I
O sério olhar do grande pedagogo
Faz-me pensar quão túrbido é o destino
De quem fraqueja, em tonto desatino,
Sem nunca ouvir da caridade o rogo.
Se fosse o seu retrato de menino,
Outra expressão teria eu em jogo,
Por certo alegre, a dar-me desafogo,
Pois com Jesus, assim, melhor combino.
Uma figura ali, naquela capa,
Me dá a impressão que cousa alguma escapa
Do que me vai por dentro da consciência.
Ao escrever o livro “O Céu e o Inferno”,
Quis levantar a fímbria do que é eterno,
Pois colocava a fé à luz da ciência.
II
Devendo até os fios dos cabelos,
Já não sabia o que fazer da vida.
Eu fui buscar, então, a má saída
E despachei a carta sem os selos.
Eis-me no etéreo, pobre suicida,
A pagar em dor tantos desmazelos,
Envergonhado ao ter de descrevê-los,
Que a isso é que a consciência me convida.
O que posso dizer ao meu leitor,
Senão que leve a vida com amor,
Pois Deus é pai de infinda compreensão?!
Mas deve o filho ver o quanto errou,
Quando a si mesmo o mal não perdoou,
Que é muito nobre a fé pela razão.
III
Eu não serei jamais apedrejado,
Por confessar o meu horrendo crime.
O povo há de querer que me reanime,
Deixando a culpa e o medo ali de lado.
Não há, no mundo, dom de amor sublime
Que possa colocar-me aliviado,
Sem antes terminar este recado,
Buscando um verso que o leitor estime.
Hão de pensar que é mui estranha a pena
Sentenciada a pecador tamanho.
É que a consciência agora já acena
Que existe p ro pastor outro rebanho:
Responsabilidade não pequena,
Se alguém para esta fé no verso ganho.
IV
A limpidez do ar quando respiro
Se faz sentir lá dentro dos pulmões
E fico a meditar, com meus botões,
Como as ações do bem a mim transfiro.
No verso, surgem logo soluções,
Bastando dar à frase um leve giro.
Assim é quando a rima firme miro,
Dando no pensamento uns safanões.
Ao se tratar, porém da própria vida,
São outras as conversas do destino,
Às vezes, só havendo uma saída
Difícil para mim, que não atino
Que é somente a alma arrependida
Que vai compor um verso peregrino.
V
Eu tinha para mim que todo o mundo
Iria ler o meu pobre soneto.
Assim, eliminei cada defeito,
Buscando dar ao tema tom profundo.
Trabalhei como escravo, neste eito,
Meu cérebro, porém, não foi fecundo.
Olhem que não larguei nenhum segundo
Para folgar, que isso não aceito.
De tanto burilar cada versinho,
Tratando cada idéia com carinho,
Julguei ter realizado uma obra-prima.;
Mas, quando vim ditar para este médium,
Foi que notei um erro sem remédio:
“Soneto” com “defeito” aqui se rima.
VI
Queria dar a todos minha estima,
Mas temo não ter verve para isso.;
Então, eu vou deixar um compromisso
De retornar mais tarde, noutra rima.
No meio tempo, eu vou mostrar serviço,
A ver se o povo aqui se reanima,
Pois fica muito triste o nosso clima,
Quando o soneto murcha e perde o viço.
Tentei mostrar-me alegre algumas vezes,
Porém, os versos foram tão soezes
Que as lágrimas lavaram os poemas,
Levando a inspiração ali p ro ralo,
Fazendo com que eu diga: — “Agora calo,
Que as soluções hão de virar problemas.”
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