I
Os amplos horizontes do futuro
Dependem do que hoje se fizer,
Que é do passado o trunfo que se quer
Dispor no jogo, p ra ganhar seguro.
Este soneto chega de colher,
P ra comprovar que não existe furo
No raciocínio acima, muito puro,
Pois preparado está p ro que vier.
Caso estivesse eu melhor formado,
Para enfrentar co a rima o sério tema,
Não correria o risco malfadado
De me envolver apenas no problema,
Sem me sentir aqui, posto de lado,
Tolhida a evolução neste dilema.
II
Quem planta ventos colhe tempestade:
Eis o resumo certo do meu tema,
Para ser mais exato neste esquema,
Que a voz do povo a todos persuade.
De meu curto saber, por mais que esprema,
Nenhum leitor existe que se agrade,
Que o supra-sumo da felicidade
É alcançar o fim deste poema.
Assim, conserva atenta a tua alma,
Até que algum leitor consiga ler,
Mantendo a consciência em paz e calma,
Sabendo ser a norma do dever,
Que exige que do amor se leve a palma,
Que o devenir do verso é o bem-querer.
III
Estranha o bom leitor que o triste tema
Mantenha o tom de quem hesite tanto?
Mas isso está-se dando por enquanto,
Até que fique claro o rico lema.
Não há de ser objeto desse espanto
A forma, que aparece sem problema
Para suster de pé o bom sistema
De iludir com as vozes deste canto.
Às vezes, um soneto só não basta
Para mostrar que a obra é pura e casta,
Chegando até a dar real prazer.
É preciso bem mais: que haja estudo,
A provocar a reação: — “Eu mudo,
Já que senti do amor gentil poder.”
IV
Mamãe está querendo que um versinho
Ponha em relevo uma sutil virtude,
Que o coração do filho aqui desnude,
A demostrar o nosso bom carinho.
No fundo d alma, espera que não mude
Esse aconchego quente do seu ninho,
Conquanto reconheça que o caminho
Não lhe define a mãe, por mais que estude.
A sombra do futuro está distante.
No presente, a esperança sabe a mel,
Já que a felicidade é bem constante.
Na vida, cada qual tem seu papel:
Peçamos ao Senhor para que plante
As sementes do amor em Gabriel.
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