Usina de Letras
Usina de Letras
163 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50608)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->URSULINO LEÃO(62 ANOS DO ROMANCE MAYA) -- 28/01/2011 - 16:49 (Mário Ribeiro Martins) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
URSULINO LEÃO

(62 anos do romance MAYA).



Mário Ribeiro Martins*



Não foi por acaso que, uma vez, citando ocasionalmente o escritor Ursulino Tavares Leão chamei-o de “retrato de uma geração e do trabalho”. Além de muitas coincidências de gostos e de idéias há muitas coisas que nos aproximam, dentre as quais não será menos importante o fato de que, assim como eu sou filho do sertão, ele é um sertanejo.



É esse “menino do sertão” morando dentro dele que explica quase todo o escritor Ursulino Leão. Digo “quase todo” porque o contista, romancista e cronista deixou a sua terra natal ainda cedo para sofrer a influência dos grandes centros, entre os quais, Belo Horizonte.



Ali, na Capital Mineira, em 1949, com 26 anos, publica o romance MAYA(que agora completa 62 anos), pela Pongetti, do Rio de Janeiro. Com 204 páginas e 15 capítulos, muito bem distribuídos. Como na época, não se fazia INDICE ONOMÁSTICO, é impossível saber quantos nomes são mencionados no romance.



Um nome, no entanto, abre o primeiro capitulo do romance e fecha o ultimo com ele. Trata-se da figura do HERMANO. A primeira fase do primeiro capítulo é: “O HERMANO NÃO FALAVA NUNCA DE SUA CASA”. A ultima frase do ultimo capitulo diz: “A PINTA MARROM DO HERMANO”. Mas, há centenas de nomes no romance MAYA. Figuras interessantíssimas, como a DONA EULÁLIA, proprietária da PENSÃO, seu MULLER, um alemão bom. Só mesmo lendo o romance se pode aquilatar e entender sua profundidade.



Pois bem, é aí em Belo Horizonte que inicia os seus primeiros passos na política que o levaria mais tarde, já em Goiás, a deputado e a vice-governador do Estado, sem perder, contudo, aquela fidelidade à literatura mantida, especialmente, através do conto e da crônica que transformados em LIVRO DE ANA, EXISTÊNCIA DE MARINA e FONTE EXPRESSA o conduziram muito justamente à Academia Goiana de Letras e posteriormente à Academia Brasiliense de Letras, além de Correspondente da Academia Catarinense de Letras e muitas outras entidades.



Seja quando, com sua generosa capacidade de admirar, vibra em consonância com as criações e invenções dos poetas e contistas que o tocam (como se lê na crônica “Poesia em Goiás: Viva”), seja nas suas próprias descobertas e criações (como na crônica “Recado ao Prefeito”), seja na sua existência de homem e escritor, jurista e professor que ama tanto a Arte e a Literatura como a vida.



Essa natureza generosa e extrovertida, capaz de transfundir e transfigurar na alegria da fruição que se transforma em Ursulino Leão, capaz até de curvar-se sobre o trabalho de poetas, escritores e contistas (como se lê na crônica A Cátedra de Leo Lynce) em busca de uma ampliação e de uma dignificação do Brasil, de um fortalecimento, de uma justiça para o povo brasileiro (como se lê na crônica “Niquelândia, uma promessa”).



Não admira, portanto, que Ursulino Leão tenha tanta compreensão para o mundo poético, artístico e literário. O menino de Crixás, com os olhos treinados pelas bandeiras, cores e emblemas da Festa do Divino, menino que cresceu e se transformou, sem perder a noção das festivas novenas e das tardes chuvosas da sua terra, está apto como ninguém a interpretar o mundo mágico da Literatura e da Arte.



Interpretando-as, Ursulino Leão interpreta a si mesmo como aquele menino do sertão que joga com o azul, com o verde, com o vermelho, com o amarelo das bandeirolas heráldicas de sua infância - cores e emblemas que, se por um lado, são pejadas de significação, por outro não passam de um desses jogos só aparentemente gratuitos e inocentes, pois é através deles que os homens tentam dar um sentido de beleza e ternura à sua passagem pelo mundo.



As paisagens dos seus contos, crônicas e romance não são paisagens meticulosamente descritas. Lembram muito mais quadros impressionistas, momentos estéticos de quem se sente marcado por sua região e deseja alcançá-la de maneira profunda e não meramente fotográfica.



Sua linguagem provoca a criação de imagens no espírito, a ponto de o leitor depois de ter lido “Recado ao Prefeito”, no livro de Ana passar pela rua 7 de setembro procurando as árvores tão decantadas. Essas imagens provocadas no espírito não são imagens óticas de quem evoca, mas imagens semelhantes às da pintura.



Sua visão da natureza e das obras de arte ou até mesmo de outros objetos do conhecimento humano é tida como um dos principais estímulos para a sua criação literária. No conto, na crônica, no romance de Ursulino Leão se pode notar, com toda evidência, a força desse estímulo.



Olhando o campo sertanejo, encontra inspiração para escrever “Crixás, Irmãos, é tudo isso”, depois de ler Pitanga surge “O Vila Boa de Regina Lacerda”, depois de contemplar a própria cidade encontra inspiração para escrever sobre o seu dia-a-dia, sem nada escapar.



Coloca diante do leitor a alma da cidade e fala sobre pontes, casas, ruas, árvores, estradas e pessoas. Daí dizer Ático Vilas Boas: “Anápolis já tem o seu cronista: Ursulino Leão”.



É difícil para o crítico falar de conto, romance e crônica sem invadir o domínio de outras artes. A crônica de Ursulino Leão é cheia de efeitos pictóricos e musicais, o que se verifica perfeitamente em “Moldura de Maio para o quadro de Abril”, “Olhai as Estrelas”, “Céu de Estrelas” e “Galeão no consolo das luzes sem nome”.



Tudo em Ursulino Leão é resultado daquela luta tremenda que trava todo escritor latino-americano em seu grande esforço de emancipação cultural, na procura de uma expressão nova e mística que reflita a sua alma americana, o seu povo, a sua região.



Luta que se espicha, às vezes, nos embates sociais e políticos, ora falando em asfalto e universidade, ora em ICM, ora em homens de rua, ora em bombas, timbó e peixes, como se fosse um reencontro ou o regresso de quem, estando no mundo, volta ao sertão.



Em seus contos e crônicas, mas também em seu romance, Ursulino não se deixa levar pelo influxo exagerado das idéias socialistas, pelo industrialismo sempre crescente ou mesmo pela tendência de alguns romancistas que escrevem os seus romances, como se eles já fossem roteiros cinematográficos.



Seus escritos indicam que ele procura apoio nos valores regionais e tradicionais, afastando-se da influência daqueles escritores que se exageram na reação contra os excessos da primeira geração modernista. Escritores que se requintaram na abordagem de assuntos universais, no hermetismo da mensagem e no aristocratismo com que se entregaram a meros jogos de palavras.



Assim procederam muitos seguidores da chamada geração de 45, descambando para um verdadeiro neo-parnasianismo.



Ao falar de influências, sei que existem pessoas para quem o ato de imitar significa aprendizado, exercício, procura de um caminho próprio na atitude de admirar os melhores, o que é preferível a ser impermeável e fazer parte da vasta legião dos que vivem repisando frases gastas e conceitos ocos, e são imitados apenas por pessoas que querem provocar risos.



Ursulino Leão divulga as influências recebidas, as conscientemente recebidas. Dentre suas melhores qualidades uma delas é a capacidade de admirar as coisas com entusiasmo e transportá-las para o mundo das letras com a mesma vibração, tal qual nesse trecho: “Muitas dessas profundas alterações sociais que a gente lê, estampadas, nos jornais estão sucedendo aos nossos pés.



Só que pela forma perigosa do silêncio, isto é, pelo processo que a natureza escolhe para se exprimir de maneira criadora. Processo lento, que não retrocede. Como certas doenças, dirão os amargos. Para mim, como as cores da alvorada que, variando incessantemente os seus tons, comunica o nascimento do dia, suas luzes, suas esperanças”.



Este livro MAYA, de Ursulino, teria sido republicado, em 1975, pela extinta Editora ORIENTE, de Goiânia, mas este articulista não localizou nenhum exemplar em qualquer biblioteca. A bem da verdade, encontrou 1(um)exemplar no sebo da Livraria São José, no Rio de Janeiro, ao preço de 13,95, através da Estante Virtual.



Sobre o assunto, muito bem escreveu Domingos Neto de Velasco: “O MAYA, de Ursulino Tavares Leão, me despertou interesse, porque, de certo modo, o seu tema está na órbita de minhas preocupações intelectuais. Ora, o que me ficou da leitura do MAYA, foi aquela constante que está em todas as páginas e impregna todos os personagens do romance. É a inquietação espiritual contemporânea. O desejo de crer em alguma coisa, de esquecer a dúvida, de libertar-se dos preconceitos que dominam o século”.





*MÁRIO RIBEIRO MARTINS, Procurador de Justiça, Escritor. Da Academia Goiana de Letras, do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, da Academia Goianiense de Letras, da Academia Tocantinense de Letras. E-Mail: mariormartins@hotmail.com. Caixa Postal, 90, Palmas, Tocantins, 77.001-970.

Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui