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Artigos-->Um certo Centro de Tecnologia -- 05/02/2002 - 15:27 (Athos Ronaldo Miralha da Cunha) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


O período de efervescência política na conjuntura nacional, naquele final da década de 70, foi propício para a combatividade na política estudantil nas universidades. A nossa rebeldia diante da opressão militar contra os estudantes, as assembléias vigiadas pela repressão e as vidas cuidadas dos colegas mais afoitos e aguerridos foi uma constante naquele período. Na undécima hora dos anos de chumbo, tínhamos certeza que a ditadura estava dançando o seu baile da despedida e a democracia começava a raiar no horizonte.

Naqueles tempos, nós queríamos o fim da censura, eleições diretas para reitor e para presidente. Queríamos o RU mais barato e queríamos 12% do orçamento para a educação. Éramos contra o 477 e o 588 e, a bem da verdade, não lembro mais o porquê.

O Centro de Tecnologia era foco da palpitante política estudantil, mas também estudávamos muito, principalmente as cadeiras de Cálculo Infinitesimal, Resistência e Teoria das Estruturas. As contas se sucediam por várias folhas e os estudos madrugada a dentro. Havia noites em que sonhávamos com as tais integrais e com as manifestações pela democracia. Nas provas de Cálculo I, o professor tinha o hábito de escrever no quadro o tempo que faltava para o término: 30 min, 20 min, 10 min, 00 min. Bateu o pavor - Não deu tempo! Um colega, ao se retirar do recinto da prova, meio desorientado, bate com a cabeça na quina da porta, e o galo cantou. Ao sair, tomo precauções de direção para não sofrer o mesmo acidente de percurso.

Tenho presente ainda em minha mente que, lá pelo começo da década de 80, uma das nossas colegas, e uma grande companheira daqueles tempos de estudos e passeatas, teve um neném e eu fui o encarregado de repassar as aulas que ela eventualmente não podia assistir. Eu saía do curso e ia direto a sua casa para estudarmos os conteúdos das disciplinas.

Esta colega ficou eternamente grata e não se cansava em dizer que tinha comigo uma dívida impagável e até me consolou quando, na prova que fizemos, a sua nota foi extremamente melhor que a minha.

-Veja, tu és melhor professor que aluno!

-Dizer o quê? Um momento positivo!

Outra das passagens da vida como estudante da UFSM que ainda guardo comigo, talvez pelo inusitado do momento, foi uma certa noite da primavera de 1982. Meu grupo estava trabalhando num projeto da disciplina de Instalações Domiciliares quando, de repente, apagou a luz na Boca do Monte. Era a saudosa CEEE nos ofertando uma pausa para descanso. Sem muito o que fazer, fomos para a sacada do prédio. Quatro universitários às quatro e meia da manhã a contemplar, do oitavo andar do Edifício Argemiro Souto, aquela baita escuridão. Santa Maria estava despertando calmamente para mais um dia de trabalho, um e outro lusco-fusco, de velas e lampiões, ao longe nas janelas pequeninas. Lembro que alguém jogou uma pergunta na imensidão daquela noite. -Vale a pena tanto sacrifício? Afinal, eram noites e mais noites de estudo. Correu um leve silêncio, enquanto o vento soprou e esvoaçou os longos cabelos da nossa colega e trouxe um pouco do aroma da madrugada primaveril. Não houve resposta naquele momento, confesso que, até hoje, passado quase vinte anos, ainda não respondi. Após a formatura, o grupo se dispersou e nunca mais conversou sobre o assunto.

O Centro de Tecnologia ficou com uma boa parte de nossas vidas, foi lá que crescemos e amadurecemos como cidadãos conscientes. A engenharia em nossas vidas foi um pouco de tudo. Coleguismo, dedicação, solidão e companheirismo. Foi passeata, reivindicações, assembléias, greves, manifestações e eleições. Foi resistência, pois nossas mãos abriam cercas de arame farpado. Foi estudo, conhecimento, trabalho e força de vontade.

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