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Poesias-->Inocêncio de Bravo Melo - sertanista de terra seca. -- 16/12/2002 - 09:59 (Paulo Milhomens) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Quando Inocêncio nasceu,

tornou-se viramundo,

no salto da virtude,

e do sofrimento "sorteabundo".



Antes, quem dera, se panela seca tivesse

os grãos de outrora, Inocêncio não precisaria

rodapiar pelo mundo ( por isso virou tocamundo).



Cruzou o Maranhão, o Piauí, Pernambuco,

Ceará... pensou no estreito do canto do garimpo,

na cria do gado, no mato da caça, nos calos

da mão.



Se antes encontrasse a verdade,

a mentira não lhe bateria a porta,

desespero não cortaria o estômago,

ensejo não encheria à alma.



Bicho desumano é o homem,

na vida, não compadece com o irmão.

Prefere tratar da rejeição,

pois o pão do cidadão não carece

de doação, mas sim, de coração.



Inocêncio usou carabina, dente de jaguatirica,

olho de guabiru, rabo de tatu e um punhado

de pólvoras: " Setencio a sede do estômago

em qualquer lugar, desde que tenha mato".



Antes do alfabeto e da escola, veio a polícia.

O ABC não sabia, mas de cabeça soletrava

as cantigas do sertão, ser malandro foi opção,

dinheiro não faltava na sua tira de gibeira.



Desceu Serra Pelada, fez carvão no Tocantins,

fez filho no Amazonas. Assim era Inocêncio:

leve como o vento, solto como a terra, vivo como

uma cobra.



Desbravar era seu forte,

e nisso muito investiu,

ganhou respeito e confiança

nos bordéis em que dormia,

as meretrizes se apaixonavam

por sua cor de raiva e poesia.

"Sou mestiço cor de tudo, herói

domador e vaqueiro trovador".





Inocêncio de Bravo Melo no Rio Negro



Foi nas bandas do Rio Negro que a Ayhuaska

Inocêncio experimentou,

um amigo da Bolívia logo lhe apresentou:

"Quer viajar? É só tomar".



Entrou por Belém, muita coisa já sabia,

no navio de redes e transas,

muitos planos já traçava, como as pernas roliças

que consumiu e as

cabeças esparsas, viajar era seu vício.



Quando a teia do destino trilha seu

caminho, não há encanto que desalinhe

as rotas em seu futuro.

Cavalos e búfalos selvagens,

espíritos do oco do mato,

curandeira de pé-de-estrada

no reduto das bezendeiras autônomas.



Chegando no terreno de Dona Teresa,

Inocêncio pediu com presteza.

"Sou de longe, sertão das Alagoas,

busco juventude e lição da vida sofrida".



Se tu buscas o que te fere, não viestes

ao local certo - não buscamos sua solução.

Inocêncio prometeu o trabalho em troca da desventura, e como outros episódios

do Maranhão, serviu-se de cama, banhou-se

de sono e libertou-se com um copo de açaí.



Certa vez chegou-se a ele, o "Quem-te-dera".

Andarilho noturno, diabo-do-mato, sorteabundo

de vampiro das fazendas.

Transfigura-se no velho de Juma, mãe do igapó,

pai da destreza, irmão do medo.



Quem-te-dera bateu-lhe com três tapinhas

nas costas, como reza a lenda: " Aquele que levar

os cumprimentos no ombro esquerdo, está com os

dias contados".



Quem-te-dera leva um papagaio invisível nas costas, que só Dona Teresa pode ver.



Cresceu um culote em Inocêncio, esse catombo

virou outro papagaio, que inchou. Depois, vôou

longe para o alto Rio Xingu, onde veio a se

transmutar na Matinta Pereira, e depois com o

Curupira, fumar tabaco e beber cachaça.



"Papagaio-arara azul com bico de tucano amarelo".

Cabeça de macaco prego com rabo de guariba,

tem certeza que Inocêncio ainda fica a prosear

com Dona Teresa? Inocêncio fez um filho nela.

Depois, bateu pernas para não sei onde...



Quando Inocêncio morreu, tornou-se

lenda viva, exemplo de destreza e um

pouco de sabedoria.

Mas o que importa é o homem

que faz história, e não o que

se deixa passar sem ela.



Inocêncio é lenda, e lenda é história.

E história Inocêncio continuará fazendo...

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