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Artigos-->REVOLUÇÃO BRANCA -- 26/10/2010 - 15:32 (Délcio Vieira Salomon) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
REVOLUÇÃO BRANCA



Délcio Vieira Salomon*



Quem se debruça sobre a evolução histórica do Brasil e do mundo, nota que nosso país, desde a descoberta até hoje, carece de verdadeira revolução. Não digo revolução sangrenta como a francesa ou a da guerra da secessão americana ou a de 17 na Rússia. Aliás, movimento para ser revolução não precisa necessariamente de derramamento de sangue.

Já tivemos notáveis revoluções no mundo sem uso de armas. Cito, como exemplo, as três maiores havidas em nosso mundo ocidental.

A do Renascimento, em que o ser humano deixou de ser dirigido pela tradição e incorporou os valores da família e do próprio indivíduo. Como diz Riesman, o homem passou de tradition directed para inner directed (introdirigido).

A segunda por demais conhecida e exaltada: a industrial. Começou na Inglaterra em meados do século XVIII, expandiu-se pelo mundo e marcou mudanças tecnológicas com profundo impacto no processo produtivo em nível econômico e social.

A terceira aparece em pleno século XX e perdura até hoje com seus frutos e consequências: a do consumo, da cultura e do lazer de massa. Segundo Joffre Dumazedier, “o homem é movido por normas e valores veiculados pelos meios de comunicação de massa e os grupos de pares (peer groups). Ele passa a ser other directed (heterodirigido)”. Não fosse caudal dessa, poder-se-ia acrescentar uma quarta: a do aparecimento da informática, cujos resultados estamos vivendo intensamente.

Voltando ao início de nossa reflexão: o Brasil ressente de uma legítima revolução. Sem necessidade de derramento de sangue. O que não podemos alimentar é essa mania de nossos governantes dos três poderes de evitar (sempre por motivos inconfessáveis) mudança radical das estruturas, e apelar para arremedos chamados “reformas”.

O Brasil não pode continuar carente de mudanças radicais. Estranhamente todas as vezes em que se fala da necessidade de mudanças, aparecem logo certos intelectuais, certos “phdeuses”, todos a arrogar serem especialistas nas áreas em que as mudanças são reclamadas, e sempre com um modelinho no bolso. A maioria desses modelinhos, como os afamados “tipos ideais” weberianos, é importada de outra realidade, notadamente a dos Estados Unidos. Resultado: os responsáveis pelas mudanças (geralmente políticos despreparados a confiar em assessores ou em palpiteiros) aceitam tais modelitos e os impõem à realidade brasileira.

Os mentores de tais reformas procedem como certos pesquisadores em ciências sociais que querem fazer pesquisas sobre “temas” da realidade brasileira, a partir de teorias de cientistas e teóricos que as formularam em outra realidade. Ilusão pensar que toda realidade, seja ela deste ou daquele país, desta ou daquela região, desta ou daquela sociedade, desta ou daquela cultura, seja homogêna. É sabido que não é.

O verdadeiro pesquisador, para legitimar sua pesquisa, tem que partir da própria realidade em que está inserido e sobre ela, ainda que usando quadros referenciais teóricos apreendidos de outros contextos, exercer primordialmente a problematização, incluindo nessa o contraste da realidade enfrentada com as formulações teóricas existentes. Se a realidade é sempre conflitiva, sem começar por problemetizá-la e, em seguida, sem exercer a agudização dos conflitos deparados, jamais se conseguirá a superação, ou seja, a solução que se pretende alcançar.

Apesar de exíguo o espaço para essa reflexão, julgo-a tão pertinente que sou levado a propor que, a partir de 1º de janeiro/2011, independente do ressultado das eleições, comecemos um grande movimento neste pais: o da problematização em todos os setores de nossa sociedade brasileira, de norte a sul.

Repito: sem esta problematização não adianta pedir reformas. Precisamos de revolução, ainda que branca, e esta só pode começar pelo processo da autêntica problematização. Se a realidade é multifacetada, onde tudo se relaciona, não adianta reformas setoriais, sobretudo as formatadas por interesses alheios aos verdadeiros problemas do país.



______________

*Professor livre-docente aposentado da UFMG. Autor de A maravilhosa incerteza, Ed. Martins Fontes.



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