncias, seus dilemas, suas esperanças e também seus delitos e delírios casuísticos.
Toda a obra de Alaor Barbosa é marcada pela autenticidade: uma linguagem direta, sem lugar para pieguices, regionalismos forçados, experimentalismos modernosos. Seus textos fluem, sem carregar nas tintas ou descer ao simplismo, preocupado com o exprimir legítimo da comunicação de seus personagens, protagonistas de muitos climas e ambientes, que ele viu e sentiu. É pungente e claro, não se faz entender por metáforas, que muitas vezes dissimulam a incapacidade do narrador de construir diálogos afinados com a realidade. Barbosa recompõe todo um cenário trazido à baila por Bertolino neste excelente romance, preservando a linguagem e a imaginação do narrador - homem comum, cheio de tiradas e aforismos - , mas dando ao coloquial uma conformação literária,, centrando-se no essencial, onde podemos perceber os arquétipos de um mundo característico, com seus totens, sua oralidade, suas variações idiomáticas, seus atavismos, suas idiossincrasias. E o autor reconstrói muito bem esse universo original com suas situações- às vezes tão cruas, às vezes tão sentimentais, mas verdadeiras - e sabe retratá-lo porque experienciou essa realidade e a resgata com fidelidade não piegas, com um vigor que só os escritores ambientados em mundos análogos - como Guimarães Rosa, José Lins do Rego, Bernardo Élis, Carmo Bernardes, Graciliano Ramos e José J. Veiga - sabem, com argúcia, contar.
Imbaúbas, a fictícia comuna criada por Alaor Barbosa, onde se passam suas histórias, funciona como alter ego de Morrinhos, sua terra natal. Se - tradicionalmente, e a título de prevenção - costumam dizer os criadores sobre suas criaturas, que nomes, personagens e acontecimentos não se confundem com a realidade e, se por acaso há algo parecido é apenas coincidência , na realidade os mundos que vivemos é que nos fornecem matéria e circunstância para nossa escritura, quando, muitas vezes, parece tênue a fronteira entre realidade e ficção. Morrinhos é, nesta perspectiva estética, o vaso sagrado do autor, dentro daquele prisma criativo de que nos falou Adolfo Casais Monteiro, para quem 'a arte não é invenção pura; o artista é como que um cadinho em que se realiza a mistura dos ingredientes que são o pó da experiência'. Alaor sabe disso. E ele transplantou, com total autonomia elaborativa, a sua experiência pessoal, que a gente vai (re)vivendo em suas histórias as insofismáveis realidades de nossas outras pequenas histórias. Nada há de exagero, de mistificação, de espúrio, porque em seus livros é o mundo mesmo que plasma, sem rodeios, sem camuflagens ou manipulações. Assim como a Dublin de Joyce, a Maconde de García-Márquez e o Tejo de Pessoa, a Imbaúbas de Alaor , imagem recorrente nos seus livros - e parafraseando aqui João Cabral de melo Neto - 'está na memória como um cão vivo dentro de uma sala', é sua aldeia e nela recolhe os elementos para sua obra. E é ela a sala de visitas de um mundo às vezes inusitado, às vezes tão real. E é a partir dessa realidade, de nossa aldeia interior e geográfica, que encontramos a humanidade das coisas, a nervura do cosmopolitismo projetado através de nosso quintal, como quis Tolstói.
Desde seus primeiros livros - Campo e Noite, Os Rios da Coragem, O Exílio e a Glória - até a mais recente safra - Picumãs, Caminhos de Rafael, A morte de Cornélio Tabajara e Memórias do Nego-dado Bertolino d Abadia - Alaor Barbosa vem firmando seu nome no rol dos melhores escritores brasileiros. Se ainda não estourou, deve-se isso tão-somente ao isolamento injusto que a mídia - sempre atenta aos modismos e negligente com o valor mais alto da literatura nacional - acaba impondo aos escritores de Brasília e do centro-oeste. Não obstante essa negligência dos meios de comunicação, Alaor Barbosa, cujo talento e versatilidade nada devem aos melhores representantes de sua geração, vai seduzindo leitores e críticos com sua safra renovadora. Tanto é que tem recebido, ao longo de sua vida literária, a melhor acolhida. A história literária deste País ainda fará justiça a um autor de sua envergadura.
(Jornal de Letras, janeiro/2000)





Mapeamento literário e histórico

Ronaldo Cagiano


No panorama da literatura brasileira contemporânea, o nome de Assis Brasil desponta como um dos mais dedicados às nossas Letras. Autor prolífico, natural do Piauí e radicado no Rio de Janeiro, com mais de uma centena de obras, vem, ao longo de sua caminhada literária promovendo a literatura nacional nas mais diversas instâncias. Além de seus projetos pessoais - contendo novelas, romances, ensaios, prosa infanto-juvenil, todos muito bem recebidos pela crítica - ainda dedica-se a mapear a produção literária e sistematizar conceitualmente em seus romances, importantes fases de nossa História política e social.
Vale ressaltar que há algum tempo vem dando ênfase a um trabalho de notória importância, catalogando, em densas antologias, os principais poetas do século em diversos estados. Dessa iniciativa de fôlego concretizou uma dezena de antologias a que deu o título de 'Poesia do Século XX', aí incluídas, a Fluminense, a Mineira, a Goiana, a Sergipana, a Potiguar, a Baiana, a Cearense, a Piauiense,a Maranhense, a Capixaba, numa pesquisa que pretende cobrir todas as unidades da federação, o que, a final, vai se constituir num completo mapeamento de importantes autores e obras que marcaram este século, aí consideradas todas as escolas e tendências estéticas, numa empreitada sem similrar.
Por outro lado, dedica-se Assis Brasil a outra também fascinante experiência estética, de grande envergadura. Trata-se da 'Coleção Brasil 500 anos: Das Origens à República', uma preciosa releitura de relevantes fatos históricos, que, na pena deste autor tarimbado, adquire uma nova perspectiva no campo da compreensão de nossa realidade. Com sua habitual acuidade intelectual, Assis Brasil repassa situações emblemáticas de nossa formação social e histórica e, sem perder o senso de fidelidade dos acontecimentos, tece com esmero essas tramas sob a ótica do romancista, sempre cuidadoso na observação de detalhes e situações, muitas vezes negligenciados pela históriografia oficial. Debruçado sobre nosso passado, produziu 4 volumes: 'Bandeirantes - Os Comandos da Morte'; 'Paraguaçu e Caramuru: Origens Obscuras da Bahia & Villegagnon: Paixão e Guerra na Guanabara'; 'Tiradentes: Poder Oculto o Livrou da Forca'; e 'Nassau, Sangue e Amor nos Trópicos & Jovita, a Joana D Arc Brasileira', todos com selo da Imago Editora, do Rio.
Estes ciclos históricos são revisados com precisão de informações e a leitura dessas obras dão-nos uma nova dimensão de nossos heróis e dos nossos acontecimentos, com a sensiblidade de um escritor experiente que também enxerta certa ironia em sua prosa. Além disso, podemos notar que certos episódios e protagonistas, muita vezes ignorados, ou secundários para os historiadores, adquirem uma outra projeção, com uma visão mais abrangente de nosso malcontado projeto civilizatório, que tantas vezes escondeu a verdade e criou falsos mitos. Nesses livros, a História é romanceada com poesia e se nos apresenta suas lições. Como diz o escritor Nertan Carneiro, 'os romances de Assis Brasil, em síntese, são um alerta pra o nosso futuro - é como se o escritor dissesse com todas as letras: se repetirmos os nossos erros, o país, que já anda à deriva, sucumbirá de vez, perdendo o seu perfil de nação e a sua grandeza como povo: Fernão Dias Paes, João Ramalho, Borba Gato, Tibyriçá, Caramuru, Paraguaçu, Villegagnon, Bartyra, Tiradentes, Nassau, Jovita Alves Feitosa são testemunhas da tragédia da conqusita e da derrota'.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui