A TERCEIRA VISÃO
J.B.Xavier
Escuta!
Então não ouves
As batidas de teu próprio coração
Estabelecendo o ritmo da tua vida?
Não vês a transmutação eterna
Nos ciclos de vida que te rodeiam?
Oh, tu, e teus sorrisos fáceis!
Crês, acaso, que a inércia poderá um dia
Substituir o esforço
Que devemos empreender em nosso próprio benefício?
Acaso acreditas que a leveza insustentável de um ramo,
Pairando entre o existir e a não-existência,
Pertence menos à arvore que lhe fornece a seiva da vida,
Apenas porque, ao contrário dos outros ramos,
Compreende o destino errante do vento?
Acreditas, porventura,
Que o sorriso imaturo de uma criança,
Encerra menos verdades que o riso do ancião,
Carregado de vitórias e derrotas,
Apenas por trazer em si
O frescor das águas murmurejantes da fonte da juventude e da inocência?
Duvidas, acaso, de que reside em nós próprios
A força para nos soerguermos,
Não importa a profundidade do abismo em que tenhamos caído?,
É, por acaso, o condor, que sobrevoa montanhas,
Diferente em natureza, da serpente que rasteja no solo?
Seremos nós merecedores dos favores divinos especiais que tanto pedimos,
Se, às vezes, nos vergamos ante a uma simples brisa,
Por temermos a vinda de uma possível tempestade?
Seremos nós merecedores de tudo, para gozar a vida,
Quando sequer percebemos que temos a vida, para gozar de tudo?
* * *
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