T. S. Eliot, poeta, escreveu o seguinte aforismo“Numa terra de fugitivos aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo.”
É fácil entender os que andam na direção em que todos andam. Seus pensamentos e atos têm suas origens no tempo e são expressões da teia
das relações sociais em que estão enraizados.
Eles pensam e falam aquilo que a linguagem “gregária” os obriga a pensar e falar. A linguagem gregária é como um jogo de xadrez, com uma lógica rigorosa e desenvolvimento previsível. As instituições e os jornais se fazem com ela. Assim, basta que as primeiras palavras sejam ditas
para que se possa adivinhar quais serão as últimas.
Os que andam na direção contrária, entretanto, são aqueles que dizem o que não se pode adivinhar e que não era previsto. Seus pensamentos e palavras são sempre um susto, uma surpresa, um lapsus freudiano. Estes são os hereges, os poetas, os místicos, os visionários, os palhaços, os profetas, os loucos, as crianças
Não são seres deste mundo. O que dizem sugere que suas raízes estão fora do tempo. Estarão na eternidade? Seria esta a razão por que a notícia envelhece logo e é logo esquecida (quem seria tolo de ficar lendo jornais do mês passado?), enquanto a fala dos que andam na direção contrária atravessa os séculos. Da Cecília, Drummond disse que “distância” exílio e viagem transpareciam no seu sorriso benevolente’. E ela mesma disse que o seu principal defeito era “uma certa ausência do mundo”. Também Nietzsche lamentava a sua solidão e exílio. Desesperado de não ser entendido disse que nunca mais falaria ao povo;
só falaria aos amigos... e às crianças...
Dos que andaram na direção contrária lembro-me agora de um de forma especial, porque no dia 30 de janeiro se completarão 53 anos da sua morte. No dia 30 de janeiro de 1948 Gandhi foi assassinado. Os que andam na direção contrária são sempre sacrificados, de um jeito ou de outro. . .