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Artigos-->FOI EMBORA A VICENTINA... -- 20/12/2010 - 09:58 (Jeovah de Moura Nunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




FOI EMBORA A VICENTINA...





Vicentina, filha de italianos que migraram para o Brasil nos tempos difíceis da Europa. Vicentina mulher trabalhadeira demonstrando sua querência à família e mostrando do que é capaz o descendente de italianos. Vicentina mulher de fibra, mulher que não perdia tempo à toa, mulher que sem dúvida nenhuma trabalhará nas hostes espirituais para o bem e com o bem porque ela sempre foi do bem, jamais do mal. Vicentina irmã de minha esposa, duas mulheres de fibra, de coragem, de vontade imensa. De origem nordestina sinto-me orgulhoso em fazer parte dessa família tão avançada, tão benigna, tão repleta de coragem e de força espiritual. São pessoas que não perdem tempo nos carnavais da vida. Sabem apenas trabalhar e trabalhar duro. Talvez seja em razão disso mesmo que possuem todos eles vidas longas e saúde demasiada. Nunca vi em minha vida tamanha demonstração de apreço, de bondade e de união nesta grande família Barbarossa, da qual tenho um imenso orgulho.



Tenho uma cartinha da Edna, filha da Vicentina, desejando dizer algumas palavras, que evidentemente não teve tempo de dizê-las à sua mãe querida, a extraordinária Vicentina, mulher que não media sacrifícios e diariamente vivia apenas do seu trabalho como mãe, esposa e dona de casa, além dos muitos sacrifícios em tempos de outrora:



“Minha querida, sei que aí no Céu onde está algo lhe ocupa o tempo, pois aqui você não conseguia ficar sem fazer nada. Mas, mãe querida, por favor, pare um pouco seus afazeres junto a Deus e aos anjos e ouça essas poucas palavras que teimo em te dizer... Minha queridinha, obrigado por tudo o que ensinou a mim e aos meus irmãos, pelas lindas histórias que me contou. Sabe, minha querida, eu queria ser rainha do mundo só para fazer uma lei. E esta lei seria: “mãe não morre nunca. Mãe permanece sempre junto de seus filhos, e seus filhos mesmo velhinhos continuariam pequeninos, pequeninos feito grão de milho. Sabe mãezinha, tento me confortar em minhas filhas e no meu marido, também tento me espelhar na imensidão do amor que a Senhora tinha por nós, mas não é fácil, tudo nos lembra a Senhora. Ainda ontem, dia 9 de dezembro foi o seu aniversário. Não cantei os parabéns a você, só chorei... Mas, eu sei que no Céu os anjos fizeram uma grande festa para a Senhora e junto com essa festa eu sei que a Senhora está na Glória de Deus. Fique com Deus mãezinha e saiba que um dia as lágrimas secarão, mas nunca esqueceremos os caminhos da vida que você nos indicou. (a) Edna.”



Estas são palavras de uma filha que verdadeiramente amou sua mãe até o fim e certamente continuará amando para sempre. Mas, há outra cartinha de uma sobrinha, filha da Edna, cujo nome é Caroline, eis aqui:



“A vida me preparou para muita coisa; preparou-me para nascer, para aprender. Preparou-me na escola e para o vestibular. Preparou-me e moldou-me no trabalho e nas amizades. A vida só não me preparou para um momento como este. As lágrimas em meus olhos pesam, mas não quero que elas rolem. Não quero que meu corpo, ou minha mente sintam que há algo de errado quando sei, mesmo que dolorosamente, que não há. Mãe, vó, esposa, sei que está aqui. Sinto que me toca e que se prepara para enxugar as muitas lágrimas que teimam em cair, mas não caem. Porém, como posso não ter essa vontade quando sei que não poderei mais te ver sorrindo, gritando com as coisas erradas ou correndo para terminar aquele almoço que só você sabia fazer? Fico triste sim, choro sim e dói, como dói não ter você mais aqui. E ainda assim fico tranqüila porque sei a pessoa maravilhosa que você foi e é. Que sorte Deus tem de ter você por perto! Que sorte eu tive por ter estado com a Senhora por uma vida. Você foi, é e sempre será a melhor! Descanse em paz vozinha! Sua neta Caroline”.



Caríssimos leitores, nunca fiz um artigo tão sentimentalmente profundo como este. Vicentina para mim tinha um valor especial. Irmã de minha esposa, sempre tive por ela um respeito e um sentimento de amizade muito grande, desde os tempos em que minha sogra, Dona Francesca, mãe de minha esposa e da Vicentina era viva. O falecimento da Vicentina traumatizou toda a família Barbarossa. Sou testemunha disso. Uma família, cuja história começou lá na Itália. Sebastião Barbarossa, meu sogro, falecido aos 91 anos de idade saiu da Itália fugindo do fascismo de Mussoline, contou-me ele. Por muitas vezes me disse que o italiano que não assinasse sua entrada para o Partido Fascista apanhava como um cachorro e era obrigado a beber um litro de óleo de rícino. Ouvi muitas histórias do meu sogro e só não fiquei sabendo de mais e mais histórias até difíceis de se acreditar porque morava em Sampa e me era dificultoso vir a Jaú rotineiramente, com exceção dos negócios a fazer. O fascismo até hoje mudou o destino das pessoas, assim como o nazismo. A família Barbarossa segue o seu destino em terras brasileiras com muita paz e com orgulho tanto do passado como do presente e sem dúvida do futuro.



Que Deus abençoe esta maravilhosa família e que a paz esteja sempre com todos nós. Estes são meus desejos e que Vicentina se reencontre com seu pai Sebastião e sua mãe Dona Francesca e que fiquem todos felizes para aguardar a nossa ida também para além túmulo.



Jeovah de Moura Nunes

Escritor e jornalista.

Autor do romance “A cebola não dá rosas” entre outros livros.

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