I
Eleva e glorifica a criatura
O amor que Jesus Cristo tem por nós.
Assim, alteia o tom da tua voz
E torna a tua alma muito pura,
Rogando que não seja muito atroz
A dor que o banimento te assegura,
Porque há de valer-te a tua jura,
A fim de perdoares teu algoz.
É grande o desamparo da má rima,
Perante o sofrimento que há no mundo,
Que o pouco que fazemos não sublima
A falsidade pérfida, sem fundo,
Que a trova não descreve nem anima,
Sentimento da alma vagabundo.
II
Quiséramos saber quanto é formoso
O parque divinal do paraíso,
Mas, para lá chegar, vai ser preciso
Dispor o coração em bom repouso.
Enquanto aqui bater, sem ter juízo,
Querendo cá da Terra o melhor gozo,
Há de sofrer o trauma perigoso
De não ouvir do Pai o bom aviso.
Se forem contestar que somos loucos,
Que o Pai sempre lhes fez ouvidos moucos,
Porque sofrem demais estando velhos,
Teremos de lembrar que foi Jesus
Quem veio, cá na Terra, verter luz,
Que esplende, em borbotões, nos Evangelhos.
III
Tristezas são comuns entre os mortais
Que querem o fenômeno divino,
Mas, quando o etéreo aqui canta seu hino,
Dão de ombros e pedem sempre mais.
Não se cansam de dizer: — “Eu abomino
Os versos que parecem sempre iguais.”
E quando contestamos: — “Eu jamais
Aceitarei de Deus tão vil destino.”
Sabemos porque foi assim que vimos
Encalacrar-se a dor, em nossos imos,
Durante a nossa vida aí na Terra.
Sorríamos da dúvida que gera
O pensamento de existir esfera
Em que, numa poesia, o amor se encerra.
IV
Quem quer chegar mais cedo ao seu destino
Não tenha pressa alguma e faça o bem.;
Não guarde, no seu bolso, um só vintém
E fuja de gerar mais desatino.
O acréscimo do Pai dá a quem tem:
É esse de Jesus o bom ensino,
Que aprende, desde logo, quem tem tino,
Porque quem nada tem acaba sem.
Se, no Evangelho, sobra algum mistério,
Podendo parecer não seja sério
O texto que não tem explicação,
Esqueça o bom amigo o julgamento,
Sabendo, simplesmente, ser mais lento
Quem alcançou primeiro a redenção.
V
Aplica essa lição à tua vida
E dá trabalho duro a teu bestunto:
Enfrenta com vigor qualquer assunto,
Pondo o melhor de ti em cada lida.
Pensa, como suíno, em teu presunto.;
Sente que é para o mal que te convida
O mundo, que quer ver-te a alma falida,
A repartir a dor, pois sofre junto.
Sofrer não é prenúncio da vitória,
Mas serve p ra explicar a tua história,
Pois quem sempre foi bom paira nos Altos.
Se a vida o que te dá é mais prazer,
Promete a Deus que cumpres teu dever,
Para não ter no etéreo sobressaltos.
VI
Jesus, quando pregou, lá no deserto,
A natureza abriu-se em bênçãos mil.
Se alguém por lá passou, diz que não viu
Nada que desse amor chegasse perto.
Contudo eu digo: — Amigo, esteja certo
De que foi o entusiasmo mais gentil
Que fez vibrar a areia e o céu de anil,
Pois o canal dos planos era aberto.
Jesus falava ao seres de outra esfera,
Levando-lhes as luzes da verdade,
Que para os homens dar também quisera.
Espero, agora, que meu verso agrade
E não soe jamais simples quimera,
Nesse auditório cheio de bondade.
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