Usina de Letras
Usina de Letras
14 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62282 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5457)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Contos-->Crepúsculo -- 06/07/2000 - 21:15 (Eliezer Luna Alencar Feitosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O sol já havia baixado. Besouros tilintavam na lâmpada do poste que ficava na calçada da casa grande. O silêncio da noite era perturbado por histórias dos vaqueiros que, como de costume, reuniam-se no alpendre para contar fatos, lendas e relatos do dia de trabalho. Como o dia seguinte seria domingo, tal conversa duraria até tarde.
A lua clareava o terreiro e era cúmplice das mais diversas narrativas. Falavam de caçadas fenomenais, costumes de infância, dos perigos da mata e das lendas que nela viviam. A cada relato, uma inspiração nova surgia para outro continuar a prosa.
Era madrugada e os moradores da casa grande, o casal de velhos e as criadas, já dormiam. Os vaqueiros estavam empolgados com seus contos. Quando a conversa girava em torno de temas mórbidos, um dos participantes tomou a fala e começou a narrar um fato que marcou muito sua infância.
O homem dizia que, durante seu tempo de criança, havia, numa localidade, uma mulher com comportamento estranho, que vivia isolada num barraco. Ela quase não aparecia no vilarejo. Saía do barraco apenas para realizar tarefas para sua sobrevivência. Não aceitava ajuda, quem tentava auxiliá-la era tratado com hostilidade.
O vaqueiro seguia sua narrativa, enquanto os outros, em silêncio, aguardavam o desenrolar da história.
Numa pausa do falante, quiseram saber o motivo de a mulher apresentar tais características. Ele demonstrou, em sua feição, a tristeza que havia naquilo que estava para contar.
O vaqueiro contou que existiam várias hipóteses que as pessoas do vilarejo criavam para tentarem entender aquele ser tão solitário e magoado. Várias eram as interpretações da sua vida, mas a mais aceita e, talvez, a verdadeira era a que dizia que, antigamente, a mulher nutria uma grande paixão por um homem, o seu companheiro. Os dois se relacionavam muito bem, andavam juntos para onde fossem. Todo esse envolvimento, esse querer, fazia com que a mulher adorasse o rapaz e o quisesse cada vez mais. Ela costumava dizer a todos que o amava muito e que queria viver sempre ao seu lado.
O rapaz não se mostrava tão apaixonado. Era um sujeito muito calado, não gostava de falar sobre seu relacionamento. Era notável que os dois se gostavam, mas o sentimento que ela dispensava a ele era muito maior quando comparado ao que ele sentia por ela.
O lugarejo era muito pacato. Todos se conheciam e era costume ter como assunto de conversas a vida das pessoas que lá moravam, visto que, há tempos, não surgiam novidades que pudessem virar temas de discussões. Essa monotonia foi quebrada quando souberam do sumiço repentino do rapaz que a mulher amava. A partir deste momento, a mulher mudou completamente o seu modo de viver. Recolheu-se ao seu barraco e foi mudando o comportamento ao mesmo tempo em que seu ventre crescia. Ela estava grávida e sua decepção estava no fato de o rapaz abandoná-la por causa do filho que teria.
Desde este momento, a mulher mal era vista no lugarejo, sua vida deixou de ser motivo de conversa entre os moradores. Com isso, a mulher, solitária e magoada, ao mesmo tempo que se tornava cada vez mais introvertida e triste, dava continuidade a sua gravidez, mesmo achando que o que ela estava gerando era a semente de sua infelicidade, de sua desgraça.
O tempo passava e, quando os habitantes do vilarejo já estavam esquecidos da existência da mulher naquelas terras, surgiu um comentário que tratava do nascimento do seu filho. As pessoas achavam que, com a companhia de um menino, a mulher seria feliz, mas o que se observou foi o contrário. Ouvia-se a mulher ora chorando, ora maltratando o garoto, por achar que ele era o responsável pela triste fase da vida que ela passou a viver.
Certo dia, souberam que a mulher havia batido muito no menino e acabou por expulsá-lo do barraco, dizendo, aos berros, que ela só alcançaria a felicidade não o tendo mais em sua companhia, pois, assim, não mais lembraria aquele que a decepcionou profundamente. Tal fato deixou os habitantes do local revoltados.
Durante muito tempo, todos achavam que o menino voltaria, mas o que se sabia a respeito dele eram apenas relatos de pessoas que diziam que o tinham visto rapidamente na mata. Um dia, chegaram a ouvir um grito muito triste da criança, pelo mato, mas nunca souberam o local certo de onde ele saiu. Dias depois, chega ao lugar uma notícia trágica, o garoto foi encontrado morto ao lado de um rio. Ao examinarem seu pequeno corpo, observaram, no seu abdome, uma enorme mordida de animal, provavelmente um cão.
A partir de tal acontecimento, parte da população, indignada e querendo vingar a morte do menino, procurou a mulher por vários lugares, mas não obteve sequer pistas de onde ela pudesse estar. A mulher desapareceu e nunca mais tiveram notícias suas.
Terminada a história, os moradores da casa grande ainda dormiam. Os vaqueiros, atentos, porém apresentando sinais de cansaço, conseqüência da noite inteira que passaram acordados, surpreenderam-se com um estranho ruído oriundo do terreiro da casa. O som parecia com o choro de uma criança, daí a razão do espanto dos vaqueiros, naquela casa não havia criança alguma. Desconfiados, foram saber do que se tratava. Atravessaram silenciosamente toda a sala, a cozinha, até chegarem ao terreiro. Procuraram por todo o local, não viram nenhuma criança, mas uma cena lhes despertou a atenção, era uma cadela grande, que amamentava carinhosamente seus vários filhotes e que deixava escapar, por sua boca aberta, uma expressão semelhante à de um sorriso.
Amanheceu. Era uma linda manhã de domingo. Cada vaqueiro foi à sua casa, ao encontro de sua família. O sol já iluminava aquele vilarejo que apenas acordava.



Eliezer Luna Alencar Feitosa,
Fortaleza-Ceará-Brasil, 06/07/2000
eliezerfeitosa@yahoo.com.br



























Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui