Estava um pescador andando pela praia, quando escutou um barulho estranho, vindo da água, próximo a uma encosta. Aproximou-se mais do local e, quando chegou bem perto, viu um grande peixe que se debatia e batia nos rochedos, como se a dádiva que a natureza havia lhe dado não fosse possível naquele momento. O pescador, num ímpeto que contrariava a sua própria profissão, mergulhou com a corda que servia de amarra para o seu barco e foi em direção ao animal, a fim de salvá-lo. Conseguiu enroscar a corda pela barbatana do bicho e puxou-o para um ponto em que, finalmente, o peixe conseguiu livrar-se daquela situação.
Passaram-se meses, após aquele episódio. Num belo dia de sol, o pescador saiu para pescar. Como para as bandas em que costumava jogar a rede estava muito difícil conseguir uma boa pesca, o homem decidiu enfrentar um pouco mais o mar aberto, para ver se obtinha das águas o sustento de sua família. Já havia colocado uns vinte peixes de bom tamanho para dentro do barco, quando, de repente, o tempo começou a virar. Ventos fortes, trovoadas e relâmpagos mudaram assombrosamente o cenário daquela tarde. A violência das ondas era tão forte, que o barco virou e afundou. O pescador, desesperado, começou a nadar sem rumo, tentando manter-se na superfície. Quando já estava quase sendo tragado pelas águas, sentiu que algo o empurrava para cima. Era um peixe. Segurou no bicho, ao tempo em que agradecia aos céus por aquele milagre. Mas a relativa sensação de proteção transformou-se em pânico, quando ele ouviu o peixe falar:
-Eu estou te salvando porque tu fizeste o mesmo comigo, tempos atrás.
-Meu Deus!! Mas o que é você?!
-Não te lembras? Eu estava naqueles rochedos, sem forças, e tu me salvaste, mergulhando com uma corda.
-Deus do céu!! Um peixe que fala!!
-Calma! Eu também vou te salvar. Só quero que tu me prometas uma coisa: que nunca mais voltes a pescar. Deixa os meus irmãos e os meus amigos nascerem e morrerem no mar, sem as ameaças da rede e do anzol.
-Mas isso eu não posso fazer!! Eu dependo disso para dar o sustento para a minha família!!
-Então, eu sinto muito …
Num movimento brusco, o animal desvencilhou-se do pescador, que, sem ter mais forças, submergiu e morreu.
E quais conclusões podemos tirar desta história? Uma é que o ser humano vive em constante contradição de sentimentos. A mão solidária também é capaz de tirar a vida, em nome da sobrevivência. Outra conclusão é que a hipocrisia é parte inseparável da inteligência humana. Provavelmente, se o pescador concordasse com o peixe, iria poder, no futuro, continuar pescando sem ser importunado. E por que o peixe falou nesta história? As fábulas sempre serviram para dar exemplos positivos às pessoas que deles necessitam. Então, que a lição do nosso peixe nos sirva para reflexões. Não o culpemos por ter matado um ser humano, pois, nessa luta, a desvantagem sempre foi muito mais deles do que nossa.
|
