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Artigos-->DOUTOR HONORIS CAUSA - MOTIVO DE IRRISÃO -- 31/01/2011 - 23:24 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
DOUTOR HONORIS CAUSA - MOTIVO DE IRRISÃO





Délcio Vieira Salomon*





O fato de a Universidade Federal de Viçosa ter conferido, em 28.01.2011, o título de Doutor honoris causa a Lula sinceramente constitui motivo de irrisão. Segundo o noticiário, o ato foi assinalado “por sua defesa das causas sociais”. É de deixar perplexo qualquer cientista político ou qualquer historiador isento! Sei: quem critica tal gesto de uma universidade tão respeitada como a UFV tem, de imediato, o repúdio dos bajuladores de Lula: “preconceito contra um nordestino, semi-analfabeto, simples torneiro mecânico, mas que pelos próprios méritos, sobretudo por sua aguda inteligência, chegou ao mais alto posto da nação brasileira”.

Apesar dessa constatação, arvoro-me, como professor livre-docente da UFMG e escritor, para dirigir-me ao egrégio Conselho Universitário da UFV e de público declarar: causa irrisão a outorga. Por um motivo muito simples: a concessão da referida honra de repente se tornou banalização de um título honorífico. Não seria o caso de indagar aos ilustres conselheiros daquela corte: - Será que o gesto seria aprovado pelo Professor Edson Potsch Magalhães – o notável cientista, reitor da antiga Universidade Rural do Estado de Minas Gerais, predecessora da Fundação Universidade Federal de Viçosa, a atual UFV, da qual foi fundador e primeiro reitor? Ainda mais que ele também foi o primeiro latino-americano a receber o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de Purdue, em West, Lafayette, Indiana, Estados Unidos? Para mim ele deve estar se contorcendo em seu túmulo.

Egrégios membros do Conselho Universitários da UFV, Vossas Excelências converteram um título, cuja origem remonta aos primórdios da Universidade no século XII, em acinte não só à Academia, mas à própria sociedade. Deixaram para o cidadão comum a triste suspeita de que há na atual instituição acadêmica um processo subreptício de desmoralizá-la!

Dêem a resposta que quiserem. Diante da realidade social, política e cultural, em que vivemos, qualquer resposta justificadora será mera racionalização, no lídimo sentido criado por Freud, ao mecanismo de defesa, quando não se têm razões convincentes e verdadeiras para um comportamento condenado.

A bajulação política não só banalizou a outorga do título “doctor honoris causa”. Transformou em princípio “pedagógico” e “ético” o que antes era comportamento repudiável. Esta a grande façanha que a UFV acaba de cometer!

Que fique bem claro: historicamente um “Doctor honoris causa” recebe o mesmo tratamento e privilégios àqueles que obtiveram um doutorado acadêmico de forma convencional. É o reconhecimento acadêmico mais elevado de uma universidade para distinguir pessoas que, em qualquer tempo, tenham prestado relevantes serviços, servindo de exemplo para a comunidade acadêmica e para a sociedade. É conferido a pessoas eminentes, não necessariamente portadoras de um diploma universitário, mas que se tenham destacado em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias, etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições. Sublinhe-se: transcendam e não atinjam, por demagogia ou por efeito de marketing, patamar da autoconsagração a visar o elogio gratuito, como é o caso do atual homenageado. A lição desse insólito ato acadêmico está bem retratada no desabafo daquele jovem que assim comentou o “extraordinário” feito da UFV: “isto já ultrapassou os limites do aceitável, agora inclusive está se alastrando para aquilo que a gente ainda tinha como células pensantes, mas que com esta prova cabal a de dar um titulo de doutor ‘honoris causa’ para quem sempre se vangloriou de seu analfabetismo, eclipsou-se”. (). Em parênteses: já imaginou, caríssimo leitor, a falta de constrangimento de Lula daqui para frente: - “Agora sou o Doutor Luiz Ignácio Lula da Silva, não mais o Lula. Respeitem-me como já respeitaram um Ruy Barbosa, um Santos Dumont, um César Lates ... até um Einstein!”.



Afinal para quem, como observador, sem implicações interesseiras, acompanhou o governo Lula, sabe muito bem que aquilo que o Conselho Universitário da UFV chama de “defesa das causas sociais” é no mínimo ambíguo. Estaria o egrégio conselho se referindo aos programas “bolsa família”, “bolsa escola”, “minha casa minha vida” ou ao estardalhaço do “fome zero” que morreu antes de nascer? Honesta e sinceramente todas essas iniciativas lulistas mesmo que somadas estão muito aquém da justificativa “de condecorar pessoa destacada em determinada área (artes, ciências, filosofia, letras, promoção da paz, de causas humanitárias, etc), por sua boa reputação, virtude, mérito ou ações de serviço que transcendam famílias, pessoas ou instituições”. Nem o argumento de que foi o único presidente que fez para o social, os que os outros não fizeram, justifica o título. Ademais a que preço Lula conseguiu o bajulado feito?

Quando este país aplicar honesta apuração das contas do governo passado, verá, lamentavelmente, que muito dos gastos públicos com a proclamada “defesa de causas sociais”, não passa de engodo já varrido para debaixo do tapete, do mesmo modo que se varreu o mensalão e quejandos malabarismos, a despistar a transparência, que nunca houve nos dois governos Lula Inácio da Silva. Não desviemos nossa atenção. O governo Lula transfere para Dilma R$ 64 bilhões de restos a pagar. E o que está embutido atrás dos tais restos a pagar? Nunca dantes na história desse país o Executivo gastou tanto por tão pouco!

Esta a questão ou ensinamento que o mais recente “doctor honoris causa” nos deixa: fazer política neste país é ter capacidade de tapear, ser desonesto e aparentar ser honesto, é saber maquiavelicamente jogar com o velho princípio: “o fim justifica os meios”. Ou como nos deixou escrito em sua cartilha, Ademar de Barros, tão bem copiado por Maluf e agora por Lula, filhos, netos (com passaporte para se tornarem intocáveis lá fora); “rouba, mas faz”.

Minha cara presidente Dilma, vá em frente, porque, a continuar o carnaval, em 2014 haverá 41 universidades federais a lhe conferirem, com mais brilho, o título que Lula recebeu em 28.01.2011 pela UFV.

Sempre participei do Movimento Docente – o consagrado MD que nasceu em oposição à ditadura militar e cresceu de maneira a ponto de deixar estupefatos tradicionais e retrógrados membros da Academia. Mas devo confessar: desde os primeiros congressos da ANDES (nossa Associação Docente de caráter nacional, mais tarde convertida em Sindicato Nacional), já notava a penetração forte do PT e da CUT em nosso movimento.

Lembro de episódio emblemático: em uma das inflamadas assembléias, ardoroso orador petista propôs que os professores fossem designados “trabalhadores do ensino”. Ao ouvi-lo retruquei ao ouvido de um colega e delegado comigo da APUBH (Associação dos professores da UFMG): - “Tal proposta está me cheirando mal. Não podemos permitir que essa onda petista-cutista transforme a Universidade em Sindicato, a ponto de descaracterizar o trabalho docente, expresso em pesquisa e magistério para equipará-lo ao trabalho braçal. Todos os operários e demais trabalhadodres merecem nossa admiração e por ele devemos lutar, mas não podemos nivelar a todos no mesmo patamar. Garanto que os próprios trabalhadores e outros profissionais de fora da universidade não aceitariam tal nivelamento. E o que defendo não é elitismo, como aos demagogos pode parecer”.

Depois de aposentado, hoje, quem fica perplexo sou eu: jamais podia imaginar que muitos de nossos professores, filiados ao Partido dos Trabalhadores, chegassem ao ponto que chegaram. Parece que já converteram as universidades em braço estendido do PT. Garanto que, se fizer um levantamento, ficará constatado que a UFV está dominada por professores filiados ao PT e que não têm pejo em confundir a academia com partido político ou com o sindicato dos professores.

Infelizmente, nosso país ainda não saiu do colonialismo português. Apenas nos registros históricos, nos cartórios da conveniência e da conivência político-partidária, nosso subdesenvolvimento político e cultural terá durado até 15 de novembro de 1889. A mentalidade de nosso povo ainda é muito dependente do coronelismo, das figuras messiânicas, que sempre se apresentam como “salvadores da pátria”, para continuarem a manter seus feudos. Antes feudos físicos identificados com a terra, a “casa grande e a senzala”, agora feudos ideológicos, onde nefastamente predomina a mexicanização da República, ou seja, a transformação de nossa democracia na ditadura branca do partido “único” que assumiu o poder e tudo faz para extinguir todas as forças que a ele se oponham. Se Lula, enquanto presidente sempre se julgou o “dono do Brasil”, parece que, apeado do poder, tudo fará para que seu halo imperial jamais se apague e jamais permitirá que outro aventureiro como ele não retire a coroa de sua cabeça. A fala de Dom Pedro I para o filho ainda continua martelando o ouvido de sua majestade Lula da Silva. Aliás, o velho sonho de outro nordestino, Assis Chateaubriand, está se cumprindo no ectoplasma de Lula.

Só resta irônica esperança: que todas as universidades brasileiras repitam o gesto da UFV e estendam o título de “doctor honoris causa” aos Malufs, aos Sarneys, aos Delúbios Soares, aos Josés Dirceus, aos Genoinos, et caterva da vida, ou quem sabe, com maior solenidade ainda, aos Tiriricas.

Até quando o circo estará aberto e o espetáculo continuará?



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