Usina de Letras
Usina de Letras
17 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62284 )

Cartas ( 21334)

Contos (13267)

Cordel (10451)

Cronicas (22540)

Discursos (3239)

Ensaios - (10386)

Erótico (13574)

Frases (50671)

Humor (20040)

Infantil (5458)

Infanto Juvenil (4780)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140818)

Redação (3309)

Roteiro de Filme ou Novela (1064)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1961)

Textos Religiosos/Sermões (6208)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->VIA AQUA: A Primeira Vez -- 06/02/2002 - 20:15 (Marta Rolim) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O rio ficara para trás, perdido na mata. O pequeno Cristo atravessou a senda estreita que conduzia ao jardim — ocultada por um espesso véu de teias de aranha - e logo deparou-se com a serpente, a guardiã: os três chifres ancestrais da víbora despontavam no alto de sua cabeça triangular, apontando diretamente para o rosto do menino! Ela o mirava imóvel, com seus olhos de pupilas riscadas, quieta, enroscada, quase invisível entre as folhas secas, mas o menino Jesus podia ver a ponta curva de seu rabo, que ostentava um poderoso espinho negro. Um espinho mortífero suspenso no ar. Rabo de escorpião — pensou o pequeno, assustando-se - uma víbora com rabo de escorpião!



A serpente estava parada em seu lugar de costume, sonolenta e desinteressada da vida — embora sempre de olhos muito abertos — quando viu o véu romper-se em chispas de luz e um magnífico rapazinho saltar da escuridão da mata.



A face do menino, morena e lustrosa, contrastava vivamente com a face medonha do ofídio.



A serpente e a criança miraram-se longamente.



Jesus finalmente reagiu, rompendo o silêncio e a paralisia que o tomava, desejando livrar-se do olhar hipnótico da guardiã. Perguntou como andava o paraíso. A cobra sibilou, exibindo sua língua bipartida, e nada respondeu. Não era à toa que a serpente guardava o paraíso! Tinha fama de ser o mais astuto dos animais que haviam no jardim.



O rapazinho, não dando-se por vencido, com eloqüencia inesperada explicou à serpente que haviam humanos que gostariam de voltar ao jardimde delícias (percorrendo a senda proibida) e que ele fora incumbido de resgatá-los.



A víbora sorriu e gargalhou, maliciosa, e foi rindo cada vez mais à medida que mergulhava no olhar inocente da criança. Gargalhou alto, a boca frouxa, as duas presas pontiagudas resvalando para fora. A língua bipartida escancarou-se e os olhos calculistas afinaram-se, o ferrão negro dançou no ar, acompanhando os movimentos espasmódicos do ventre longo. A cobra inteira sacudia-se de tanto gargalhar, mas súbito, como se algo a tivesse alertado, estancou o riso e assumiu novamente sua postura cautelosa e vigilante. Cara Luzzzz — disse a peçonhenta para o tenro Cristo — o paraísssssso sssempre essteve aberto, diga aosss humanosssss que elessss podem voltar sssempre que quisssssserem.



O menino achou estranha a resposta da guardiã, mas intuía que não deveria contestar sua palavra. O pequeno Cristo agradeceu à víbora e virou-se para atravessar a senda novamente, que a esta altura já se encontrava quase totalmente selada pelo véu de teias que as aranhas teciam sem parar. Foi quando viu - no espelho dos diminutos olhos das aracnídeas — a serpente se movimentando em total silêncio às suas costas, elevando bem alto seu ferrão escorpiônico e apontando o espinho mortífero para atingi-lo diretamente na nuca.



Uma fração de segundos... Um salto preciso para o lado, num átimo, e o ferrão negro cravou-se no solo. A traiçoeira, mais que depressa, tentou armar novo bote para fulminar o filho de Deus, mas ele escapuliu espetacularmente, atravessando o véu de teias com um vigoroso impulso.



Os humanos o esperavam à beira d água. Os descendentes dos primeiros. O menino Jesus relatou o que havia acontecido e descreveu como a guardiã do paraíso quase o matara e que as possibilidades de voltar ao jardim de delícias eram remotas.



Assim que o rapazinho findou o relato, os homens ficaram irados. Revoltaram-se contra a sorte de vida que Jesus lhes revelara! Foi a primeira vez que Ele morreu: Via Aqua! Muito antes da via Crúcis. O rio caudaloso refletindo as faces furiosas, enquanto o rosto do pequeno afundava. Nunca conseguiu ficar muito tempo na Terra.











Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui