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Contos-->Vila Pureza -- 10/10/2002 - 11:08 (Whisner Fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Vila Pureza


“Rainha do impossível, eis o que sou. Hoje me sinto frágil o bastante (e forte) para admitir isso. Antes não: eu me achava no direito de todas as possibilidades.”
(Olga Savary)



Vocês acham que eu seria personagem de um conto se não fosse um pouco interessante? Então eu preciso me apresentar. Nome burguês tenho, decantando com o tempo, difamado, estuporado e toda a quantidade de ados que compõe a família dessas palavras pobres. Mas ainda nome: Larissa. Prazer mesmo, uma honra. Enchantée!
Hospital Nossa Senhora do Bom Pastor, madrugada firme, calor arretado, foi aí que vi a cara balofa de um sujeito de branco escancarando os dentes igualmente alvos para mim. Meu pai fumava na sala de espera, a mania comum dos homens de pretensa responsabilidade, o velho manjava um charutão que metia medo, quando puft: ataque cardíaco fulminante, ali mesmo. Se eu sei que cara ele tinha foi por causa das fotos que a minha mãe nunca cansou de me mostrar. Mesmo sem conhecê-lo, aquele bigode equilibrando no lábio superior não me deixou dúvidas: teria a quem puxar. O camarada nos deixou na vala, bem no fundo, tostão nenhum mesmo, coisa deprimente, só vendo. Vai a minha mãe para o tanque arrebanhar uns trocados, que solução outra?
Vocês pensam que existe creche para filhos de trabalhadores autônomos? Só molhando a mão do dono com o tutu mensal, que jeito? Mas na peleja que levávamos os dias, não sobrava tempo para o extra. Resultado: minha mãe agüentou o quanto pôde, lavando roupa em casa mesmo. Depois a renda apertou, sorte que eu já tinha meus doze anos. Aprendia algo da vida mesmo que não quisesse. Mandona? É, estão vendo a explicação, né? Não dá para sair culpando sem mais ou menos, a coisa tem a sua raiz.
Nem sei se conto, é meio inacreditável mesmo, mas a tal da minha genitora é safada. No melhor sentido, claro, que não estou aqui para ficar baixando o porrete em quem deu o sangue (literalmente) para me criar (aos trancos, barrancos e trampos escusos). Depois que me considerou grandinha, a velha começou a trabalhar na ilha. Que nome escroto (mas justíssimo) para um lupanar, porque ficava numa baía, sabem?, no meio da dita cuja (não me perguntem como) cismou de aflorar um naco de terra, onde erigiram uma tapera de pau-a-pique e para onde recrutaram toda a espécie de mulher necessitada. Mas essa parte é fácil de crer. Recapitulando: a que me pariu lavava e passava de dia e à noite levava duro no ofício clandestino. A surpresa: tipo assim, vocês acham que ela se contentava com as duas rendas? O caralho. Eu nem andava direito e ela montou a própria creche, matriculou as filhas das colegas noturnas e me colocou de gerente. Ô meu, brincadeira!, vocês dirão aí, boquiabertos.
Comecei a entender de economia com dez anos, imaginaram o estrago que eu faria no Ministério da Fazenda? Ah, se o povo me enxergasse aqui, nesse fim de mundo... Vira e mexe, digo que não me queixo de nada e me pego em lamentações. Mas não é por mim não, que feliz estou e bem.
De lá para cá foi seguir o ofício de mamãe, mas antes,
e depois sou tudo isto que vocês estão pensando aí, mas trouxa não. Pinto é igual em qualquer lugar e basta não vir com o peso todo para cima de mim. Grande, pequeno, foda-se, quero saber é do tutu, se o cara parece abonado, fico por baixo, no papai-mamãe, de quatro, de dez, do jeito que der. Interior não foge muito à regra, mas apanhar da vida todo dia na capital não quero mais não. Os caras daqui são conservadores e todo esse barato, mas não é que procuram a mamãe aqui de todo jeito? Que corpo, modéstia de lado, eu lapido, estão sabendo? E para somar-se à carne, já declinei o meu latim. Hoje me gasto com o inglês, espanhol e francês. “No ataca la capa de ozono”. Sacaram? Ok, ok, blasée não faz o meu gênero nem grau e aqui não existe nenhuma história de ponto. Levamos para casa e, se observarem, a luz nem é vermelha, como fofocam. Depois é dormir até meio-dia, receber almoço na caminha de lençol de seda, sair de baixo do edredom, que pegar no batente a noite quase inteira merece desses caprichos. À tarde é tomar banho de sol nua, receber na carne os olhares sequiosos da molecada da rua. Qualquer dia até faço caridade e ensino a geografia do gozo para um desses rapazes. Também tenho o meu lado social.
Sem essa de vida marginal, que termo mais troncho, que esse troço aí não combina com os meus vestidos de grife. É, vestido sim, estão pensando que depois dos vinte e cinco a gente pode dar mole para estrias & celulite? Nem preciso repetir que besta não sou, né? Também não vou ficar reclamando da vida, que no máximo vai fazer é eu perder o freguês mesmo e a tal luxo não me dou. Meu Pálio está lá na garagem e qualquer maltrato, uma marcha que se passa fora da hora, o bicho trava e são seiscentos paus no bolso do mecânico. Sustentar gasto assim com crise existencial? Psicólogo só aceito na cama ou na mesa, pode até ser enganando a esposa que não me meto nas complicações de ninguém. Daí que venha com fantasias, não me importo, nasci com todos os buracos sensíveis e bonitos, agradáveis à labuta, quem sabe não me presenteia com um orgasmo? Mas cá não me iludo não, já ouvi falar em prazer no trabalho, mas sou à moda antiga, travo com estes modernismos. Estou disposta a algemas e chicotes, é só não abusar nos tapas, que faço judô desde os nove anos e posso me enfezar.
Em São Paulo a história era complicada. Lapa, Tucuruvi, Jaçanã, a marginália toda querendo me comer e eu me safando através dos tributos. Gigolô pra quê? Querendo sustentar homem, me caso. Engraçassem comigo e iam ver o meu salto comendo-lhes a fuça. Que não dou mole não, as palavras mulher, sexo e frágil juntas ouvi com quinze anos e achei uma gozação. Sem essa de ser estuprada pelo pai, escorraçada pela mãe, a minha praia é bem outra. Começou em Botafogo, num daqueles apartamentos chiques de frente para o Big Ben. Provar que não era safada, como? Era dizer o meu nome e já vinham gracejos, conversinhas, tudo verdade. Meu pai - nem sei se era coitado - morreu assim que nasci. Sorte dele. O pior é que eu gostava da coisa, desandei a matar aula de Educação Sexual, deu no que deu: dezesseis anos e já perambulava com o barrigão à mostra. Nem me dei ao trabalho de incriminar alguém; pai para quê? Andava, mas nessa época já tinha me danado. Filava bóia e pouso em casa de uma tia, que minha mãe era religiosa e precisou me tirar de casa para colocar um irmão - que não me suportava - lá dentro. Discutir? Vão lá e vejam em nome de quem está a escritura! Mas não vim a este planeta por causa de herança. A questão é: não me inspirei em Sartre nem em Chabrol. A Idade da Razão só li há dois meses e Assunto de Mulheres assisti aos dezoito. Perdi o filho e pronto, nada de aborto espontâneo ou forçado. Nasceu assim: o coração sem bater, o pulmão não arfava, foi enterrado no mesmo dia.
Hoje me encontram em Rio Claro. Se bem que me procurar só cliente mesmo e umas amigas travestis que arrebanhei por aqui. Minha mãe deve estar na lida lá em Botafogo porque nenhum advogado nem agente funerário veio me procurar. Até que o apartamento renderia uns trocos, mas não estou com o pé na lama não, que sorte eu dei de ter nascido toda esculpida e esperta para fazer o fato render.
Não vou ficar de meneios, enchendo-lhes a cabeça com descrições. Querem me visualizar? Pois bem, peguem a Árearea, do Gauguin. Pronto? Estão vendo a taitiana de branco? É a minha cara. Cresci assim, encarnação do quadro, perder meu tempo me queixando a Deus? Carne é para isso mesmo, tenho que usar enquanto presta.
Jardim-de-infância, reformatório, já andei por estes e outros cantos, sempre assobiando. Foi então que aprendi que homem, mulher, tanto faz. O que me interessa é o cobre no bolso, que prazer mesmo tenho é na cama, mas dormindo, com o frigobar ao lado, recheado de bombons e o condicionador de ar funcionando. Programa não faço por menos de quinhentos mangos e ainda assim quando chego da universidade. Por falar em estudos, a última mania que tive foi pregar umas páginas de livros no teto, assim ia lendo enquanto trabalhava. Qual o quê? Estão achando que as pessoas sabem o que falam quando dizem “mulheres de vida fácil”? Não estou gemendo e fingindo altos gozos, desaparece a clientela. Resultado: brilhante idéia desperdiçada pelo acaso.
Ah, ainda não falei das meninas. Eu, Rosette e Dalila. Um quarto fica vazio nessa casa enorme e nem vai ser preenchido que estamos bem assim. Gauguin, Manet e Nabokov. Árearea, Le Serveuse de Bocks e Lolita. Mas tudo dentro dos conformes que a polícia está aí é para atazanar. Dalila-Lolita tem mais Humbert-Humbert desesperado pelos peitinhos quase invisíveis do que possam imaginar vossas vãs consciências. Mas está no RG: dezenove anos. Quem vai teimar? Ademais, fama corre, eu sei, nossa estrutura é de primeiro mundo e como o que mais tem aqui é república de estudantes, nos demos bem. Para melhorar a camuflagem, nós três amassamos as bundas em cadeiras da faculdade. Namorado não, que temos princípios e ninguém quer se perder na vida. Rosette é a típica dona de casa, por isto abocanha quase todos os casados da pequena city. É a mulher que todo marido procura e não encontra na esposa: um demônio na cama (no bom sentido) e depois, uma maga na cozinha. Após o trabalho prepara uma fondue de fromage nota mil. Taí o Vectra que não me faz passar por mentirosa: é a que melhor recebe.
Na moral: hoje sol, shopping, projetos para meu romance, não desses que a gente vive porque só com mulheres frágeis, planos para o mestrado, colegas de sala me respeitando, isso jamais, fazer da sala a minha clientela. Letras, não sei se disse. Rosette biologia e Dalila imagem e som. Cada uma com seu horário, suas rotas, mas a amizade acima de tudo.
Rosette, de pai Miguel e Burnheza e mãe Matoso e Albuquerque, famílias beirando quinhentos outonos de tradição, um embargador aqui, outro adido cultural ali, uma Babel de cultura e responsabilidades com a língua alheia, calada a custo de subornos e assassinatos, foi a única que assumiu a sua verdadeira condição, a mãe empetecada se descabelando com a coragem da filha, o pai preocupado demais com processos de assédio sexual, tudo arranjado, se casaria com um Affonso e Catavéria, dedicação, um tesão de pessoa não fosse uma ligeira insegurança sexual ou quem sabe uma paixão mal-resolvida pelo melhor amigo de infância, o que o fez imprudentes, ora, trocar beijos dentro de casa, onde já se viu?, lógico, estavam pedindo para serem descobertos, com as cuecas na mão e outros objetos na boca, c’est la vie. Mas mãe, nem me venha com essa de insistir em aparência e coisa e tal, vou seguir a minha vida. E Rosette insegura sensível inteligente uns olhos verdes capazes de enfeitiçar o diabo, mirou-se no exemplo do furacão, Hilda e se mandou para Sampa, sem, no entanto copiar o idealismo na outra, cobrando os olhos e o nariz da cara para permitir dormissem (ou não) com ela.
Dalila disse: é assim, não querem me dar grana Não faço mesmo medicina, podem dizer que estou desperdiçando minha inteligência, que isso e aquilo, mas quero imagem e som, meu sonho, poxa, pai, você teve um sonho que foi ser médico, mãe a senhora também, só por isso tenho de seguir vocês?, é?, se é assim, não precisam me custear, dou um jeito, trabalho, faço os cambaus, tenho dezoito anos, et cetera. Foi parar em São Carlos, queria uma cidade perto de Osasco, para poder visitar os pais, caso algum dia sentisse saudade. Depois foi para Rio Claro, quando nos conheceu, mas é uma outra história. Já já eu conto.
Eu nem sabia de Rio Claro. E como Dalila vim para São Carlos primeiro e, tá podem rir, estou disposta a abrir o jogo, vergonha de quê?, vim por causa do Deonísio. É, o da Silva, o escritor. Não sei se é uma meia tara por pessoas presas durante a ditadura aliada à veneração pelas letras,

Não é difícil fazer contato aqui, o traquejo da capital facilitou tudo. Vai qualquer um? Depende, basta este um ter como remunerar as peripécias do meu sexo. Daí somam-se colegas de escola, gerentes de banco, micro-empresários, escritores e toda a sorte de personalidades. Mulher ocasionalmente, só durante as crises afetivas e arroubos de curiosidade.
Festinha aqui nem pensar, que nunca precisamos divulgar o serviço. Tudo bem, Rosette é um anjo: não é que a menina gosta mesmo de arrumar a casa? Mas lavar piso depois de festa é apelação, não dá para testá-la assim. Já falei do café na cama? Ela. Vou reclamar? Então, com gentilezas assim, afeitas à vassoura & cia., vá lá, mas com o tempo aprendemos a não abusar.
Meses atrás apareceu um alemão por aqui. Não é que o cara cismou que queria me levar para Berlim? Que culpa eu tenho se lá não existe mulher com a minha cor? Apaixonar é outro papo, que já me vacinei aos doze, quando entre astutos dedos deixei a rosa da minha inocência. Agora é curtir Caetano mesmo, que o safado do Bandeira já previra tudo. A “inteligentsia” inteira preveniu; eu, uma pobre coitada cujos neurônios não ambicionam tanto, vou é usar as minhas pernas mesmo, a tal arte de aproximar e distanciar os joelhos, dependendo da ocasião.
Rodrigo é o nome do meu irmão. Só me lembro disso. Largada no mundo? Não me queixo, repito, para o caso de existirem desatenciosos. Tenho lá os meus momentos de infelicidade, mas nada que um bom litro de uísque não resolva. Mesclado, cocaine, sei lá. Daqui a pouco já consigo me sustentar sem precisar dessa loucura da noite. Aí, meu corpo só será apalpado quando eu estiver no cio. Duas casas no meu nome, o aluguel comendo, curso superior por terminar, mas mudar de ramo? Não tiro meu time de campo de jeito nenhum. Vai continuar escalado do mesmo jeito até a idade me dizer que a chuteira deve ficar de enfeite na parede da sala, o que pode acontecer lá pelos quarenta, se a sorte continuar rondando e nunca mais pintar algum do porte do Rui, o safado que inspirou John Holmes e talvez o filme Boogie Nights.
Estou sabendo, não caio mais em papo mole. Posso até confundir com este chiclete sempre no assanhamento dos dentes, só que as aparências passam para trás.
“Agora mesmo é que dou um bom giro, para espairecer, aparecer e outros verbos mais”. Aí o que acontece? Revólver na cara, moleque tarado, levou o carro, mas antes tratou de se aproveitar. Não fossem tempos de AIDS nem me importaria. Ainda gritei “camisinha, meu, camisinha”, mas o cara devia estar naquela secura, me ouvir de que jeito? Fosse eu outra mulher, dessas que por qualquer ratinho se descabelam, um estupro seria o fim, ai, ai. Nem dei queixa na delegacia, que no máximo me levariam para o fundo e fariam reconhecimento do produto, imitando o assaltante. Era deixar a boca tapada e batalhar para repor o automóvel. Foi o que fiz. Seguro tenho até dos meus brincos agora, pena que o preconceito ainda não me deixou fazer um da boceta. Meu instrumento de trabalho, pôxa, se fico fora do mercado, quem me paga o dia-a-dia? Perna tem seguro, xoxota não, que coisa!
Homem para mim é o Truffaut e tudo por causa d’O Homem que Amava as Mulheres. É que já se ajoelharam à minha frente uns doze, mas também a dúzia toda babava. Desconto? Estão achando que sou as Casas Bahia? Liqüidação só depois da meia idade, queridos! Comigo amor é coisa da Super 8. Só o cinema mesmo para bolar este esquema de lucro. Tivesse eu uns trocados a mais e mandava produzir um clip para ser exibido na sessão das oito do Cine I, no shopping. O que ia ter de dólar querendo comprar o tal sonho não seria brincadeira não.
Já sei, esse lance de garota culta é coisa de romance! Estão achando o quê? Vejam lá no Rio o tamanho das bibliotecas públicas! Que estranheza é esta que diz que eu não poderia ter amassado banco numa delas, de nove às vinte e uma? Está certo que nunca fui louca por Aristóteles e suas teorias, mas em português a vida inteira fui craque. Daí para a leitura basta força de vontade ou morar perto de uma construção que abrigue livros. Não digo que o Affonso Romano chegou a ser o meu amigo, mas que enchi o saco dele a ponto de me emprestar umas obras de sua coleção, ganhar uns tantos livros dele (autografados!) e receber dica de outra dezena, ah, isso eu fiz. Mas deixa essa parte no escuro, onde estava, porque não quero comprometer o cronista. É como o José Dumont, o meu ator de cabeceira, falou na noite de estréia do Kenoma: “minha tia me ensinou a ler do “a” até o “k”, que era até onde ela sabia, depois, dado o primeiro passo, me ajeitei com as outras letras”. Também fui assim, só que o abecedário já sabia de cabo a rabo, imaginem o que posso aprontar...
Sabem do que mais? Tenho até curso de pompoarismo. P-o-m-p-o-a-r-i-s-m-o, chique não? Ginástica erótica, dança vaginal, como quiserem chamar. Vi numa propaganda de jornal, na parte de anúncios pornográficos, fiquei curiosa, né? Não dá para desatualizar no mercado de trabalho. Liguei, me explicaram. Gostei da explicação, fui conferir. Um lugar horroroso, lembrou-me um spa, cheio de dondocas loucas para aprenderem novos truques para enlouquecer os maridos. Marido louco libera mais grana. Mais grana, marido mais louco ainda. E por aí fecha-se o ciclo. Eu não, fui a trabalho. Safado foi o professor, um japonês baixinho. Até hoje desconfio que ele abusou nas massagens.
Só que o cachorro late e não é nenhum canino. Trata-se da nossa nova campainha, coisa de Dalila-Lolita, nossa pequena enfant. O pior é que estou sozinha agora, me metia a escritora até o meu compromisso chegar (geralmente vinha mais tarde, será que a patroa está fora?). Que espere um pouco mais porque mesmo sendo a minha estréia literária, não vou fazer como faço na profissão: nas coxas. “Espera, espera, pelo amor de Deus, que já vou!” Esta aí foi a contribuição do Reginaldo para as letras brasileiras: meu grito transcrito palavra por palavra, entretanto sem a intensidade nem a potência sonoras do original, visto que minha obra ainda não é multimídia.
Cá do meu lado vou tocando. Já viram no cemitério o tamanho da lista das pessoas que se preocuparam com o futuro? “Ai, meu São Bernardo, vou ter que atender a porta que amanhã vence o IPVA”. Vale também escrever meus pensamentos. Esperem aí, não vão embora, quero terminar esta história, ainda tenho muita coisa importante para dizer. Esperem aí...
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