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Artigos-->Minha bola caiu d’m avião -- 13/07/2010 - 17:24 (João Rios Mendes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Hoje, 1º de junho de 2010, o Senado Federal homenageou os empresários José Alencar, João Claudino Fernandes, Jorge Gerdau e José Mindlin pela contribuição de suas empresas ao desenvolvimento econômico e social do Brasil.



Na solenidade, durante os discursos, descobri que o Sr. João Claudino Fernandes é o dono do Armazém Paraíba, uma grande loja de departamento no Nordeste. Eu não o conhecia nem sabia que ele era o dono dessa loja. Quando soube meu coração ficou pulando de alegria e deu-me vontade de abraçá-lo e falar para ele o que contarei agora.



No final dos anos 60, o Armazém Paraíba chegou em Caxias, Maranhão, minha cidade natal. Naquela época eu tinha uns nove anos de idade. Lembro-me com saudades que a cada aniversário seu o Armazém Paraíba fazia uma grande festa na cidade. No Cine Rex, passavam-se filmes o dia todinho e gratuito para quem quisesse assistir. Cantores famosos faziam shows, que eram comentados em toda a cidade. O que mais me encantava era um avião que passava soltando bolas que caíam no meio da rua, nos quintais, dentro dos riachos ou no rio Itapecuru. Às vésperas do aniversário do Paraíba, eu e meus amigos Brito, Jorge, Dodô, Caga-Moedas e meu irmão Nonato ficávamos no campinho planejando como ir ao cinema, ao show e, principalmente, como pegar bolas do avião.



O Nonato, que é um pouco mais velho que eu, nunca falava em shows ou pegar bolas. O negócio dele era os filmes. No dia da festa ele me ajudava a vestir roupa limpa, pegava-me pela mão, levava e me protegia de ser pisoteado no Cine Rex. Foi graças a ele e ao Armazém Paraíba que conheci os filmes do Fantasma – O espírito que anda, Giuliano Gemma e outros que não me recordo os nomes. Se alguém se lembrar, diga-me o nome do filme em que um homem despenca rolando de uma escada, com uma xícara de café na mão, numa casa bem mobiliada e quando chega embaixo, no primeiro degrau, o café está todinho na xícara. Ele não deixou cair uma gota sequer. Participam da cena duas ou três freiras.



No dia dessa festa eram exibidos e repetidos dois filmes o dia todo. O cinema ficava lotado de crianças e adultos. Era gente em pé, sentada no chão ou do lado de fora tentando achar uma brecha para entrar.



A outra festa da meninada era quando o avião passava jogando bolas. Saíamos todos correndo no rastro delas e as pegavam aqueles que tivessem mais sebo nas canelas e fosse mais forte para empurrar a gente na horinha de botar a mão na gorduchinha.



À noitinha, reuníamo-nos no campinho em frente a minha casa para contar as aventuras daquele dia maravilhoso. Sofregamente, de uma só vez, todos queríamos falar as nossas experiências. Eu sempre falava dos filmes e que nunca conseguia pegar uma bola. Dentro de mim havia uma tristeza danada por não conseguir pegar uma bola para jogar com o Nonato. Sempre jogávamos com as bolas de meia que ele fazia.



Eu acompanhei essa farra por uns três anos antes de mudar para Brasília. No último aniversário que passei lá, fiquei a manhã inteira no cinema e voltei para casa para almoçar, contando com a boa vontade da minha mãe para me deixar voltar junto à molecada. Almocei e fui ao banheiro – lá nós chamamos de sentina¹ –, que ficava no fundo do quintal. Eu estava agachado e concentrado fazendo minhas necessidades quando ouvi o barulho de um avião e a gritaria da meninada. Era sinal que o avião estava soltando bolas. Foi nesse instante que ele sobrevoou meu quintal e ouvi um tum ao lado do banheiro. Sai com o calção nos calcanhares e pude ver uma linda bola quicando bem alto de alegria no meu quintal. Ela era bem redondinha e vermelha com o símbolo do Armazém Paraíba escrito em branco, e cheirosa. Quando meus irmãos mais novos viram que a bola tinha caído em nosso quintal correram ao meu encontro e corri à procura do meu calção e de água para me lavar.



Trinta e oito anos depois conheci o homem que me deu uma das maiores alegrias da minha infância. Já que não pude contar a ele essa história, conto a vocês, mas farei chegar até ele.



No momento em que finalizo este texto passou sobre minha casa um avião de barulho parecido com aquele. É de um morador ilustre que mora numa chácara não muito longe da minha casa. Ah se eu pudesse descrever o sentimento de ouvir o barulho desses aviões!



Sr. João Claudino, receba esta homenagem de um menino pobre cheio de sorte.









Obs.: Endereço do Armazém Paraíba na internet http://www.armazemparaiba.com.br/lojas_index.php



¹Sentina – buraco cavado no chão, coberto com umas tábuas com um furo no meio onde a pessoa fica agachada para fazer suas necessidades fisiológicas. Em busca de definições sobre sentina achei este belo artigo na internet

http://www.nordestevinteum.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=26:a-sentina-de-ouro&catid=19:no-alpendre)



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