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Cronicas-->O samba do hermeneuta doido -- 21/07/2002 - 19:40 (Lindolpho Cademartori) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos







" Vou dormir e sonhar com Hannah Arendt, orgasmos supraluminares e nuanças heideggerianas em um hiperespaço hermenêutico. Quanto às mulheres bonitas, nem pensar..."


Pois bem: quando você opta - ou se contempla na ausência de opções - por gastar sua noite de sábado no diáfano esteio doméstico, é bom que esteja preparado para defrontar-se com os mais canhestros e ordinários clichês circunstanciais presentes em um ambiente que, embora comum, é submetido às mais forçosas transformações - e é você quem forja tais mudanças. Uma contemplação do relógio e a conclusão de que já passa das duas da manhã é acompanhada da certeza de que a insónia continuará a atacá-lo maciçamente, de modo que o único escape viável são seis latas de cerveja, a serem adquiridas na loja de conveniênica da esquina. Tem termo o prefácio. Os dogmas morrem e Hegel põe-se a verter lágrimas de frustração. Um erro por inteiro.
Na dita loja de conveniência, encontrei Daniel, colega de faculdade, e, ultima ratio, uma das raras cabeças pensantes, e, dizem os "entendidos", um intelectual "estranho no ninho" na Faculdade de Direito. Se mataram as tradições, a culpa é de Alexandre de Moraes, e não da Hermenêutica. E eu não tenho nada a ver com isso. O meu mundinho é novo, e, embora não admirável, é aprazível. A mim basta.
Vendo-me em posse de meia dúzia de cervejas, Daniel pós-se a comentar meu último texto, Mulheres bonitas não lêem Thomas Mann (mas lêem Kafka) (disponível em http://www.tribunauniversitaria.com.br/112mulheres.asp ). Disse-me o pretenso a ícone da transformação social que meus textos eram esparsos, subjetivos, retóricos e, grosso modo, desprovidos de utilidade prática e inúteis. Sinto-me na mais genuína obrigação de dizer que concordo com todos os aspectos da argumentação de Daniel. Sou avesso ao pragmatismo, minha pauta argumentativa é deveras subjetiva e meus arcos cognitivos são teóricos, niilistas, prolixos, e, porque não dizer?, inúteis e pejorativamente platónicos. Conclusão precípua: eu não devo mesmo querer transformar o mundo, e, portanto, não sou um intelectual. Nem nunca quis ser. Prefiro abster-me em sofismas verborrágicos e retóricas vazias, discorrendo sobre dogmas pseudo-profundos de que belas mulheres não lêem Thomas Mann porque não se interessam pela subjetividade filosófica da insanidade e pelo vínculo de Mann com o existencialismo heideggeriano.
Ocorre que eu não mencionei nada sobre o vínculo de Mann com Heidegger em minha crónica inútil e prolixa. Em verdade, optei por deixar tal aspecto implícito e de percepção volitiva, de maneira que o leitor que houvesse lido Heidegger perceberia o liame. Não sei se Daniel já leu Ser e Tempo ou Sobre a questão do Ser, e tampouco importo-me com isso, porque ele é um intelectual, e eu não. E chega de falarmos sobre Daniel. Prossigamos com as razões pelas quais indivíduos com vagina - à exceção de Hannah Arendt, que nem era bonita - detestam Thomas Mann, e, por conseguinte, Heidegger.
Que me perdoem as leitoras heterodoxas e os fariseus que se dizem não-machistas, mas, devo dizer, mulheres bonitas não querem ser compreendidas e tidas na conta de indivíduos singulares, detentores de características únicas, que devem ser respeitadas e preservadas. O que as belas mulheres querem, prefiro não dizer, mesmo porque não sei. Não sou um homem bonito, e, vez que a lógica prática assim preconiza, não tive ampla vivência com mulheres bonitas. Talvez eu devesse consultar meu irmão, homem de perfil estético admirável, e, no jargão popular das fêmeas, um "gato". Sei, porém, o que elas não querem: compreensão, singularidade e livros de Thomas Mann e Martin Heidegger. Ego, ego meu, existe alguém mais cretino do que eu?
N´A Montanha Mágica , o personagem central discorre, por intermédio de argumentações singelas, sobrea a sanidade e seu vínculo com a compreensão. Sem embargo, engendra uma argumentação concernente ao individualismo e às características singulares presentes na totalidade dos indivíduos, de modo que a compreensão e o respeito para com tais características são condições sine qua non para qualquer relacionamento genuíno com as pessoas. Vez que mulhers bonitas não lêem Mann, há de se concluir que elas simplesmente ignoram suas características externas à estética, e, portanto, não se importam com o próprio conceito de indivíduo. Como o presente texto não se arroga da pretensão intelectual de um tratado filosófico existencialista, as argumentações se encerram por aqui. Ato contínuo...
...Heidegger, a Hermenêutica e Daniel. Uma tríade epifànica e dantesca, tricotómica e transcendente da compreensão dicotómica. A Hermenêutica é historicista, Heidegger foi um gênio, e, acredita-se, Daniel é um intelectual promissor e candidato a sucessor de Heidegger na simbólica cátedra de gênio existencialista. Porque Daniel, ao que parece, discorda da minha argumentação, e, portanto, deve dispor de argumentos capazes de confirmar que belas mulheres querem se compreendidas e respeitadas, e não somente tidas na conta de carcaças de carne libidinosas e capazes de fomentar delírios orgásticos.
No crepúsculo, um pródigo folhetinesco. Narrei o episódio ao meu irmão, o de belo perfil estético, e ele me disse que eu deveria ter defendido meus argumentos com mais veemência. Pobre Felippe (meu irmão) !! Mal sabe ele que o meu zigoto conceitual-filosófico não irá vingar. E ele, assim como deve ter tido Daniel, tem experiência conjugal com mulheres bonitas. E são capazes de compreendê-las! De respeitá-las! E quanto a mim, imiscuído em minha ignorància cognitiva e pseudo-intelectual, resta-me tão-somente lamentar e me apegar aos meus dogmas tacanhos. Mas que mulheres bonitas não lêem Thomas Mann, não lêem mesmo. E tampouco Heidegger. À exceção de Hannah Arendt, que eu, preferencialmente esdrúxulo, acho belíssima. Mas ela não iria se interessar por mim, visto que sou um pseudo-intelectual bisonho que não quer transformar o mundo.

Lindolpho Cademartori

21/07/2002
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