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Artigos-->ANTÕNIO NOBRE E O CLUBE DO SILÊNCIO -- 18/08/2010 - 23:11 (Francisco Miguel de Moura) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
ANTÔNIO NOBRE E O CLUBE DO SILÊNCIO



Francisco Miguel de Moura – Escritor, membro da Academia Piauiense de Letras



Procurei uma maneira de homenagear Teresina, no aniversário dos 158 anos, e me veio à lembrança um dos seus personagens atuantes, especialmente na segunda metade do século passado. Penso que mostrando, lembrando as pessoas que fazem a cidade e encarnam sua alma, além de fixar um sentimento, uma vida, fixa-se também a história de um burgo. E Teresina vai perdendo sua história recente, por falta de cronistas, de memorialistas. Escolho o livreiro Antônio Nobre, nascido em 20 de novembro de 1926 e falecido em 31 de agosto de 1986. “Homem probo e sincero, cordial, mas, em momentos, chegava a ser ríspido na defesa de suas idéias. Inteligente, prático e ao mesmo tempo sonhador. Sonhava com uma humanidade menos sofrida, mais preparada para a vida, mais educada e mais dotada de amor”. Isto eu disse, numa crônica publicada no “Jornal da Manhã”, em 5 de setembro de 1986. Agora acrescento: Era um homem do livro, não vendedor de best-seleres ou de cadernos e materiais escolares, embora isto não seja um desdouro. Antônio Nobre, o Nobre da DILERTEC (nome de sua livraria), viveu sempre de vender livros e bons livros. Não era apenas vendedor, lia muito. Não era apenas leitor, escrevia os seus pequenos escritos denominados crônicas/artigos, nos quais discutia assuntos polêmicos com certa profundidade. Poucos foram publicados, por causa da sua modéstia. Sua livraria, quando alcancei, pelos anos 1960, funcionava na esquina da Rua Coelho Rodrigues com a 13 de Maio, onde hoje está a “Ótico Itamaraty”. Pouco tempo depois mudaria para Rua 13 de Maio, ali pertinho, ao lado do Cine Royal. A mudança foi fácil, podia levar os livros na mão, de tão perto que era o novo endereço. E esse novo ponto se tornaria realmente uma espécie de clube da cultura, a LIVRARIA NOBRE, isto pelos anos 1970/80. Ponto estratégico, aos sábados (dia certo das reuniões), quem não ia para o cinema, aportaria à livraria do Nobre, onde havia livros, conversa, café e muita gente. Reuniões acaloradas, onde todos falavam e poucos escutavam. Cinéas Santos, participante assíduo, já apontando como um dos grandes divulgadores da cultura nesta Capital, chegou a apelidar de “Clube do Silêncio” a essas sabatinas.

Lembro, como hoje, ver chegarem estudantes, professores, senhores e senhoras em busca de livros, fossem para estudo ou apenas leituras ilustrativas e prazerosas. Pois lá havia de tudo, menos os best-seleres, que já eram vendidos nas bancas e em outras livrarias. Questão de honra – estes não seriam sua mercadoria. Também não vendia fiado, especialmente para o poder público, que não pagava ou, quando o fazia, o livro já perdera o valor pela inflação que nos corroia naqueles anos. Então, de pé, recebendo o cliente, Nobre perguntava:

- Qual é livro que deseja?

O freguês ou freguesa titubeava, titubeava e em seguida dizia:

- Ó seu Nobre, não me lembro!

Ele perguntava qual o assunto, mesmo assim nosso cliente nem sempre sabia explicar. E ele, já um pouco impaciente, fazia a última pergunta:

- Como é nome do autor, lembra?

Vinha-lhe a mesma resposta titubeante:

- Ah, seu Nobre, não me lembro!

Então, ele, no seu jeito característico, retrucava:

- Sem saber o nome do livro, o nome do autor, ou pelo menos de que trata, qual o assunto, não posso vender, infelizmente.

Esse tipo de diálogo entre Antônio Nobre e seus clientes, foi ouvido por mim muitas vezes. E hoje posso deduzir que Nobre via longe, foi um precursor, previu o que aconteceria logo mais: um computador e um “sistema” pelo que a busca de qualquer livro iria depender de um clique e não da sua memorização de títulos e tantos autores. Tal como é hoje. Previu também que as livrarias deveriam ser livres, abertas ao público, onde podemos ler e reler, e só comprar quando realmente temos certeza do conteúdo da obra, visto que já franqueava a entrada dos “habitués” ao interior de sua loja. Tudo exatamente como hoje, neste novo milênio.







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