Turma Cassiano Nunes
Orador: Ignácio Camillo Álvares Navarro
Brasília, 17/agosto/2000
Excelentíssimo Senhor Professor e Escritor Cassiano Nunes, patrono da Turma de Letras do primeiro semestre de 2000!
Ao saudá-lo, estendo a todos os presentes minhas palavras.
Convidado por meus colegas para discursar em nome da turma nessa solenidade, senti-me primeiramente honrado, depois assustado com a responsabilidade da tarefa.
Ao sentar-me para escrever as primeiras linhas assaltou-me uma séria apreensão: como falar em nome de tantas pessoas, de diferentes habilitações, com vivências e experiências tão heterogêneas?
Solicitei então aos colegas mais próximos que me fornecessem breves relatos pessoais, para subsidiar um discurso que fosse representativo de toda a turma.
Alguns chegaram a fazê-lo, o que muito me ajudou.
Mas, premido pela exigüidade do tempo, concluí que na verdade não seriam de todo necessários esses relatos, pois bastou-me recordar os últimos semestres dentro da UnB para tomar consciência do valor do investimento que todos fizemos para as nossas vidas.
É certo que cada um dos alunos aqui presentes tem sua própria origem, seu caminho, sua presença e atuação na sociedade; mas foi no âmbito da Universidade que tivemos a grande oportunidade de compartilhar nossa visão de mundo pessoal com o grupo que, por sua vez, transformou e aprimorou todos nós.
Esse é para mim o maior milagre que uma sociedade pode operar: na diversidade de seus membros constrói a sua unidade e distribui a todos suas benesses, alimentando continuamente esse processo ao qual chamamos "civilização".
Na Academia isso torna-se mais visível, mais palpável. Mas é óbvio, diriam alguns – visto o tamanho do universo observado. No entanto, eu diria que isto acontece muito mais pelo "objeto do desejo" de todos que estão ali: o conhecimento!
Sem dúvida, este sempre foi o LEITMOTIV (lajtmo tif) – o "motivo condutor" mais poderoso da humanidade.
Muitos poderiam pensar que falo isso porque é moda dizer que estamos entrando na "era do conhecimento", porque que é o senso comum da pós-modernidade, do mundo globalizado (ou da mundialização, de acordo com alguns mestres).
Graças aos avanços tecnológicos isto pode estar próximo, apesar das cruéis e injustas distorções sociais que vem gerando e, espero, deverão ser minimizadas num futuro próximo.
Mas, o enfoque de conhecimento a que me refiro é mais ancestral, seja ele oriundo das primeiras narrativas orais míticas (com sua função de manter vivo o conhecimento) bem como dos documentos escritos, mais próximos de nossos tempos.
A muitos poderia ocorrer que o modelo mais ilustrativo para a universidade atual seria a Academia de Platão, na Grécia Antiga.
Mas acho que não! Anterior a Platão, no século V a.C., o ideal cultural dos filósofos sofistas concebia um "ideal de educação que visava a produzir cidadãos racionais, competentes e eloqüentes". Pela primeira vez na história da humanidade o objetivo da educação foi a formação de intelectuais no lugar de guerreiros espartanos.
Os sofistas postulavam "a inexistência de limites para o que a educação pode realizar", e sustentavam, em oposição à velha crença mística na estirpe, que a "virtude" pode ser ensinada e aprendida. Os sofistas deram início à história do racionalismo ocidental, com suas críticas aos dogmas, mitos, tradições e convenções. Em síntese, foram os descobridores da relatividade histórica, presente até hoje no pensamento dos filósofos.
Reduzindo a escala histórica da humanidade para a realidade de Brasília, ouso traçar um paralelo do modelo grego com os ideais que nortearam a fundação da nossa Universidade.
Guardadas as devidas proporções, não foram idênticos?
Agora cabe a todos nós: alunos, ex-alunos, professores, administradores e sociedade mantermos vivo o espírito transcendental que preside essa Academia.
Permito-me fazer um depoimento pessoal, já que fui aluno da UnB em 3 décadas distintas:
Hoje ela é muito melhor que ontem!
E, tomara, seja muito melhor amanhã! Assim saberemos que contribuímos para o seu sucesso.
De nossa parte já sentimos um grande orgulho em saber que o curso de Letras da UnB é nota "A" na avaliação do MEC em todo o País. E todos nós que fizemos o "provão" contribuímos diretamente para isso!
É um título que distingue a excelência do curso no qual estamos sendo diplomados.
Em nome de todos os formandos agradeço a Deus por mais essa bênção em nossas vidas.
Aos nossos pais, o reconhecimento pelo amor e dedicação incondicionais que recebemos todos os dias.
Aos nossos cônjuges, filhos, aos sogros e cunhados, pela cotidiana compreensão, que tem sua fonte no amor, com a certeza de um futuro promissor.
Às namoradas e namorados, amigos e companheiros o agradecimento pelo apoio em todos os momentos.
Nossas sinceras homenagens aos professores que nos guiaram na busca do saber. Muitos de nós, creiam, temos em vocês nossos modelos para a vida profissional.
Ao corpo administrativo, que viabiliza o necessário encontro entre mestres e alunos, nesse universo caótico e em constante mutação que é o Campus, nossa compreensão e agradecimento!
Às autoridades políticas presentes, o nosso apoio (nas urnas e fora delas) para que, no exercício de suas funções, se lembrem sempre de que a grandeza de uma nação está na educação.
Aos ausentes, nossa saudade. As boas lembranças sempre haverão de prevalecer!
Aos meus colegas formandos gostaria de fazer um alerta e um apelo: Sabemos que esta foi mais uma etapa na busca do progresso em nossas vidas, mas o privilégio de termos estudado numa Universidade pública e gratuita é proporcional à dívida que temos para com a sociedade que custeou nossos estudos.
De agora em diante, onde estivermos, sejamos defensores intransigentes dos valores da UnB; pois, a despeito de quaisquer conjunturas que enfrentemos na vida, uma coisa é certa: uma vez formado pela Universidade de Brasília, você também é a UnB.
Muito obrigado pela atenção e felicidades a todos!
