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Artigos-->Fragrância Feminina na Poesia - Cecília Meireles -- 08/02/2002 - 17:30 (Fernanda Guimarães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Fragrância Feminina na Poesia



Estamos dando continuidade a publicação destes pequenos artigos que visam mostrar um pouco da escrita poética feminina no cenário nacional e mundial.

Pretendemos, tão somente, falar da emoção de nossas descobertas literárias ao nos depararmos com a vasta produção feminina na construção de uma identidade poética.

É antes de tudo, uma gota de perfume que permitirá ao leitor curioso, buscar outras essências, a partir da publicação destes textos.



Cecília Meireles



Cecília Benevides de Carvalho Meireles, filha de Carlos Alberto de Carvalho Meireles e Matilde Benevides Meireles, nasceu a 7 de novembro de 1901 no Rio de Janeiro, vindo a falecer nesta mesma cidade em 9 de novembro de 1964.

Cecília ficou órfã muito cedo. O pai faleceu três meses, antes do seu nascimento, e a mãe, quando Cecília ainda não completara três anos de idade. Foi criada pela avó Jacinta Garcia Benevides. Este contato tão prematuro com a morte, segundo a própria Cecília Meireles, propiciou-lhe uma compreensão maior e mais doce entre o efêmero e o eterno. A solidão e o silêncio, desde muito cedo, já lhe eram fiéis companheiros. Deram-lhe, ao contrário do que se pode imaginar normalmente, um mundo onde tecia sua sensibilidade e exercitava sua consciência. Assim, começou a escrever poesia aos 9 anos de idade.

Em 1917, então com 16 anos, diploma-se professora pública pela Escola Normal do Rio de Janeiro, dedicando-se ao magistério primário em escolas oficiais do antigo Distrito Federal. A instigante vontade do conhecer, levam-na ao estudo de outros idiomas e ao Conservatório Nacional de Música, onde passa a ter aulas de canto e violino.

Começou sua carreira literária em 1919 com a publicação de Espectros, uma coleção de sonetos simbolistas . Ainda como estudante, publicou os seguintes livros : Poemas dos Poemas, Nunca Mais (ambos publicados em 1923) -, sendo que através destes dois últimos livros adere ao Modernismo - Meu Amor, Crianças (publicados em 1924) e Baladas para El Rei, em 1925.

Deve-se destacar que a década de 20 foi efervescente, no que diz respeito a literatura brasileira. O trabalho de Cecília naquela época desafinava-se das tendências nacionalistas, quais sejam: o verso livre e coloquial.

Em 1921, casa-se com o artista plástico português Fernando Correa Dias, com quem teve três filhas: Maria Elvira, Maria Matilde e Maria Fernanda, esta última artista teatral consagrada. Foi Correa Dias o ilustrador de suas obras poéticas.

A partir de 1925, dedica-se mais a carreira docente, tendo relevante papel na luta pela renovação educacional vigente. Entre 1930 e 1933, dirige a Página da Educação no Diário de Notícias do Rio de Janeiro, onde em seus artigos defende uma educação mais moderna e critica a forma de se fazer política. Isso rendeu-lhe perseguições políticas. Em 1934, vai trabalhar no Jornal A Nação, sendo que estava vetada de escrever qualquer artigo sobre política. É neste ano também, que com o marido, inaugura o Centro de Cultura Infantil do Pavilhão do Mourisco, no Rio, primeira biblioteca infantil do país.

Neste período, a convite do governo português, realiza uma série de viagens internacionais, objetivando a divulgação e difusão da cultura, literatura e o folclore brasileiros, em uma série de conferências.

Em 1935, o suicídio do marido força-a a ampliar suas atividades de professora e jornalista, para educar as filhas. Passa a escrever sobre folclore no jornal A Manhã, crônicas para o Correio Paulista e dirige a Revista Travel in Brazil, no Rio. Além disso, mantém sua atividade no Pavilhão Mourisco.

Cecília ressurge no cenário poético em 1939 com a publicação de Viagem, considerado o marco de sua maturidade como escritora, tendo recebido o prêmio de poesia daquele ano da Academia Brasileira de Letras.

Em 1940, casa-se com Heitor Grillo. Passa a lecionar literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Ministra conferências no México e visita a Argentina, Uruguai e diversos países europeus. Nos anos 40 e até sua morte é intensa a sua produção literária.

Cecília é a poeta brasileira de maior popularidade em Portugal. No ano de 1959, teve suas obras completas publicadas pela Editora José Aguilar. Recebeu um prêmio pela Academia pelo livro Viagem, sendo muito elogiada por Cassiano Ricardo.

Em 1953, após anos de minuciosa pesquisa histórica, publica o Romanceiro da Inconfidência. Morre em 1964, em plena atividade literária.

Em 1965, a ABL concede-lhe postumamente o prêmio Machado de Assis, pelo conjunto de sua obra. É a consagração definitiva do projeto que norteou toda a obra de Cecília Meireles: em suas próprias palavras "acordar a criatura humana desta espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante".





Obras Publicadas:



Espectros - 1919

Nunca Mais... e Poema dos Poemas -1923

Baladas para El-Rei - 1925

Viagem - 1939

Vaga Música - 1942

Mar Absoluto – 1945

Retrato Natural – 1949

Amor em Leonoreta – 1952

Doze Noturnos de Holanda e O Aeronauta – 1952

Romanceiro da Inconfidência – 1953

Pequeno Oratório de Santa Clara – 1955

Pistóia, Cemitério Militar Brasileiro – 1955

Canções – 1956

Romance de Santa Cecília – 1957

Metal Rosicler – 1960

Poemas Escritos na Índia – 1962

Solombra - 1963

Obras póstumas: Poemas Italianos; Poemas de Viagens; O Estudante empírico; Sonhos; Poemas I(1942-49); Poemas II(1950-59); Poemas III







Um pouco da poesia de Cecília Meireles:



A Doce Canção



Pus-me a cantar minha pena

com uma palavra tão doce,

de maneira tão serena,

que até Deus pensou que fosse

felicidade - e não pena.



Anjos de lira dourada

debruçaram-se da altura.

Não houve, no chão, criatura

de que eu não fosse invejada,

pela minha voz tão pura.



Acordei a quem dormia,

fiz suspirarem defuntos.

Um arco-íris de alegria

da minha boca se erguia

pondo o sonho e a vida juntos.



O mistério do meu canto,

Deus não soube, tu não viste.

Prodígio imenso do pranto:

- todos perdidos de encanto,

só eu morrendo de triste!



Por assim tão docemente

meu mal transformar em verso,

oxalá Deus não o ausente,

para trazer o Universo

de pólo a pólo contente



Canção



Pus o meu sonho num navio

e o navio em cima do mar;

- depois, abri o mar com as mãos,

para o meu sonho naufragar.



Minhas mãos ainda estão molhadas

do azul das ondas entreabertas,

e a cor que escorre de meus dedos

colore as areias desertas.



O vento vem vindo de longe,

a noite se curva de frio;

debaixo da água vai morrendo

meu sonho, dentro de um navio...



Chorarei quanto for preciso,

para fazer com que o mar cresça,

e o meu navio chegue ao fundo

e o meu sonho desapareça.



Depois, tudo estará perfeito;

praia lisa, águas ordenadas,

meus olhos secos como pedras

e as minhas duas mãos quebradas.



Motivo



Eu canto porque o instante existe

e a minha vida está completa.

Não sou alegre nem sou triste:

Sou poeta.

Irmão das coisas fugidias

Não sinto gozo nem tormento.

Atravesso noites e dias

no vento.

Se desmorono ou se edifico,

se permaneço ou me desfaço,

- não sei, não sei. Não sei se fico

ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.

Tem sangue eterno e asa ritmada.

E um dia sei que estarei mudo:

- mais nada.



Canção



Nunca eu tivera querido

dizer palavra tão louca:

bateu-me o vento na boca,

e depois no teu ouvido.

Levou somente a palavra

deixou ficar o sentido.

O sentido está guardado

no rosto com que te miro,

neste perdido suspiro

que te segue alucinado,

no meu sorriso suspenso

como um beijo malogrado.

Nunca ninguém viu ninguém

que o amor pusesse tão triste.

Essa tristeza não viste,

e eu sei que ela se vê bem...

Só que aquele mesmo vento

fechou teus olhos, também...



Destino



Pastora de nuvens, fui posta a serviço

por uma campina desamparada

que não principia nem também termina,

e onde nunca é noite e nunca madrugada.

(Pastores da terra, vós tendes sossego,

que olhais para o sol e encontrais direção.

Sabeis quando é tarde, sabeis quando é cedo.

Eu, não.)

Pastora de nuvens, por muito que espere,

não há quem me explique meu vário rebanho.

Perdida atrás dele na planície aérea,

não sei se o conduzo, não sei se o acompanho.

(Pastores da terra, que saltais abismos,

nunca entendereis a minha condição.

Pensais que há firmezas, pensais que há limites.

Eu, não.)

Pastora de nuvens, cada luz colore

meu canto e meu gado de tintas diversas.

Por todos os lados o vento revolve

os velos instáveis das reses dispersas.

(Pastores da terra, de certeiros olhos,

como é tão serena a vossa ocupação!

Tendes sempre o início da sombra que foge...

Eu, não.)

Pastora de nuvens, não paro nem durmo

neste móvel prado, sem noite e sem dia.

Estrelas e luas que jorram, deslumbram

o gado inconstante que se me extravia.

(Pastores da terra, debaixo de folhas

que entornam frescura num plácido chão,

Sabeis onde pousam ternuras e sonos.

Eu, não.)

Pastora de nuvens, esqueceu-me o rosto

do dono das reses, do dono do prado.

E às vezes parece que dizem meu nome,

que me andam seguindo, não sei por que lado.

(Pastores da terra, que vedes pessoas

sem serem apenas de imaginação,

podeis encontrar-vos, falar tanta coisa!

Eu, não.)

Pastora de nuvens, com a face deserta,

sigo atrás de formas com feitios falsos,

queimando vigílias na planície eterna

que gira debaixo dos meus pés descalços.

(Pastores da terra, tereis um salário,

e andará por bailes vosso coração.

Dormireis um dia como pedras suaves.

Eu, não.)



Descrição



Amanheceu pela terra

um vento de estranha sombra,

que a tudo declarou guerra.

Paredes ficaram tortas,

animais enlouqueceram

e as plantas caíram mortas.

O pálido mar tão branco

levantava e desfazia

um verde-lívido flanco.

E pelo céu, tresmalhadas,

iam nuvens sem destino,

em fantásticas brigadas.

Dos linhos claros da areia

fez o vento retorcidas,

rotas, miseráveis teias.

Que sopro de ondas estranhas!

Que sopro nos cemitérios!

pelos campos e montanhas!

Que sopro forte e profundo!

Que sopro de acabamento!

Que sopro de fim de mundo!

Da varanda do colégio,

do pátio do sanatório,

miravam tal sortilégio

olhos quietos de meninos,

com esperanças humanas

e com terrores divinos.

A tardinha serenada

foi dormindo, foi dormindo,

despedaçada e calada.

Só numa ruiva amendoeira

uma cigarra de bronze,

por brio de cantadeira

girava em esquecimento

à sanha enorme do vento,

forjando o seu movimento

num grave cântico lento...



Retrato Falante



Não há quem não se espante, quando

mostro o retrato desta sala,

que o dia inteiro está mirando,

e à meia-noite em ponto fala.

Cada um tem sua raridade:

selo, flor, dente de elefante.

Uns têm até felicidade!

Eu tenho o retrato falante.

Minha vida foi sempre cheia

de visitas inesperadas,

a quem eu me conservo alheia,

mas com as horas desperdiçadas.

Chegam, descrevem aventuras,

sonhos, mágoas, absurdas cenas.

Coisas de hoje, antigas, futuras...

(A maioria mente, apenas.)

E eu, fatigada e distraída,

digo sim, digo não - diversas

respostas de gente perdida

no labirinto das conversas.

Ouço, esqueço, livro-me - trato

de recompor o meu deserto.

Mas, à meia-noite, o retrato

tem um discurso pronto e certo.

Vejo então por que estranho mundo

andei, ferida e indiferente,

pois tudo fica no sem-fundo

dos seus olhos de eternamente.

Repete palavras esquivas

sublinha, pergunta, responde,

e apresenta, claras e vivas,

as intenções que o mundo esconde.

Na outra noite me disse: "A morte

leva a gente. Mas os retratos

são de natureza mais forte,

além de serem mais exatos.

Quem tiver tentado destruí-los,

por mais que os reduza a pedaços,

encontra os seus olhos tranqüilos

mesmo rotos, sobre os seus passos.

Depois que estejas morta, um dia,

tu, que és só desprezo e ternura,

saberás que ainda te vigia

meu olhar, nesta sala escura.

Em cada meia-noite em ponto,

direi o que viste e o que ouviste.

Que eu - mais que tu - conheço e aponto

quem e o que te deixou tão triste."



Leveza



Leve é o pássaro:

e a sua sombra voante,

mais leve.

E a cascata aérea

de sua garganta,

mais leve.

E o que lembra, ouvindo-se

deslizar seu canto,

mais leve.

E o desejo rápido

desse mais antigo instante,

mais leve.

E a fuga invisível

do amargo passante,

mais leve.





Canção de alta noite



Alta noite, lua quieta,

muros frios, praia rasa.



Andar, andar, que um poeta

não necessita de casa.



Acaba-se a última porta.

O resto é o chão do abandono.



Um poeta, na noite morta,

não necessita de sono.

Andar...Perder o seu passo

na noite, também perdida.



Um poeta, à mercê do espaço,

nem necessita de vida.



Andar... - enquanto consente

Deus que seja a noite andada.



Porque o poeta, indiferente,

anda por andar - somente.

Não necessita de nada.





Cantar



Cantar de beira de rio:

Água que bate na pedra,

pedra que não dá resposta.



Noite que vem por acaso,

trazendo nos lábios negros

o sonho de que se gosta.



Pensando no caminho

pensando o rosto da flor

que pode vir, mas não vem



Passam luas - muito longe,

estrelas - muito impossíveis,

nuvens sem nada, também.



Cantar de beira de rio:

o mundo coube nos olhos,

todo cheio, mas vazio.



A água subiu pelo campo,

mas o campo era tão triste...

Ai!

Cantar de beira de rio.





Dia de chuva



As espumas desmanchadas

sobem-me pela janela,

correndo em jogos selvagens

de corça e estrela.



Pastam nuvens no ar cinzento:

bois aéreos, calmos, tristes,

que lavram esquecimento.



Velhos telhados limosos

cobrem palavras, armários,

enfermidades, heroísmos...



quem passa é como um funâmbulo,

equilibrado na lama,

metendo os pés por abismos...



Dia tão sem claridade!

só se conhece que existes

pelo pulso dos relógios...



Se um morto agora chegasse

àquela porta, e batesse,

com um guarda-chuva escorrendo,

e com limo pela face,

ali ficasse batendo



- ali ficasse batendo

àquela porta esquecida

sua mão de eternidade...



Tão frenético anda o mar

que não se ouviria o morto

bater à porta e chamar...



E o pobre ali ficaria

como debaixo da terra,

exposto à surdez do dia.



Pastam nuvens no ar cinzento.

Bois aéreos que trabalham

no arado do esquecimento.



Serenata



Repara na canção tardia

que timidamente se eleva,

num arrulho de fonte fria.



O orvalho treme sobre a treva

e o sonho da noite procura

a voz que o vento abraça e leva.



Repara na canção tardia

que oferece a um mundo desfeito

sua flor de melancolia.



É tão triste, mas tão perfeito,

o movimento em que murmura,

como o do coração no peito.



Repara na canção tardia

que por sobre o teu nome, apenas,

desenha a sua melodia.



E nessas letras tão pequenas

o universo inteiro perdura.

E o tempo suspira na altura



por eternidades serenas.





Recordação



Agora, o cheiro áspero das flores

leva-me os olhos por dentro de suas pétalas.



Eram assim teus cabelos;

tuas pestanas eram assim, finas e curvas.



As pedras limosas, por onde a tarde ia aderindo,

tinham a mesma exaltação de água secreta,

de talos molhados, de pólen,

de sepulcro e de ressurreição.



E as borboletas sem voz

dançavam assim veludosamente.



Restitui-te na minha memória, por dentro das flores!

Deixa virem teus olhos, como besouros de ônix,

tua boca de malmequer orvalhado,

e aquelas tuas mãos dos inconsoláveis mistérios,

com suas estrelas e cruzes,

e muitas coisas tão estranhamente escritas

nas suas nervuras nítidas de folha,

- e incompreensíveis, incompreensíveis.





Fonte de Pesquisa:

- Sites:

http://www.porumpoemadeamor.cjb.net/

http://www.nilc.icmsc.sc.usp.br/literatura/cec.liameireles.htm

http://www.brasil.terravista.pt/Claridade/3456/ceciliam.html

http://www.unicamp.br/iel/cedae/cedae-fcm.html



© Fernanda Guimarães

Em 08.02.02





Visite minha HP:

http://br.geocities.com/nandinhaguimaraes



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