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Contos-->Adeus Brasil -- 28/09/2002 - 22:44 (CARLOS CUNHA / o poeta sem limites) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


"Quero aproveitar e junto a publicação deste conto agradecer ao nosso digníssimo presidente da república Sr. Fernando Henrique Cardoso, pelo seu glorioso governo. Também quero homenagear ao Lula e a todos os outros candidatos a nossa futura presidência, pela integridade e a honestidade que tem apresentado em suas carreiras políticas.
Obrigado Brasil, terra amada e tão bem dirigida. Aceite o agradecimento deste saudoso exilado financeiro que politicamente tem muita vergonha de ser brasileiro."


Todo brasileiro conhece, já foi ou costuma ir a uma feira livre uma vez ou outra.
Em uma rua de um bairro, num lugar específico criado pela prefeitura e as vezes até em uma praça de alguma cidade, são montadas barracas na madrugada e por toda a manhã acontece o comércio das mais variadas mercadorias.
Grandes feirantes apresentam em suas tendas frutas, legumes e verduras frescas. As pessoas que nelas trabalham apregoam a qualidade e a vantagem dos seus preços aos gritos, numa concorrência acirrada:

- Olha o tomate freguesa. Ta no ponto pra se faze uma gostoza salada. É só dois reais a caixa. Vamos levar que ta baratinho.

- Quiabo pra faze refogado gente. Só cinqüenta centavos a baciada. Ta barato dona, vamos leva.

Sobre um tabuleiro de uma pequena barraca tem um monte de abacaxi maduro, com a casca ficando dourada, e o moço da banca, com sua faca na mão, apregoa enquanto descasca um deles:

- Aqui tem abacaxi madurinho. Ta gostoso e melado. Vamos experimenta que não paga nada.

As pessoas param em frente a uma barraca, apalpam os legumes e experimentam as frutas.
Vão de uma em uma a procura da mercadoria mais fresca e do preço mais barato.
Em uma feira livre você encontra de tudo. Sempre tem nela, além das grandes bancas, diversas pessoas que estendem um pano no chão para sobre ele apresentar as mais variadas bugigangas. Pimenta do reino, folhas de louro e os mais variados condimentos, carretéis de linha e agulhas, alpargatas e sandálias havaianas, papagaios de papel colorido, etc...
Nela você também nunca deixa de encontrar, além do passarinheiro que ali vende os animais que capturou e o fazedor de gaiolas com várias delas a disposição, sempre uma pessoa sentada em uma cadeira velha, que tem uma das pernas quebradas, com uma caneta na orelha e um bloco na mão.
Ele está ali para fazer o jogo do bicho para as pessoas que gostam de fazer uma fezinha.
O que não falta nessas feiras livres são os mendigos. Inúmeros pedintes vão a elas para implorar a caridade das pessoas e, em seu final, recolher os restos para matar a fome.


Quando eu morava no Brasil era um assíduo freqüentador delas. Todos os domingos pela manhã eu ia fazer a feira.
Ta certo que era uma desculpa para encontrar com os amigos e tomar uma cerveja, mas a minha mulher ficava contente de ver-se livre dessa obrigação e eu fazia o papel de bom marido.
Duas semanas antes de me mudar para o Japão, eu fui à feira acompanhado de minha filha.
Quando lá chegamos, a primeira coisa que ela fez foi me pedir o que toda criança pede quando vai a feira:

- Papai, eu quero pastel e guaraná, compra?

Fomos até uma barraca de salgados, em que eram vendidos uns saborosos pasteis fritos na hora, e pedimos dois deles. Eu pedi também uma cerveja gelada para tomar enquanto os comiamos.
Ao terminar de tomar uma segunda cerveja, e depois de ter comido vários pasteis, eu estava empanturrado. Peguei a metade de um pastel que ainda comia e o joguei no cesto de lixo.
Nessa hora eu me assustei, quando vi surgir um braço por trás de mim e apanhar o pedaço de pastel que eu tinha jogado fora.
Olhei para trás e o que eu vi me deixou chocado.
Era um homem ainda novo, mas que a vida havia envelhecido. De extrutura magérrima, ele tinha a aparência que só a fome e a miséria permitem que um ser humano venha a ter. Seu rosto encovado, com a barba há dias sem fazer, me olhava com dois olhos fundos e assustados, como se ele tivesse feito algo muito errado.
Ele falou com a voz cheia de pânico, parecendo que sentia medo de mim:

- Não fica brabo comigo não moço. Eu só peguei porque o senhor jogou fora. To com muita fome. Não acha ruim comigo não.

Meus olhos encheram-se de lágrimas.
Se eu tinha alguma dúvida quanto ao estar fazendo o certo ao deixar o meu país, para tentar uma vida melhor em outro lugar, naquele momento elas deixaram de existir.
Eu tinha decidido ir embora do Brasil e tinha certeza de que não ia me arrepender.
Ninguém se arrepende de deixar a sua terra, se nela os seus filhos passam fome e ainda se sentem culpados por isso.


CARLOS CUNHA
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