aqui, na cozinha,
com meus aromas e sabores,
minhas palavras encantadas,
saudades e poemas,
sou aquela que se umedece,
cata alegrias no pé de manjericão,
cozinha e toma vinho.
longas taças frescas, embriagadoras.
lá fora a chuva
perfumando o tempo.
pela janela, o balançar das folhas miúdas,
é o vento derrubando as sementes maduras,
são os passarinhos disparados,
buscando o abrigo.
eu não tenho abrigo
além desse fogo que me anima.
nada há que me aquiete.
nada que me faça silente e calma.
quando vem a chuva,
quedo-me.
a chama esconde-se,
mas está lá.
então, é na palavra que me alegro,
uma alegria doce e forte.
daquela que se sabe louca,
que ama a vida, sofre e sonha.
ah, quero envelhecer logo.
tornar-me a velha matrona pachorrenta.
penso que morro antes
e me divirto.
|