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Contos-->O Opressor -- 14/10/2002 - 16:55 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
" Tenho certeza que deveria ter nascido em outro
planeta. Algum lugar que tivesse de fazer as coi-
sas que tenho vontade.Sabe o que é isso? Meu pai
disse que isso é loucura. Que os homens que escre-
vem e ditam as leis, não querem saber dos erros,
só que eles também deturpam as leis. Acredito que
a profissão de advogado deve ser a mais amoral do
mundo, e a de pai, a mais indefinível delas. É sé-
rio, o regime nos impõe um monte de coisas que não
podem ser normais! Outro dia, li um livro sobre a
vida de Nero. Pô! O cara comia até a mãe dele...
já pensou, você comendo a sua própria mãe!? "Só
elas são felizes". Ou melhor, quase, é o que eu
penso. Acho que o Cazuza era louco."

- Porra, Ana! Você é quem coloca esse menino nesta
situação!
- Pelo amor de Deus homem, ele é seu filho!
- Filho o caralho! Nem sei o que se passa... ele
não se comporta como macho.
- Isso não quer dizer nada, seu filho é seu filho.
Você nem ao menos conversa com ele!
- Conversar o quê? Todas as vezes que estou em ca-
sa, ele se isola no quarto.
- Mentira!
- Toda vez essa ladainha, porra! Será que eu errei
tanto assim!?
- Pára !
- Cala a boca!
- Não. E trate de me respeitar, e respeite o seu
filho também...
- Eu não tenho filho bixa. Você protege demais es-
se moloque, é por isso que estamos desse jeito, to
do mundo repara.
- Reparar o quê? Afinal, o que é mais importante?
Seu filho ou a boca dos vizinhos!?
- É isso mesmo! Eu não fiz uma menina,ouviu!?
Esse caralho tem dois culhões. Tem é que jogar
bola, tem que namorar...
- Não seja idiota! Ele é muito novo pra namorar.
- Um cara com dezessete anos que nem fala em mu-
lher, não joga bola e "desmunheca" desse jeito!?
Ah, qual é...
- Pára de gritar, vai acordar o bairro inteiro.
- Que acordem, e saibam que isso não é certo. E
pare de defender esse filho da puta!
- Ele é meu filho! Você é que é um tremendo filho
da puta, cadê o respeito pela sua família!?
- Eu te meto a mão na cara...

" Rosas de espinhos que não posso tocar. Perfume
brando e doce que não posso beijar. Teus cabelos
pretos que não tenho mais. Meu coração está perdi-
do num deserto de lágrimas... como eu te amo. Dur-
mi um pouco. Minha mãe entrou no quarto, sentou ao
lado da cama, beijou-me levemente a face. "Seu
pai anda muito nervoso ultimamente." Percebo uma
lágrima no olho esquerdo, pela luz da janela fica
nítido um ferimento. " Mãe, o papai te bateu?" Ela
não responde, só intensifica o pranto. Dei-lhe um
longo abraço, ficamos assim por alguns minutos."Vo
cê precisa ser forte."- me disse. "Como assim?" -
não queria entender... meu pai havia discutido com
ela. Ouvi tudo: "Eu te meto a mão!" Eu te amo meu
filho. Também te amo mãe. Nossos corações estão
num deserto de lágrimas."
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