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Ensaios-->Teoris, métodos e luta política -- 10/03/2000 - 10:06 (gilberto luis lima barral) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos








Teorias, métodos e luta política- a organização do processo de trabalho na produção de conhecimento e as relações de poder.


A questão da produção do conhecimento, a quem ela serve e como ela se constrói dentro da sociedade é um problema que começou a ser discutido, com mais freqüência, em Marx que percebeu claramente que a divisão entre trabalho manual e trabalho intelectual correspondeu a uma etapa da divisão social do trabalho, e em grande prejuízo, desde sempre, para as classes ditas do trabalho manual. Mas, diferentemente, por exemplo de Hegel, e toda uma tradição científica que relacionava a questão da produção do saber ao mundo das idéias, da construção abstrata, a ciência da história ou o materialismo histórico que Marx veio a desenvolver não concebia esta separação epistemológica entre idéia e realidade ou seja para Marx era na práxis, na história do movimento camponês e operário, na história das lutas de classes que se poderia captar o movimento da história e produzir conhecimentos sobre essa realidade. Assim não haveria conhecimento verdadeiro se este não estivesse referenciado numa realidade imediata e preso aos movimentos da história. Mais ainda, para Marx essa divisão entre teoria e prática correspondia exatamente ao tipo de conhecimento que era produzido pelas classes dominantes e que buscava separar os trabalhadores do processo de produção da ciência.
Em Foucault, por exemplo, temos que esta questão da separação entre teoria e prática foi o que desde o início não possibilitou um conhecimento verdadeiro das identidades sociais e em particular do problema da loucura. Nos seus estudo sobre a loucura, que já são um exemplo clássico, ele diz exatamente que “a relação que a ciência estabeleceu com a loucura desde o início de maneira equivocada e preconceituosas, porque implicada no seu objeto de estudo, não dá conta de responder de maneira objetiva o fenômeno, mas apenas detectá-lo”(...), porque se faz “não no sentido da compreensão e de uma terapêutica eficaz, mas numa tentativa de colocar o paciente como um indivíduo anormal, de comportamento desviante e portanto que deve ser posto à margem da sociedade”. (Farr, Robert).
Foucault também nos mostrará, no seu discurso da aula inaugural no College de France , que existe um estilo de fazer Ciência promovido pelas academias e que é, na maioria das vezes, tomado como o verdadeiro conhecimento, mas que têm muito mais de relações de poder que de saber verdadeiro. E aqui podemos ver com mais clareza a questão da ideologizacão do discurso científico, da tomada de posição do cientista diante do seu objeto de estudo de acordo com os seus interesses por este objeto que Weber coloca como inerente ao próprio cientista.
Outro autor que estudamos e que trata do problema do conhecimento científico é Gramsci, mas este toma a perspectiva de que esse conhecimento pode ser organizado pelos intelectuais no sentido de uma luta pela busca de mais poder pelas classes diversas dentro da cultura. A questão da organização da cultura, que ele vê como a instância das lutas, da exposição e dos efeitos da complicada
relação entre a estrutura e as superestruturas, pode ser pensada na disputa entre os intelectuais orgânicos e os intelectuais tradicionais e na possibilidade dessa classe orgânica conseguir, nesse embate, produzir suas instâncias de poder. Para Gramsci, me parece enfim, que a questão do conhecimento passaria pela questão do poder, do estado, da correlação de forcas das classes dentro da própria organização da cultura, numa perspectiva, onde embora haja um bloco que domine o campo do conhecimento, as classes podem lutar e disputar um espaço. E sempre da perspectiva marxiana, que é onde Gramsci vai buscar sua referência teórica, que a teoria deve estar em relação a realidade e nesse sentido a teoria seria sempre uma hipótese, pois a realidade comporta elementos que jamais podem ser percebidos em sua totalidade, e enquanto cientistas podemos conhecer apenas determinadas relações dos objetos com determinadas realidades.
Temos ainda que pensar a produção do conhecimento da perspectiva dos movimentos sociais, da luta de classes, do movimento dos trabalhadores, pois é na dinâmica desses movimentos que podemos perceber, de alguma maneira, os movimentos da história, as suas tendências e as possibilidades que se abrem com este tipo de conhecimento que leva em conta sempre a realidade onde os objetos estão inseridos, e onde podemos captá-lo no que ele teria de singular e único e aqui o corpus teórico, sendo parte do processo social, deve funcionar como uma hipótese, ou seja não como algo que engesse a realidade em função de uma construção conceitual, mas que coloque novas perguntas ao objeto e que traga novas respostas desse objeto.


Teoria Tradicional e Teoria Crítica- Horkheimer

Quando pensamos na existência de uma Ciência que se liga a uma classe social talvez não estejamos a falar de uma Ciência como a imaginou Horkheimer. Segundo esse autor há um erro tácito na ciência que pretende separar o objeto de estudo da realidade, ou numa ciência social que busque, através de suas teorias preexistentes ao cientista, dar algum sentido aos objetos da realidade. Este tipo de Ciência que busca elevar a razão como a única forma de conhecimento possível da realidade é próprio da era “ liberalista e do neo-kantismo que pretendem que haja um espírito universal e eterno”, acima dos indivíduos e da sociedade, mas reduzir a realidade à atividade teórica do cientista é um erro, ou antes uma ilusão que a ciência burguesa, e a autoconsciência errônea dos cientistas burgueses promovem exatamente por não perceberem esses cientistas que eles também estão implicados no próprio objeto que estudam e que estão inseridos numa realidade mais ampla. Por isso eles tem dificuldade em compreender porque em sua visão tradicional a ciência percebe a realidade como algo dado e anterior a eles que somente pode ser interpretada com os ferramentais teóricos preexistentes, nesse sentido o cientista fica amarrado aos conceitos e não chegará ao que busca conhecer dos objetos, e nem mesmo conseguirá levantar a metodologia que lhe possibilite levantar hipóteses, enfim abordar o objeto.
O objeto que um cientista crítico busca conhecer deve ser pensado dentro da perspectiva de sua imersão na realidade que é sempre parte dos movimentos sociais e históricos, e que esta sempre em transformação pelos indivíduos e seus processos de trabalhos de modo dialético e em interação com o modo de produção de uma época. Recorrer à história, aqui é parte do método.
Pensando assim podemos perceber melhor a pretensão da Ciência burguesa que surge a partir dos séculos XVIII onde o capitalismo na sua expansão parecia ser a única lógica possível, e nesse sentido a Ciência corresponde a esse momento do modo de produção.
Mas com os movimentos dos trabalhadores e das classes produtoras que vemos imergir na Europa, principalmente a partir da revolução de 1848, começa um movimento na ciência no sentido de perceber nas práticas cotidianas, na práxis da própria sociedade capitalista a existência de classes diferenciadas e mesmo antagônicas, uma forma de conhecimento novo que devesse levar em conta os indivíduos enquanto sujeitos cognitivos e perceptivos que constróem as suas realidades, que constróem um conhecimento novo nas suas relações com os objetos e mesmo com a natureza a sua volta. Separar o indivíduo de suas práticas sociais, como também separar a Ciência do cientista, o saber do fazer, e o pensar do agir são manifestações de uma ciência que se pretende neutra e que na verdade não encontra bases para se estabelecer. Em Marx podemos ver claramente a sua posição a favor da classe dos trabalhadores. Em Weber podemos ver a sua defesa do indivíduo enquanto ser produtor de racionalidade e conhecimento, e do cientista enquanto sujeito intencional.
Mas não é a tomada de uma perspectiva de classes, burguesia ou proletariado, que irá conferir cientificidade, ou que construirá um corpus científico crítico, mas o modo como o pesquisador organiza e ordena os seus dados para explicar o objeto que estuda, expondo as contradições desse objeto, as suas faces estimuladoras e transformadoras. “ O vigor desse processo se manifesta na possibilidade constante de tensão entre o teórico e a classe, à qual se aplica o seu pensar”. Aqui podemos voltar novamente à questão da luta de classes, dos movimentos das classe sociais no sentido de se fazerem inseridas no processo de construção de um conhecimento que seja crítico e transformador das condições humanas, de um conhecimento que leve em conta não apenas uma lógica cartesiana, mas uma lógica dos processos sociais onde os homens surgem como sujeitos com percepções de mundo, construtores de uma ordem social em permanente transformação.
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