Descobertura do Brasil
Lisboa, maio 1500
leal súdito
Pero Vaz Caminha
Li com atenção o fax com que Vosmecê informa as conseqüências da calmaria indesejada que resultou no aporte comunicado. “Navegar é preciso” mas viver numa terra como vosmecê descreveu é dose mais que justa para acreditar que “viver não é preciso”. Procuro avaliar vosso desgosto e entender vossa vergonha profissional. Este reino ignorará vossa desgraça e explicará devidamente à FMI – Força Mercante Internacional o porque do não reconhecimento real desse desastre.
Imagina vosmecê o quanto comprometeria nosso “ pib” (produção interna bacalhoeira) a inclusão do encargo de adotar essa terra e seu povo? E o quanto aumentaria nossa dívida com a referida fmi? Acho prudente e urgente que vosmecê levante ferro e continue buscando o caminho procurado nessa incursão. Mas tome a máxima precaução para que nenhum “a c m” se imiscua dentre a tripulação. Afaste-se pois pois o mais rápido possível.
Antes, porém, quero explicações mais detalhadas sobre os dados apontados em vosso fax. O que faz esse tal de ACM que vosmecê tanto fala? É aquele que vos disse que nessa terra é ele quem manda? O que vive em cima do muro e de lá fica provocando os caciquezinhos do entorno, dizendo controlar o FH (fuso horário). E o quê que as indiasinhas tem ? Vosmecê diz que dá gosto o quê que elas tem. A Rainha ficou curiosa.
Embora recomende armar os panos o quanto antes, espero que mande outro fax com mais detalhes dessa terra, desse cacique e do FH, do que elas tem e da tal de pimenta que, como disse, faz qualquer um chorar. Será útil trazer sementes para conhecermos. E, lembrei-me, prepare o terreno para que enviemos nossos renegados, para que se juntem ao tal de ACM como uma deferência real e fiquem por ai, acompanhando-o. Estaremos estabelecendo uma filial sem comprometimentos. Talvez, mais tarde, mande a Rainha para aí. Que os bons ventos os levem e o Supremo nos livre dessa terra e de seus a c m’s.
Sua Majestade o Rei
Manoel Joaquim