Usina de Letras
Usina de Letras
182 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62188 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10352)

Erótico (13567)

Frases (50593)

Humor (20028)

Infantil (5426)

Infanto Juvenil (4759)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140793)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6184)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->TOLINHO & BESTINHA IV -- 20/10/2002 - 09:47 (LUIZ ALBERTO MACHADO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando a lei do semideus é cachaça, tapa e gaia

Tolinho nunca foi de na hora agá do pega-prá-capar dar uma de ré-prá-trás, tá doido? Farrapar não fazia parte do seu glossário, podendo, no máximo, tapiar, enrolar, mas abrir-da-vela, ôxe, nem morto. Ele sempre foi do tipo de se atolar cobrindo até o cardan numa areia movediça, dando um boi para não se meter em bronca e uma boiada quando fosse compelido a se infincar nela, num saindo sem antes fazer imensuráveis estragos na reputação dos envolvidos. Daí dizer que ele já cagou-fora-do-caco, nem mesmo o seu primo, o Lombreta-boca-de-frô, desde os tempos fagueiros da infância, seria capaz de conferir por elucidação.
Excetuando-se o pipôco de arrancar um colhão e a fuga de medo da feiosa, até então Tolinho nunca desfez palavra de rei. Tinha lá suas pacutias, mas dissesse o dito, tava feito.
- Quando deus dé bom tempo e vergonha nos homens, eu indireito o rumo da venta na minha vida! - arremedava todo azuretado.
O Lombreta mesmo se ria e dava a maior corda para as pabulagens do alesado de quando vitimado dalgum enredo desproposital de abelhudo funesto, desbragava-se na maior das gargalhadas mangadeiras. Este testemunhou tantos infortúnios quanto presepadas malévolas que o fuleiro impunha aos de sua convivência de quase pocar o tampo do bucho de tão risível que resultava. É que Tolinho, quer queira, quer não, apesar de tudo, tinha lá seus códigos de honra um tanto reprováveis pela conduta usual. E enumerava um a um arrotando probidade:
- Pirôbo é raça que mereci arrespeito, num inxeste na face da terra coiteiros meiores prá se fazer boi-de-fogo! Qué encrenca? Boate prá eles quaiquer enredo que o negoço fica dum jeito que o diabo gosta. Adispois, é só esperá a parma da mão e o couro ficar quente numa bravata! Outra? Muié é a meiór e a pió coisa do mundo! A de casa, é feito galinha de granja: insossa, chêrosinha e cheia de bronca; as da rua, feito galinha de capoeira: come merda, nojenta e tem uma carne boa, suculenta e tome-lá-dê-cá. Família? só presta prá tirar retrato, se der trela se mete até onde num é chamado e cheio de direito, tudo sócio nas benesses e pinoteiros na hora do vamos ver. Home só se tem dois tipos: os amigos prá gente caçoar, tirar proveito e tratar por camarada; e os inimigos, prá gente esfolar o gogó até num prestar mais prá nada num descarte.
Pelo visto, o bicho era ineivado, viesse do jeito que fosse ele traçava no peito e na raça. Lombreta lá, só atocaiando o desfecho.
Isso tudo Tolinho aprendera na escola da vida e no meio da safadeza até a metade do ginasial, vez que ele abominava o inventor de estudo, coisa que ele achava a mais sem graça de todas as coisas inventadas, desinventadas e por inventar na face da terra.
- Estudá prá quê? A vida é a maior escola prá dar folgança na costela de quaiquer vivente!
E nessa escola deu-se de enganchar as pernas nas coxudas insones mais desditosas das paragens. Era uma macacada triste a chavecada do sujeito no juízo das mariposas. Ôxe, parecia mais o Don Juan senão Casanova de sustância irrepreensível. Num tinha dia dele num bater umas três bronhas e ainda deixar umas cinco sedentas pulando de gôzo com a mão na cabeça, sem contar os pederastas destrambelhados que dormiam com o aro do bozó dilatado. Era. Tinha ocasião até dele se amigar com umas seis ao mesmo tempo, dando conta do recado sem pestanejar. E avalie que o cara era rancôlho, imagine se...
Certa feita, a tuia de mocréias deu uma reviravolta na sua vida, uma ingrisiou com a outra, ficaram de mal, juraram desforra e ele costurando tudo na conversa. Nem diga: as seis, mais trombudas que barangas injuriadas, se juntaram num motim e, armadas de penico, bobes, lancheiras, tamancos, frasqueiras, prochetes, berilos, atacas, tarraxas, flandres, pinças, frascos, brebotes e tranqueiras, deixaram-no no canto da parede, exangue e com os olhos prontos para pular fora de tanto medo, findando entrincheirado a todo tipo de beliscada e sapecada de utensílios no quengo, do cara endoidar-se e aboletar-se numa maca hospitalar compulsoriamente por breves oito meses, estatelado. Sofreu na pele a desforra delas, jurando num querer vê-las nem pintadas em noite de correr bicho. Mas essa não foi a primeira e nem seria a única a desandar na sua vida. Ainda hoje o bicho anda enovelado com umas broncas assim de arrepender-se desde o dia que nasceu macho.

© Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui