I
A trilha que conduz à perfeição
Passará, com certeza, pela vida.
Em não havendo, pois, qualquer saída,
Por que tanta insistência em dizer “não”?
Havemos de cumprir a nossa lida,
Enquanto bons amigos cuidarão
De requerer ao Pai o seu perdão,
Para não ser a morte tão sofrida.
Em que ponto da estrada nós estamos,
Para colher os frutos destes ramos,
Que fornecem de graça o tal poder?
Seja qual for o rude estágio d alma,
Havemos de levar do bem a palma,
Sentindo pelo irmão mais bem-querer.
II
Qual argumento dá ao coração
Melhor motivo para o bem-querer,
Do que o amor do Pai, ao nos fazer
Com ansiedade pela perfeição?
Em simples versos, que nos dão prazer,
Já conseguimos demonstrar razão,
P ra que o amigo nunca diga “não”,
Conquanto seja triste o seu dever.
Se o seu trabalho o amor não favorece,
Azucrinado sempre pelos maus,
Eleve a Deus a voz em doce prece,
Para evitar que o mundo seja um caos,
Onde a esperança brota mas não cresce,
Que é de rigor salvar todas as naus.
III
As rimas são ditadas de improviso
Por esta gente que não tem talento,
Confiando tão-só no movimento
Que registra, no médium, nosso aviso.
O que parte de nós é dez por cento.
Mais do que isso, então, não é preciso,
Quando este mediador tem muito siso
E não desanda o verso, por ciumento.
Que tal tentar você este estribilho,
Sem temer, no começo, não ter brilho
Qualquer iniciativa da poética?
Quem sabe esteja aí o bom início
De eliminar do pensamento o vício
De conservar a alma sempre cética.
IV
Assusta-se o leitor com nossa glosa,
Porque não sabe as regras da poesia?
Ou tem certeza que melhor faria,
Por ter a rima rica e generosa?
Há quem se julgue culto, todavia,
Não se arrisca a escrever, nem mesmo em prosa,
Sabendo que o perverso o verso goza,
Conquanto genial a melodia.
Não vamos estragar nenhuma estrofe
Para dar a impressão que seja um bofe,
Incentivando, assim, o caro irmão.
Daremos tudo, tudo que podemos.;
Poremos toda a força em nossos remos:
Vamos tornar difícil dizer “não”.
V
O nosso preclaríssimo escrevente,
À vista de tão parcas harmonias,
Fica a supor que as grandes alegrias
Hão de esperar bom tempo pela gente.
Sabe que as rimas pobres, broncas, frias,
Conservam o leitor indiferente,
Já que nenhum desejo o gajo sente
De superar as dores e as fobias.
Ao menos, nossa turma se aglomera,
Em busca de tornar doce esta espera,
Enquanto o verso fala da Doutrina.
Mediunidade é tema do outro mundo.
Há de saber até o tal Raimundo
Que a solução Kardec é quem ensina.
VI
A melhor parte desse mau soneto
Roubada foi do raro e bom Drummond.
Mas que fazer se é rouco o tosco som
Com que se animam valsa e minueto?
Ao confessar o degas não ter dom,
Hei de lembrar a história de um espeto,
Porém, com tais arranjos, não me meto,
Que, às vezes, quero “sem” e alcanço “com”.
Não sei se o nobre amigo sente muito
Que tenha eu fechado o meu circuito
De forma desprovida de talento.
Porém, se for pensar em trocadilho,
Terá de perdoar o pecadilho,
Que mudo verso ao longe dista, lento...
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