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Cronicas-->Juliana e o bife -- 01/11/1999 - 09:43 (Renato Rossi) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pai de adolescente sempre sofreu. Chega uma idade dos filhos em que é necessário levar aqui e ali. Pior é buscar em horários cada vez mais avançados. Antes eram os bailes. Hoje em dia, as festas. Pois, estes dias fui convocado a buscar Juliana em uma festa, o que me fez voltar a dormir lá pelas 4:30. Logo depois voltei a acordar com o barulho de batidas fortes. Custei a entender o que se passava. Na verdade ainda não entendi mas, não sei porque, veio-me a idéia de que alguém estaria batendo bifes. Talvez você não saiba, mas até há algum tempo atrás os bifes eram batidos com um martelo especial para este fim, com pontas.

Fiquei pensando porque mesmo se batia tanto nos bifes. Eu não sei quanto a você, mas eu não tenho visto mais ninguém bater bifes. Talvez fosse alguma vingança inconsciente, ou alguma terapia secreta para liberação da raiva das donas de casa, que no fundo enxergavam seus maridos, as amantes deles, vizinhas fofoqueiras, sogras e todo tipo de desafeto real ou potencial. Ao executar aquele ritual, toda a energia sufocada podia ser liberada e, mais aliviada, por assim dizer mais macia, a dona de casa tornava também o bife mais macio. Há uma certa ironia nesta tarefa. Tanta energia, tanta força, pode-se dizer mesmo tanta violência para amaciar, deixar melhor, o bifinho do dia a dia. Isto não faz muito sentido.

Sendo certo que se batia, mais intrigante é o porque já não se bate mais. Na verdade faz muito tempo que não enxergo algum daqueles martelinhos. Lembro-me contudo de ter visto em um açougue uma moderna máquina de amaciar carne. Algo como uma daquelas máquinas de espichar massa para pastel. O bife entra de um lado normal e sai do outro todo fininho e, supostamente, macio.Trata-se apenas de uma gentileza feita aos fregueses. Contudo, o fato é que só naquele açougue é que encontrei tal modernismo. Lembro agora que há também os amaciantes para carne. Não sei o que eles fazem, mas isto eu já vi comprar aqui em casa. Não sei se usam e muito menos se amaciam a carne e ainda, se são aplicados em bifes ou somente em nacos maiores de carnes menos nobres. Talvez sirvam para converter uma alcatra em filé, um lagarto (em Brasília é lagarto, no Rio Grande é tatu) em picanha.

Arriscando-me aos perigos da generalização, digo que este negócio de bater bife não se usa mais, e talvez possamos fazer um estudo. Investigar a fundo suas causas e, principalmente, seus efeitos.

Quanto à causas, descartadas as ações dos comunistas comedores de criancinhas e das multinacionais imperialistas, há sempre a possibilidade da ação de alguma ONG em defesa dos direitos das carnes, contra os maus tratos, em favor da dignidade dos patinhos e alcatras. Outra talvez fosse a influência das academias de ginástica, temerosas da concorrência que o exercício diário do bater nos bifes pudesse fazer. Talvez ainda, já não seja necessário, pois como os automóveis, as carnes hoje em dia já venham amaciadas de fábrica. Não sei, mas há que investigar todas as hipóteses.

Quanto aos efeitos, temo pelo aumento da violência nos centros urbanos. Donas de casa que antes podiam descarregar sua ira nos bifes, sem esta alternativa, talvez dêem outro uso ao martelo. Não lhes tiro a razão, mas haverá evidentes prejuízos para a sociedade, com o aumento dos gastos com saúde e do nível de absenteísmo nas empresas. Talvez as empresas de assistência médica devam fazer uma ressalva em seus contratos, prevenindo-se dos possíveis prejuízos. A indústria de martelos também pode ser afetada. Imagine que são milhões de lares que aposentam este instrumento. As listas de presentes para noivos também ficarão sem esta alternativa barata. Por certo deverá haver uma queda no nível de emprego nas fábricas deste utensílio.

Quanto ao barulho que me acordou, não sei o que foi, mas posso assegurar que não estavam batendo bifes.

Escrito em 14.06.98
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