Prova de vestibular
renato cabral - oruminante.com.br
Levou a irmã para o teste e ficou esperando no local que marcaram. Voltaria para buscá-la...
Ele atrasou dez minutos e a paciência dela quase se foi. Pensou se poderia confiar. Ele chegou no limite: despenteado, camisa desarrumada e com o olho vermelho.; frágil. Ela mais alta, mais imponente, séria e impiedosa como nunca.; ele com sua graça disfarçando a paixão, o tesão retido, a vontade de beijá-la na frente do ponto de ônibus.
Foram para a casa dele. Não havia ninguém lá. Ela suspeitava. Tomaram água, chuparam uva. Ele lavou o pé dela, sujo da rua. Ela sentou em seu colo para que ele pudesse secá-los.
Tudo parecia planejado. Pura sorte. Ele pediu para ficar de cueca alegando calor. Ela tirou o jeans porque dizia incomodar. O colchão no chão, entre livros e a bagunça comum, era um convite aos abraços, aos corpos. O barulho da rua era a certeza de que o mundo grande, lá fora, não espreitava.
A trilha sonora dando problema, a tomada com defeito. O telefone trazendo notícias dos outros, dos moribundos doentes, dos parentes pouco vistos e atrapalhando a comemoração. Mas tudo isso só ajudou a apimentar as carícias, sempre interrompidas, sempre recomeçadas. Ela sabia que não iria rolar, não queria.; lembrou mais uma vez se poderia confiar. Mas o abraço, o beijo, a bexiga, o toque sutil, às vezes o tapa, minavam tudo. Ela que sempre pensava em ter limites e principalmente paciência, percebeu que paciência tem limite.
Chegaram atrasados para buscar a irmã dela. A garota havia feito uma boa prova. A menina era muito observadora, notou a diferença no sorriso da irmã mais velha, mas até os distraídos notaram.
|