I
A glória de viver pelo evangelho
São poucos que conseguem, cá na Terra.
É que as pessoas sempre estão em guerra,
E a guerra não se esquece, até bem velho.
Retornando ao etéreo, logo emperra
O sentido de ouvir o bom conselho
E chega-se a dizer: — “Eu só me espelho
No exemplo que me dá o Padre Serra.”
Responsabilidade é o que se quer
De cada ser humano consciente,
Pois quem recebe a vida de colher
Deve pensar em ser mais conseqüente,
Porque um errinho só, um mal qualquer,
O protetor amigo logo sente.
II
Não queira, pois, voltar a ser perverso,
Já que o passado nunca foi melhor.
Quem busca conhecer sabe de cor
Que o coração no mal esteve imerso.
A caridade deve ser maior,
Que o bem do amor é sempre incontroverso.
Quem leva a vida a flutuar, disperso,
Ao retornar, vai-se sentir pior.
Ouçamos a Jesus, primeiramente,
Que, no evangelho, está toda a lição,
No exemplo que, encarnado, deu à gente.
E quem quiser na fé dispor razão,
Não seja a Allan Kardec indiferente,
Que os bons, nestes caminhos, hoje vão.
III
No auge da jornada, pare um pouco,
Para pensar no bem que tenha feito,
E peça ao protetor, com fé, com jeito,
Que nunca há de fazer-lhe ouvido mouco:
— “Querido amigo, eu quero dar respeito,
Embora este meu som esteja rouco.
É que não sei se estou ficando louco,
Por desejar passar no beco estreito.”
Ao pôr as coisas tão honestamente,
Vão-lhe dizer que o bom é estar consciente
Das causas que motivam cada lida.
De que lhe adianta ter bom coração,
Se a mente não conhece qual razão
Que o faz agir assim, durante a vida?!
IV
Na dúvida que cresce em raciocínio,
Reside a base certa do progresso.
Aí, basta dizer: — “Eu não me expresso
Como manda o rigor do tirocínio.”
Se o coração for bom, já no regresso,
O protetor vai exercer fascínio,
Ao retirar, do fundo de um escrínio,
As jóias muito raras do sucesso.
Quem aplicar seu tempo em caridade
Não há de magoar ninguém no mundo
E o amor o coração em paz invade.
Aí, basta dizer: — “Não me confundo
Com as normas da lei que, um dia, há de
Depositar-se n alma, lá no fundo!”
V
Existe norma superior a tudo
Que temos dito nesta nossa rima,
Que cada ação no mundo mais sublima,
Muito melhor até que o nobre estudo.
Foi sugerida em verso mais acima,
Serve p ra proteger melhor que escudo,
Apropriada até p ra surdo-mudo,
Que poderá expressar a sua estima.
Não há segredo nessa regra de ouro,
Embora necessite da razão
Para tornar-se mais que um bom tesouro
Que a traça não nos rouba nem ladrão.
Para quem não se lembra, é grão desdouro:
É agradecer a Deus, numa oração.
VI
O estilo destes versos sofre muito,
Ao repetir-se sempre o mesmo som.
Vai perdoar o amigo o pouco dom,
Conquanto seja nobre o nosso intuito.
Em tempos clássicos, colher o fruito
Daria do perfeito o melhor tom.
Em tempos mais modernos, fica bom
Na rima provocar curto-circuito.
Parece de brinquedo o simples verso
Mas creia que é mui rude o sacrifício
De radicalizar nosso universo,
Para afastar de vez o extremo vício
De sempre ver na glosa mal perverso,
Deixando deste amor algum indício.
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