Usina de Letras
Usina de Letras
159 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62073 )

Cartas ( 21333)

Contos (13257)

Cordel (10446)

Cronicas (22535)

Discursos (3237)

Ensaios - (10301)

Erótico (13562)

Frases (50480)

Humor (20016)

Infantil (5407)

Infanto Juvenil (4744)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140761)

Redação (3296)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6163)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->CIDADANIA ESTÁ NA MODA -- 06/02/2002 - 20:36 (Domingos Oliveira Medeiros) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Costuma-se dizer que assuntos como religião, futebol e política, não se discutem. Com efeito, há determinadas questões que, pela sua complexidade ou pela variedade e abrangência de aspectos sócio-culturais nelas existentes, dificultam estabelecer pontos de vista a respeito.



Não é por outra razão que assuntos como o aborto, a pena de morte, a eutanásia e a clonagem de seres humanos, por exemplo, são ainda considerados como verdadeiros tabus. São temas envolventes, que aguçam o raciocínio e a especulação, na busca do entendimento definitivo e a conseqüente formação de opinião a respeito. Mas nem sempre é muito fácil conseguir este ponto de vista.



No mais das vezes, e à medida que as discussões avançam, surgem novas idéias e novos conceitos. Conceitos que, por sua vez, juntam-se às nossas opiniões preliminares, e contribuem, também, para mudá-las. E o assunto não pára por aí.



Um dos assuntos que retomam as páginas dos jornais, por causa do Carnaval, é a questão da AIDS. No Distrito Federal, e em Olinda, se não me falha a memória, a campanha, segundo a imprensa, já começou. E começou com a distribuição de camisinhas e de seringas descartáveis. A idéia, segundo os idealizadores da campanha, é chamar a atenção para a necessidade de conter o avanço da AIDS, doença incurável, que tem trazido despesas para o governo e muita tristeza e prejuízos de toda ordem para os infectados, seus amigos e familiares. Até aí tudo bem. Mas quando eu soube da frase utilizada na campanha, comecei a refletir melhor sobre o assunto. A frase é a seguinte: “Tire a roupa e vista a camisinha”.



Sem pretender entrar no mérito da questão, e apesar de louvar a iniciativa e a intenção proposta na campanha, não concordo com os meios utilizados.



No meu modo de ver, e durante todo o ano, as campanhas deveriam ser mais numerosas e mais criativas. Usar camisinha ou diminuir o número de parceiros ou parceiras é muito pouco, principalmente da forma como sugerido. Incentivando o sexo e o uso de drogas, numa confissão clara de que o governo já perdeu essa guerra. E a batalha que trava, pelo seu conteúdo, não conseguirá alcançar os objetivos. Até porque, não se tocou na questão antecedente, que é a questão do álcool. Que é droga lícita. Que tem sido tratada com injustificável parcimônia do Estado. É a partir do álcool, ou por sua causa, que as pessoas deixam de usar a camisinha doada pelo Estado. E a Campanha vai pelos ares. Seus objetivos foram dopados pelo consumo incontrolável da bebida consentida. Mesmo raciocínio pode ser aplicado no caso dos viciados em drogas ilícitas. Na hora do sufoco, qualquer seringa serve. Inclusive a do Estado, que poderá ser usada tantas vezes quantas forem os níveis de dopagem.



E o que fazer? Somente as campanhas durante o ano todo resolveria o problema?



A tese de algumas religiões é a de que o meio mais seguro para acabar com a AIDS seria a prática da fidelidade entre os casais. Mas isto seria pedir demais. Seria considerado uma grande utopia. No mundo de hoje, onde o que prevalece é exatamente o contrário. E tudo sob o fundo falso da economia de mercado. O lucro fácil com a publicação de revistas de forte apelo sexual. A apologia que se faz ao sexo. A prostituição adulta e infantil, como tema que já faz parte até de roteiros turísticos.



Não teria uma solução de imediato. Mas entendo que existem alternativas melhores. Poderíamos começar a repensar o que precisa, efetivamente, ser feito. E o que pode ser feito. E o melhor a ser feito. Como também, pensar no que não deveria ser feito, no como não deveria ser feito, e assim por diante. Afinal de contas, que sociedade queremos construir?



As lojas de objetos “eróticos”, por exemplo, contribuem para o aumento da AIDS, na medida em que incentiva o sexo pelo sexo. E o que se vende nestas lojas? Pedaços de plásticos, de madeiras, de ferro e outros materiais, de cores e formas diversas, pontiagudos, redondos cilíndricos luvas, correntes, fantasias, para todos os buracos e todos os gostos, não sofrem qualquer fiscalização da parte das autoridades. Não deveria? O combate mais agressivo e mais inteligente ao contrabando de drogas não seria uma boa idéia? O combate à prostituição infantil está sendo feito da melhor maneira possível? Já temos alguns resultados práticos? O combate ao crime organizado, em que pé está? A corrupção, que medidas estão sendo postas em prática para minimiza-la? A questão da segurança. A política de segurança está pronta e em pleno vigor? Em que a sociedade pode ajudar? E as questões pontuais da economia? O desemprego. O acesso às escolas de nível médio e superior. `Às escolas técnicas e profissionalizantes, estão em pleno funcionamento e devidamente voltadas e integradas com as necessidades de nossas indústrias? E os meios de comunicação de massas? Estarão sendo utilizados da melhor maneira possível? Há preocupação com a formação ética e moral de nossa população? E a classe política, o que mais poderia fazer pelo Estado?



São questões colocadas e recolocadas, e para a solução das quais não há como fugir. Mais cedo ou mais tarde, de um jeito ou de outro, elas exigirão soluções. Nem que seja de última hora, improvisadas, mal elaboradas, pela emergência em que vão se tornando, dia a dia, pela falta de soluções nascidas do planejamento prévio, da vontade política.



Não podemos ficar distribuindo camisinhas e seringas. Nem reconhecendo que o cigarro faz mal à saúde. Nem justificando que o desemprego é mundial. Que a crise é passageira. Que o combate ao terrorismo é nossa prioridade maior. Nem procurando convencer que a economia esgotou sua fonte de recursos para solucionar as questões nacionais.



Daqui a pouco, vamos ser obrigados a clonar nossos cartões de crédito e distribuir cópias para os seqüestradores, estabelecendo prazos e valores para saques, em nome da segurança pessoal de todos. Ou criar mais e mais presídios, para acabar com o excesso e acúmulo de presos nas delegacias. Ou criar mais e mais hospitais, para acabar com as filas. Ou realizando, de tempos em tempos, mais e mais eleições, para continuarmos debatendo os mesmos problemas de sempre. E a cada final de ano, verificarmos que a retrospectiva do ano que passou, foi igual ao ano anterior e que muito provavelmente será igual ou pior ao ano que virá. Cidadania não é moda. É direito adquirido.





Domingos Oliveira Medeiros

06 de fevereiro de 2002























Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui