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Artigos-->LUZ, CÃMERA E SEQÜESTRO -- 10/02/2002 - 09:13 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




O seqüestro do publicitário Washington Olivetto, que graças a Deus terminou bem, deixou alguns ensinamentos que não se pode desprezar. Refiro-me à sua primeira entrevista concedida à imprensa, no Auditório da Fundação Armando Penteado, (FAAP) em São Paulo, depois de passar 53 dias no cativeiro, nas mãos de criminosos da pior espécie. Gente que não dispensa um mínimo de respeito para com a vida alheia.



Dezenas de câmeras de televisão, muitos microfones e um exército de quase 200 jornalistas, incluindo correspondentes estrangeiros. Nem parecia que o assunto, objeto da entrevista, era a violência do crime organizado que, somente naquele Estado, avança em proporções geométricas, indiferente ao sofrimento e a dor dos parentes das vítimas que, infelizmente, não tiveram a mesma sorte do publicitário e foram assassinadas, de forma covarde e cruel, a despeito, muitas vezes, de terem efetuado o pagamento do resgate estabelecido pelos criminosos.



O espetáculo foi digno de qualquer excelente profissional de marketing. Um verdadeiro show. O entrevistado estava muito à vontade, se expressava com facilidade e passava uma imagem vencedora, de alguém que participara de uma gincana de escoteiros, com vários obstáculos, alguns dos quais com risco de vida, mas que, ao seu término, pela sua criatividade e capacidade de superação de problemas, acabou saindo vencedor do desafio que lhe fora imposto. “Fui vítima, não sou vítima. Saí fortalecido”. “Sou da galera”.



O publicitário respondeu a jornalistas chilenos em espanhol, falou palavrões com muita naturalidade, pediu aos jornalistas que não o chamassem de “senhor” e fez muitas brincadeiras. No final da entrevista foi aplaudido exaustivamente pelos estudantes da (FAAP).



O espetáculo emocionou e agradou a todos. Acho que até mesmo aos próprios criminosos, que não poderiam imaginar tanta propaganda positiva, com tanto apoio da mídia, patrocinado por um excelente garoto propaganda, que é do ramo, e que, salvo melhor juízo, ainda que de forma ingênua, fez uma espécie de apologia àquelas atividades criminosas.



Confesso que, por instantes, fiquei envolvido com a entrevista. Cheguei mesmo ao ponto de me emocionar e formar juízo mais brando em relação aos seqüestros e aos criminosos que os praticam. Não são tão ruins assim, pensei comigo mesmo; e o crime em si, sabendo levar, até que dá prá levar numa boa!



Mas logo voltei para a realidade. Estes crimes são hediondos e merecem o repúdio de toda a sociedade, pois eles não causam, apenas, prejuízos de ordem financeira. Vai mais além. Humilha e acaba com a dignidade da pessoa humana. Torna-o impotente. Tira-lhe o pouco de esperança e de crença nos valores éticos e morais que deveriam prevalecer em qualquer sociedade civilizada. Traz o desconforto da descrença nas autoridades. Entristece. Desmantela famílias inteiras. Rouba-lhes a paz e o sossego. E causa a indignação pela relativa impunidade de que gozam.



Um crime dessa natureza, deveria ficar no âmbito policial. Sem publicidade. Pois sabemos que, na realidade, estes crimes não costumam acabar tão bem. Infelizmente.





Domingos Oliveira Medeiros

10 de fevereiro de 2002









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