Se deixares, mergulho nos teus olhos oceano. Vou em busca da pedra, pérola que o tempo formou nas intempéries dos amores que negaste, na turbulência dos desejos reprimidos, nas crostas que a areia formou em teu coração fortaleza. Se deixares vou fundo para não mais voltar, afogo-me nas tormentas do teu ser tenebroso, teu corpo imenso e desconhecido, mesclo-me às entranhas afiadas, os recifes que encerraste sob o peito sereno e selvagem.
Deixa que vou desnudo, mergulho fundo no mais profundo dos sentidos. Vou desarmado contra tuas armadas, tuas frotas embriagadas de raiva e aflição. E desejo. Estou disposto a mergulhar sem defesa, sem pele, sem pelos. Se tu deixares então, menina, eu cuido de ti, embalo tuas vagas, oceanos, seios. Refresco-te com a brisa dos meus lábios marinheiros, com o canto dos pássaros de minha alma quando perto de ti. Misturo minhas águas às tuas, meus peixes e algas, falésias, rochas, corais. Se deixares velejo somente em tuas veias, deslizo pelo teu corpo unicamente meu de navegar. Infinito céu azul e alvo, tempestuoso mas sereno nos meus braços marcados de amor.
Meu mar, meu mel amar de tanto pensar até se gastar o ar do ar, a luz das estrelas que encerramos marinhas sob as retinas. Se deixares mergulho tão fundo que roço a alma, beijo teu espírito em um carinho lento, felino. Porque tu és a única mulher que em toda a vida amei, o oceano que me fascina e assusta, água que me aumenta a sede. Assassina submarina, caçadora minha que sigo a versejar.
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