CORDEL EM CORES
(por Domingos Oliveira Medeiros)
(*) Segunda versão. Revista e atualizada
Eu hoje estive pensando
Que o nosso cordel poderia
A exemplo da capoeira
Ter graus que a pista daria
O tempo que o cordelista
Levou pra chegar na lista
Dos mestres da poesia
Iniciante da arte
A faixa seria branca
Primeiro grau no terreiro
A rima bastante franca
O seu batismo primeiro
O seu cordel verdadeiro
A porta faltando a tranca
A entrada do aprendiz
Com garra e muita humildade
Rimando com boa harmonia
Primando pela amizade
Dos mestres recebe conselhos
Palavras que são espelhos
Imita com sinceridade
Assim vai desenvolvendo
Até que um dia a criança
Que começou na cor branca
A faixa verde alcança
Cresce em verso e harmonia
Faz parte da confraria
Com a faixa da esperança
Segue o aprendiz de cordel
Rimando as coisas da vida
Falando de amor e de paz
Pra essa gente sofrida
Com graça e muito talento
Lança esperanças ao vento
Vai galgando a subida
Alcança outro estágio
Já dá golpes mais certeiros
Não se perde no caminho
Segue sempre os companheiros
Sua rima é consistente
Mexe com o amor da gente
São seus versos verdadeiros
E avançando sempre mais
Conhece mais o caminho
Acumula sentimentos
Arrisca andar sozinho
Caminhada mais comprida
Levou tempo nesta vida
Colhendo rosas e espinho
Passado um bom pedaço
A cor agora é celeste
Azul é seu novo grau
Já é bom cabra da peste
Já começa a fazer frente
Com um bocado de gente
Gente até do agreste
Mas é tudo brincadeira
Nada contra nem pessoal
A briga é pura troça
Vale tudo, e isto é normal
Apontar o defeito realça
Tira o cinturão da calça
Rebate no bem contra o mal
Muito tempo é passado
Recebe a faixa amarela
A faixa mais preciosa
A faixa que é a mais bela
O grau que equivale ao ouro
A faixa que vale um tesouro
A faixa de toda aquarela
Faixa dos mestres e amigos
Todas cores e histórias
De quem escreve na hora
Valendo-se de suas memórias
Visões alegres, otimistas
Sonhadores realistas
Merecem todas as glórias
Os mestres são perfeitos
Ao pintar as aquarelas
Não demoram com as rimas
Tem nas faixas todas elas
Nem se permite o retoque
Fazem versos a reboque
Abrem portas e cancelas
Possuem o brilho e o valor
Do metal mais valoroso
São ourives das palavras
No que tem de precioso
Falam com a voz da verdade
Do amor com simplicidade
Fraternal e amoroso