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Roteiro_de_Filme_ou_Novela-->Sentidos Fartos - uma nova experiência -- 05/06/2003 - 13:54 (Mariana Antonelli) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
- Baseada em fatos reais; escrita após uma viagem até Parati, onde acontecia a Celebra Brasil, a maior festa Rave da América Latina.

Rio de Janeiro, 01 de abril de 2002

Como falar de algo inexplicável em suas sensações provocadas?
Pois bem, relato aqui fatos curiosos que presenciei naquele lugar de fadas e duendes, onde a Lua brilhante e redonda refletia sua luz no mar imenso que, por sua vez, banhava corpos enérgicos e me acalmava com seu som espumante.

Cheguei ao local por volta do meio dia de sexta feira. Muita gente diferente. Nem boa nem má. Apenas diferente da que eu costumo ter em minha volta. Sol forte na cabeça e uma grande ansiedade para entrar no local. Várias pessoas foram puxando conversa e eu fui me sentindo mais à vontade. Ninguém ali NÃO tinha uma tatuagem. Engraçado eu ficar reparando nesses detalhes. Mas todos lá tinham, pelo menos, uma tatuagem. Bem, eu já tinha a minha. Pequenininha e humilde, mas estava lá no meu pé: um escorpião; o símbolo do meu signo e meu ascendente gravado para sempre no meu pé direito. Eu sempre fui meio mística. Não sei explicar ao certo o porquê, mas sempre gostei desse papo mágico. E assim como o papo, era o lugar em que eu havia decidido passar meu feriado: mágico.

Entramos todos, enfim. Fui olhando para tudo...reconhecendo terreno, pisando na grama, olhando as esculturas psicodélicas que serviam de enfeite para a festa, olhando por onde eu poderia instalar minha barraca. Havia chuveiros, torneiras com água em abundância para quem quisesse lavar o rosto ou as roupas, barracas com comidas e utensílios, drogas de todos os tipos para todos os gostos e um clima de comunhão, paz e expectativa. Muita gente de São Paulo. Poucos do Rio de Janeiro. Alguns de Minas Gerais e uns cem estrangeiros mais ou menos. Dez mil pessoas no total.

Eu nunca havia acampado antes. Aliás, eu nunca havia experimentado ficar sozinha numa situação daquelas. Mas...eu estava ali e não iria recuar. Fui logo arrumar um lugar onde pudesse me instalar. Levou um tempo, mas consegui. O sol estava forte e eu não parava de suar. Eu pingava. Mas tudo bem...nada que uma boa golada de água gelada não pudesse resolver. Encontrei um amigo que me fez companhia e me ajudou a montar aquele treco que eu nunca havia usado antes na minha vida. Coloquei o biquíni dentro da barraca mesmo e fomos para a praia...

O mar era lindo. Água azul turquesa. Céu azul também. E limpinho. Nenhuma nuvem. Sol forte e areia branca. E pessoas de todos os tipos. Muitas já se drogavam. Algumas ainda batiam papo e contemplavam a paisagem antes de se embriagarem naquela atmosfera do "tudo é permitido".

Lá é estranho. Talvez por não estarmos em contato com a cidade grande. Nada de usar celular ou relógio ou qualquer coisa do tipo. As horas nós acompanhávamos pela posição do sol e da lua. E foi assim até a hora de o primeiro som do microfone chegar até nossos ouvidos. Todos então entraram em euforia. Uma voz anunciava a apresentação da tribo indígena local. Um canto, então, iniciou o grande ritual. Era forte e envolvente. Entrava pela espinha toda do corpo. Arrepiava a alma. Levantei e fui olhar.... Acompanhei a voz até o palco principal.

Índios dançavam ao som dos tambores e de um canto que eu não entendia, mas achava bonito. Pareciam evocar uma força vinda da natureza. Aquilo mexia com a cabeça de todos e os corpos reagiam dançando. De repente entra o primeiro DJ. Olhei para o céu a procura das horas. Devia ser umas 18 horas. O palco ficou escuro; as luzes já iniciavam um show de cores junto as esculturas psicodélicas.

As pessoas gritavam e batiam palmas. Estavam muito alegres. O que libertaria seus corpos estava começando a entrar em ação. Fiquei ali parada... Fechei os olhos para tentar sentir o que a música faria comigo. Era semelhante à batidas de tambores, a um mantra ou coisa do tipo. Quando abri meus olhos o céu já estava negro. Muitas estrelas e uma lua gigantesca toda amarela. Era noite de lua cheia. Era noite do "todos podem tudo". Uma luz neon invadia o local e quem estava de branco se sobressaía. Eu estava de blusa branca. Me senti meio mulher, meio andróide. Não sei explicar ainda ao certo o que sentia vendo e escutando aquilo tudo.

- A dança, o som e a atmosfera

As batidas irrompiam os corpos de forma forte e envolvente. E eu fui me deixando levar pela atmosfera. Até que três mulheres se aproximaram e começaram a dançar junto de um grupo de homens. Haviam se abraçado antes. Dançavam feito ciganas.

Comecei a escutar palavras vindas do som...As batidas se misturavam e alguma voz dizia algo para mim. Eu entedia as palavras, mas queria juntar todas para ver se havia alguma mensagem por detrás delas... Fiquei vendo aquelas mulheres dançando feito ciganas. Gargalhavam sozinhas com os olhos fechados e os braços abertos. Giravam feito minha cabeça. Quando (depois de ter escutado algumas palavras sobre medos, desejos e até mesmo nome de pessoas) resolvi fechar os olhos novamente, senti um vento forte. Bateu de frente no meu corpo todo. Abri os olhos assustada. O vento parou. Não havia ninguém na minha frente. Uma menina passava ao meu lado. Meu coração disparou e um medo estranho entrou no meu peito.

Eu queria achar um local para descansar as pernas. Um lugar onde as formigas não poderiam me achar nem me picar. Havia colocado minha barraca em cima de um formigueiro. Só fui constatar isso quando a noite caiu. Antes não havia nada... Sentia muita sede e precisava buscar dinheiro na barraca para comprar água. Quis falar com meus pais, mas meu celular não dava sinal lá. Fiquei com medo das formigas, mas precisava pegar dinheiro para matar minha sede. Fui. E fui mordida mais umas três vezes. Peguei o dinheiro e comecei a chorar. Eu estava com falta de ar. Estava sozinha e com falta de ar e me fazendo mil perguntas e buscando um lugar onde pudesse repousar. Bebi toda a água e fui até a praia. Estiquei minha canga e sentei de frente para o mar.

Algumas palavras ainda persistiam e uma outra música invadia o ar. Mulheres dançavam junto ao fogo e os homens acompanhavam o movimento de seus corpos no mesmo compasso. Fui olhando mais para a natureza que para as pessoas. Aterrizei meu pensamento na lua e no céu. Fiquei observando o quanto tudo aquilo era sem fim, era infinitamente grande e o quanto eu era um ser pequeno, minúsculo. Olhei para o mar. A lua prateava toda sua extensão. Procurei respirar fundo e comecei a pensar em coisas que estavam longe dali. Minha família, amigos, pessoas que já me magoaram, tristezas, alegrias, minha vida, eu. Só pensava. Não me questionava nada. Chorei. Meu rosto ficou repleto de lágrimas.

Levantei, tirei minha camiseta e fiquei só de biquíni e short. Mas senti meu corpo todo dormente. Cai sentada na areia e adormeci durante um tempo.

- O anjo da guarda

Acordei um pouco assustada. Peguei minhas coisas e fui caminhando pela areia em busca de algum conhecido. Cinco minutos andando, mais ou menos, foram o suficiente para eu não ter um único pensamento que não fosse o de sair de lá e voltar para casa. Só de pensar que sairia de lá Domingo a noite, ficava arrepiada. Foi quando encontrei um amigo. Paramos para conversar e fui perguntando o que ele estava achando te tudo aquilo. Também não sabia responder exatamente, mas gostava de estar ali, junto com a natureza.

"Sim, mas isso não é o bastante. Pode se estar junto da natureza sem precisar ser aqui."

Ele pensou e resolveu sentar para conversamos mais. Ficamos ali falando sobre a vida, sobre as pessoas e sobre nossos questionamentos de frente para aquele mar monstruosamente grande que me separava da minha casa. Olhei para a lua depois de um longo tempo de conversa para tentar ver que horas eram. Pelos meus cálculos pouco havia se passado. O tempo naquele lugar andava devagar, como uma tartaruga. Perguntei para alguém próximo. Ainda não havia dado nem meia noite. Comecei a ficar inquieta.

Decidimos que daríamos um tempo e iríamos embora. Algo nos atraía...e eu não sabia o que. Fui deixando tudo acontecer...

Quando já havia se passado duas horas, resolvemos voltar para casa, mesmo tendo gastado uma grana para termos chegado lá. Estávamos quase prontos para arrumar tudo quando encontrei outro amigo.

Eu só havia falado com o Bonatto antes de chegar no local – quando meu celular estava com serviço ainda. Mas não tinha encontrado com ele lá. Ainda não. Bonatto puxou conversa, perguntou como eu estava. O abracei e falei que estava com medo. Ele me tranqüilizou e começou a falar sobre outras coisas. De repente estávamos nós três sentados, de novo, de frente para o mar, ali na praia.

Bonatto falava sobre coisas que havíamos passado juntos durante o tempo que trabalhei com ele. Muitos fatos engraçados. Distraia minha cabeça enquanto ele lembrava de algumas palhaçadas nossas e, às vezes, falava sobre a razão de tudo aquilo. Falou sobre a outra festa que tinha ido, com duração de cinco dias, e sobre como tinha reagido quando chegou em casa. Fiquei assustada, mas achei que nada aconteceria comigo.

Conversa indo, tempo passando, nós gargalhando e pensando nos segundos em que o silêncio nos visitava. Até que o dia clareou todo. Admiramos aquele nascer do sol deslumbrante, com uma nova visão (ou talvez uma visão mais incrementada) sobre a vida. Levantamos... Bonatto se despediu e fui com meu amigo pegar as coisas para irmos embora.

- A volta pra casa

Meu amigo me deixou na Rodoviária do Rio, pois recusei seu convite para me levar em casa. E meu pai foi até lá me buscar. Entrei no carro e ele perguntou o motivo de eu querer ter ido embora...Não quis muito conversar e permaneci calada até nossa casa.

Tomei um banho, troquei de roupa e fui me deitar. Só acordei por volta das 9 horas da noite. Meu ouvido ainda escutava as batidas e os sons estranhos. Fui comer algo e sentei para ver TV.

Passado pouco tempo comecei a ficar com a vista trêmula. Achei que poderia ser tonteira por causa da luz. Tentei desviar o olho, mas aquilo não parava. Fui chamando minha mãe enquanto buscava algum lugar para tocar, para me apoiar... Minha visão não parava de tremer. Falei aquilo para minha mãe e ela disse que eu deveria tentar deitar de novo. Talvez teria sido a claridade da TV. Mas todas as tentativas de relaxar foram em vão. Eu parecia que ia cair a qualquer momento. Tentei fechar meus olhos, mas tudo continuava tremendo. Era como um terremoto interno. Comecei a me assustar mais ainda e chorei. Chorava muito, me agarrando na cama, pedindo para minha mãe não deixar eu cair. Ela ficou apavorada e tentou me acalmar, falando que eu não cairia. Não ali. Mas o tremor persistia e a sensação de se estar caindo ia aumentando. Um medo insuportável tomou conta de mim e meu choro aumentou compulsivamente. Parecia que eu tinha me drogado, mas não tomei nada. A certeza disto era total. Lembrava perfeitamente de tudo.

Uma hora mais ou menos se passou quando eu terminara de chorar e minha visão normalizara.

Minha mãe disse que eu dormi profundo depois de parar de chorar. Acordei só às 11 horas do dia seguinte. Não lembrava muito das coisas.

Fui relembrando de tudo aos poucos... E sentia algo diferente em mim. Meu corpo todo parecia ser outro; estava mais leve, mais fácil de se olhar e entender. Eu me sentia muito bem e não me interessava ficar perguntando o porquê daquilo. Apenas queria sentir.

Tudo o que aconteceu foi uma grande experiência. Um desafio de administrar a própria solidão ou a sensação de não ter ninguém para lhe fazer companhia ou lhe ajudar nos momentos difíceis. Tudo o que aconteceu foi muito válido. Faria de novo. Enxergaria tudo com novos olhos e com mais segurança dentro de mim.

Não vou ficar questionando sobre tudo que vi e senti. Deixa o tempo passar que entenderei as coisas devagar, de acordo com a vontade da natureza. O que posso falar é que na próxima Rave, com certeza, minha mala terá mais confiança e mais equilíbrio dentro dela. E sua dona, ídem!

(Mariana Antonelli)
*DIREITOS AUTORAIS RESERVADOS*

fale com a autora: marirj@ajato.com.br










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